Benfica, vê
No que toca ao Benfica na Champions, há uma diferença entre apostar na formação e jogar com os juniores, conforme mostra a a percentagem de derrotas nas três últimas fases de grupos, 75 por cento, quatro vezes mais que a das restantes equipas também em prova neste período, 19 por cento. Ou seja, entre os clubes com rotineira capacidade nacional para ir à prova o Benfica é quatro vezes pior.
Será o clássico sinal dos tempos mas é agora que convém perceber razões, ou para contrariar os tempos ou aceitá-los. Para os contrariar é simples: investir, comprar melhor, encontrar um mais razoável espaço entre aproveitar a formação e insistir no projeto, sim, porém não ao ponto de, num nível de elite, cair no embaraço de parecer jogar com os juniores.
Já aceitando os tempos, o Benfica verá evaporar-se um pouco da alma de cada vez que for à Champions, em corpo presente, a portar-se assim. Olhos que não vissem seriam corações que não sentiriam, como diz o provérbio, síntese de uma confortável ignorância que, ademais, talvez até levasse alguns a desejar, se é para isto, que o Benfica não fosse, de todo, à Champions. A verdade, em todo o caso, é que essa complacência, essa aceitação, seria uma derrota definitiva e nunca um remédio, claro.
Se quem manda no Benfica preferir, um dia, realmente não ir para não perder, não ver para não sofrer, a frase de desconhecimento que merecerá ouvir como conselho será uma de Sócrates - o filósofo grego, não o ex-PM, que anda a explicar ao tribunal a riqueza de toda a gente à volta dele para explicar também a própria - e que, como toda a gente sabe, é: «Só sei que nada sei.» Porque esta não representa ignorância conformada, antes a vontade de aprender - e convirá sempre mais ao Benfica do que o outra ideia, apaixonada, magoada e presa ao passado, aquela dos olhos que não veem. Que no Benfica vejam o que toda a gente vê: quatro vezes pior.