As três estrelas de um campeão
Frederico Varandas, Rúben Amorim e Sebastián Coates, as três estrelas que elegemos como as mais decisivas no título do Sporting
C OMO diria George Orwell, acaso tivesse escrito, além do seu emblemático Triunfo dos Porcos, o Triunfo dos Campeões Improváveis, todos os sportinguistas foram iguais no mérito do triunfo, mas uns foram mais iguais do que outros. É da lei da vida e, sobretudo, da natureza humana, que desmente, em cada dia, essa ideia mais utópica do que revolucionária, de uma igualdade absoluta entre gente tão diversa.
De facto, muitos foram os sportinguistas influentes neste título histórico, mas alguns deles merecem destaque especial. Escolhemos três casos, que não são três acasos. Todas as escolhas são subjetivas. Como neste caso, em que optámos, apenas, pela escolha de três estrelas principais. Outras foram também brilhantes, como o guarda-redes Antonio Adán, um caso de impressionante maturidade e eficiência, ou o jovem (18 anos) Nuno Mendes, que eu considero o jogador revelação do Campeonato. No entanto, por três estrelas nos ficamos na seleção final.
F REDERICO VARANDAS. Entre todos, o maior responsável pelo sucesso do Sporting. Porque o presidente é, sempre, o responsável de tudo o que de bom e de mau acontece num clube.
O futebol tem memória curta, mas não será difícil recuarmos ao tempo, ainda recente, em que Varandas era duramente contestado e pressionado a demitir-se, acusado de incompetência na escolha dos treinadores, que se sucediam sem aquecer lugar. Até que o médico militar que chegou à presidência de um Sporting dividido e conflituoso, apenas com pouco mais de 42 por cento dos votos, decidiu atirar uma enorme pedra para o charco. Pegou em dez milhões de euros e foi a Braga pagar o valor da cláusula para trazer Rúben Amorim, entregando-lhe o lugar de treinador principal. Para um clube a viver evidentes dificuldades financeiras e sem resultados desportivos, a ação de Varandas foi vista como um erro colossal, que iria provocar o seu afastamento da liderança. Mas Rúben, apesar de contestado pela corporativa e errática Associação de Treinadores e das reservas levantadas pela sua juventude (36 anos), logo conquistou a Taça da Liga e atreveu-se a um ano irrepreensível com a conquista do campeonato nacional.
A escolha de Varandas acabaria, assim, por se revelar decisiva e a ele se deve atribuir a primeira estrela deste título de campeão.
RÚBEN AMORIM. a segunda estrela deste Sporting campeão. A primeira experiência, como treinador, no Casa Pia, já tinha dado sinais interessantes da sua capacidade como líder. António Salvador, um dos mais atentos observadores do fenómeno do futebol, levou-o para Braga e quando o promoveu à equipa principal defendeu-se com uma cláusula de 10 milhões. Varandas tinha-o, porém, debaixo de olho e arriscou uma jogada improvável. Rúben pegou na oportunidade, construiu um grupo com gigantesco espírito de equipa e comandou as tropas até à vitória final.
Rúben Amorim e Frederico Varandas
S EBASTIÁN COATES. Uruguaio de Montevidéu, 30 anos de idade. Está no Sporting desde 2016, depois de ter passado por uma experiência pouco impactante no futebol inglês. Este ano, capitão da equipa, foi o grande líder, com ação fundamental na coesão da equipa e no exemplo que o tornaram absolutamente determinante em alguns jogos que pareciam ter nós impossíveis de desatar. Foi o jogador do campeonato. Imperial a defender, comandante enérgico e, ainda, nas emergências, goleador decisivo.
A TENTAÇÃO DE DAR TIROS NOS PÉS
O Governo tem sido errático nas suas decisões sobre a pandemia, mas em nada se tornou tão claramente inconsequente como no futebol. O primeiro e fundamental erro foi o de não fazer acreditar, à Direção-Geral da Saúde, que os responsáveis pelos órgãos de decisão, como a Federação e a Liga, são pessoas responsáveis e competentes e não se confundem com a perceção que o mundo exterior tem deles. Daí que as decisões (incluindo as da festa sportinguista) tenham mostrado irresistível tentação para se darem tiros dos pés.
CONTROLAR A FESTA NO ESTÁDIO
A ser verdade que a PSP alertou quem de direito para a necessidade de se organizar a festa do Sporting dentro do estádio de Alvalade, só prova que as decisões políticas devem sempre ter em conta quem conhece o terreno e quem sabe do que fala. Essa era, de facto, a decisão correta, porque era a única que permitia enquadrar e controlar o que, fora do estádio, seria sempre incontrolável. A alternativa de se consentir um ecrã gigante junto ao estádio e o tardio passeio lisboeta do autocarro dos campeões revelou-se desastrosa.