Bielsa em Santos

OPINIÃO31.03.202206:55

A razão do sucesso de Fernando Santos não está no crucifixo no bolso (ou na sorte...)

Meu caro Fernando Santos: 

SEI que conhece a filosófica resposta do Marcelo Bielsa a quem lhe solicitou a forma de analisar um bom treinador:  
– … para esse tipo de análise, prescindo dos resultados e examino métodos.
No seu caso, os resultados são cada vez mais eloquentes - não havendo, na história do futebol em Portugal, quem tenha ganho com a seleção o que você ganhou - havendo, porém, quem não tivesse sucesso que se assemelhe ao seu, tendo Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travaços e Albano (e mais alguns assim); tendo Eusébio, Coluna, Águas, José Augusto e Simões (e mais alguns assim); tendo Damas, Humberto, Alves, Oliveira e Jordão (e mais alguns assim); tendo  Bento, Carlos Manuel, Gomes, Chalana e o Futre (e mais alguns assim); tendo  Baía, Couto,  Paulo Sousa, Rui Costa e  Luís Figo (e mais alguns assim…)
É, também foi Bielsa que descobriu:
… quem ganha não deve preocupar-se em ir à procura das razões, que há de haver sempre alguém a inventar teorias para o justificar…
e, no seu caso, meu caro Fernando Santos, são mesmo os métodos que vão dando nos resultados que sabemos - e os métodos não têm nada a ver com a sorte que alguns afirmam que lhe sobeja - ou com o crucifixo que leva para o campo no bolso das calças. Isso viu-se bem no modo como mexeu na equipa (e na sua tática e nas suas dinâmicas) para ganhar à Turquia e á Macedónia.
Lembrei-me agora: é, todavia, numa outra espirituosa afirmação do Bielsa que eu encontro a melhor metáfora para a razão seu sucesso, dos seus resultados:
Nós, os treinadores, podemos cometer dois pecados: fazer andar os jogadores que voam ou fazer voar os jogadores que andam. E eu penso: se tiver de ir para o inferno que seja pelo segundo…
e, o que, para mim, você vai fazendo assim, fá-lo mais com a sabedoria de um Einstein ou com a subtileza de um Freud – do que com os dotes milagreiros de Cristo ou da Senhora de Fátima (até...)