‘Azar’? ‘Sorte’?

OPINIÃO09.01.202003:00

ALÍVIO! Intenso! Foi o que sentiram Benfica e FC Porto à saída de Guimarães e de Alvalade. Porque ultrapassaram duros obstáculos - e ambos tendo passado por fortes calafrios, pertinho de falharem sucesso.

Levados da breca, este Vitória e este Sporting. Personalidade/audácia para discussão taco a taco, muito assustando a dupla de onde, mais uma vez, ponto assente ainda tão longe da meta!, sairá o próximo campeão. Nestes confrontos, bem próximos deles estiveram… fazendo parecer absurda a bárbara distância pontual. Só que, mesmo num dia de aparente grande equilíbrio, acabou por se impor a magna questão de fundo…: potencial para capacidade… permanente.

Houve azar de quem perdeu, sugerindo injustiça? Quanto a mim, não. Houve sorte de quem, muito sofrendo, venceu, segundo alguns não merecendo? Um bocadinho, sim. A sorte do demérito de adversários que, construindo várias oportunidades de golo… as foram esbanjando (flagrantíssimo em Alvalade).

Por aí, menos injustiça para o Vitória (atacando muito, foi esbarrando em firme defesa). E mais sorte para o FC Porto (durante 20 minutos, defendeu mal, nada menos de 4 ou 5 vezes milagrosamente escapou a 2-1… - só inépcia sportinguista, baliza escancarada, lhe valeu).

Benfica tão pálido! Soube defender e soube sofrer - por aí quase se ficando… Totalmente bloqueado pela excelente organização do Vitória, com audácia prá-frentex, passou 70 minutos de dentes cerrados (meio campo e retaguarda) para aguentar vantagem alcançada no pontapé de Cervi, tão inesperado porque… com o pé direito!

FC Porto. Precioso arranque de jogo: maravilhosa execução de Corona num lançamento muito longo e cruzado (da direita, com o pé esquerdo) para o possante e veloz Marega dali varrer Ristovski e Coates. Depois, tranquilo controlo do jogo, até à beirinha do intervalo (sprint e balázio de Acuña, 1-1) e aos tais posteriores 20 minutos em consecutivos, e enormes, sustos! (derrota à vista). Seguindo-se a capacidade de deles sair e… ganhar (dela adiante falarei). Sérgio Conceição reconheceu: «Campeões também se fazem de alguma sorte num jogo.» Não se coibindo de lançar remoque ao Benfica…: «Ontem vimos o V. Guimarães fazer grande jogo e não merecer perder.»

REGRA praticamente imutável: as mais poderosas equipas têm os melhores jogadores (ou estes, com bons técnicos, formam as equipas mais fortes). De tão óbvia lógica resulta colossal (!) distância em pontos de Benfica e FC Porto para Famalicão, Sporting e por aí abaixo. Até em dias de aliciante taco a taco, como estes em Guimarães e em Alvalade, essa foi a diferença… decisiva.

Repare-se: também no Sporting, quem foram os principais protagonistas naquele período em que grande reviravolta esteve tão à vista? Acuña (Acuña, Acuña, Acuña… e ainda Acuña) e Bruno Fernandes. Nadinha de novidade…

GOLOS portistas. Não foi por sorte que Corona e Alex Telles colocaram a bola milimetricamente (nisso há muito são peritos) e que a pujança atlética de Marega e Soares se impôs nos golos. Zero de acaso: nos 30 golos portistas em 15 jornadas, nada menos de 16 (mais de metade!) em dita bola parada - 9 deles em pontapés de canto... Saber colocar a bola (Alex Telles, o rei) e ter quem (muitos…) no poder de choque e nas alturas arrase defesas. Cada vez mais… fundamental.  

TÁTICA (e quem para ela…). O que Sérgio mudou, em cheio; e o que Silas tentou, em vão… Não foi por alteração tática que, segundos depois, Soares foi lá acima desempatar. Mas Sérgio, embora com algum atraso, acabara de ver bem o perigo projetado pelos laterais Acuña e Ristovski. Bastou uma substituição (diabrete Nakajima, precioso, estava esgotado): de uma assentada, lançando Díaz na esquerda, bloqueou aquele flanco, e, mudando Marega para a direita, travou ímpetos de Acuña. Quase no fim, saindo Otávio, somou a pujança de Sérgio Oliveira à do durão/altamente competitivo meio campo Danilo-Uribe.

O tudo por tudo de Silas, pondo em campo meninos Camacho e Plata, somando-lhes, nos derradeiros minutos, o mal disposto Jezé, fez sentido…; mas desorganizou, também porque o plantel é… o que foi possível. Lá está: crucial diferença. E dela resulta certeza: Sporting voltará a não ter crucial Champions/catadupa de milhões.