Bela lição da águia
Cavani não veio, e foi melhor assim, mas chegaram Darwin Núñez, Waldschmidt e Everton, três importantes contratações, autênticos craques e jogadores de seleção, que vieram acrescentar qualidade ao plantel do Benfica, por serem verdadeiros reforços, ao contrário da maioria que apenas acrescenta quantidade e despesa a quem contrata.
Anteontem, em Vila do Conde, não foi só a intensidade ofensiva da águia a transformar um jogo que se adivinhava de enorme grau de dificuldade num voo tranquilo para cumprir calendário. O segredo do sucesso residiu na sua consistente organização coletiva, como ainda não se observara na presente temporada. Pelo contrário, o jogo com o Farense, na jornada anterior, provocara muitas dores de cabeça entre a família benfiquista, intrigada com a falta de resposta firme perante o atrevimento de um opositor consciente das suas limitações, mas diligente no estudo e exploração das fraquezas encarnadas, uma extensão do passado recente e que custou ao clube (só!) dois campeonatos.
Era esse Benfica confuso, atrapalhado e acomodado que o Rio Ave esperava receber, mas as sirenes voltaram a ouvir-se na Luz devido ao facto de Sérgio Vieira, o treinador farense, e os seus jogadores terem demonstrado, logo à terceira jornada, que o coletivo encarnado continuava a ser uma espécie de árvore de fraco tronco para segurar fortes ramos.
Mário Silva, o treinador vila-condense, esfregou as mãos e preparou-se para semelhante cenário, mas Jorge Jesus mudou tudo e trocou-lhe as voltas, apresentando um Benfica nunca antes visto, na atitude, na estratégia, nas dinâmicas, naquilo que se quiser destacar, mas surpreendentemente determinado, que proibiu o Rio Ave de jogar. Como frequentes vezes refere o professor Jorge Castelo, nas noites de A BOLA TV, uma coisa é contratar para reforçar um plantel, outra é contratar para preencher lugares em falta. Percebe-se a diferença…
Varandas a mais
O primeiro clássico da temporada 2020/2021 teve atrevimento e foi condimentado com quatro golos que justificaram amplamente os festejos, dentro de campo e nos muitos milhares de sítios onde o jogo foi seguido pela rádio e televisão.
Creio que o FC Porto não esperava um Sporting tão ousado e convencido de que poderia sair por cima, sobretudo a partir do minuto nove, quando o fantástico pontapé de Nuno Santos colocou o leão na frente. O dragão abanou, mas não acusou qualquer sinal de fraqueza. Reagiu e deu a volta ao resultado. Tudo normal ao intervalo, aparentemente. No pensamento de Conceição, faltavam 45 minutos para controlar e sair vitorioso de Alvalade, não se desse a inesperada resposta de um leão revoltado com a história do jogo, que tomou conta da segunda parte e que, em nome do mérito e da verdade, alcançou o empate ao cair do pano.
No final, falaram os treinadores, como é normal. Mais sério e incomodado Sérgio Conceição, mais sereno e descontraído Rúben Amorim. Ambos expuseram as suas razões, não coincidentes, obviamente, e deixaram os recados que entenderam. Cada qual no seu estilo e, em função das circunstâncias, com Rúben a sair-se melhor do que Sérgio em termos de clareza na transmissão das mensagens.
Pena foi que Frederico Varandas, o presidente leonino, tivesse estragado tudo. Falta-lhe o jeito, é do conhecimento público. Quis dar um ar de forte e acabou por fazer figura de fraco. Não havia necessidade, até porque o seu treinador já se tinha pronunciado sobre a questão mais agitada do jogo; e fê-lo com a devida ponderação.
Sorte zangada
Àquarta jornada, o Portimonense conseguiu a sua primeira vitória na Liga portuguesa. Já podia ter acontecido antes, mas, erros e desempenhos menos competentes à parte, a sorte parece andar zangada com os algarvios desde a época transata, depois de nas duas anteriores ter dado boa conta do recado, primeiro com Vítor Oliveira e depois com António Folha, este que estendeu a sua colaboração até ao virar de página do último campeonato.
Por essa altura, o Portimonense era o penúltimo da classificação e nessa posição se manteve até à derradeira jornada, apesar de, entretanto, ter sido contratado Paulo Sérgio para descortinar uma solução para o problema. A despromoção foi evitada não pelo número de pontos, mas pela exclusão administrativa do Vitória de Setúbal. Escreveu-se direito por linhas tortas ao proteger quem, de entre os dois, justificava manter-se na divisão principal: aliás, o emblema algarvio quase se transformou em caso de estudo, dado não haver correspondência entre o seu nível exibicional e o pecúlio pontual obtido.
«Podíamos ter conquistado mais alguma coisa nas primeiras três jornadas, mas o facto é que viemos para a quarta com apenas um ponto», palavras resignadas de Paulo Sérgio, provavelmente ele próprio sem uma explicação para os motivos pelos quais uma equipa que joga bem e com prazer não se liberta do fundo da classificação. Pode ser que este impulso seja o sinal que faltava para recolocar o Portimonense nos lugares seguros que a robustez do seu futebol solicita.