As palavras de Varandas

OPINIÃO30.05.202207:30

Presidente do Sporting tem uma forma diferente de comunicar. À bruta, sem ironias. É corajoso mas é ainda mais perigoso

FREDERICO VARANDAS andou três semanas a fermentar enquanto ouvia Pinto da Costa citá-lo quase todos os dias - muito fala o presidente do FC Porto quando ganha... -, de forma mais ou menos direta, com a ironia que, há tantos anos, o caracteriza e que tanta gente parece divertir há uns 40 anos. O problema é que, já se percebeu, Varandas tem uma forma de comunicar diferente da de Pinto da Costa. Talvez pela sua experiência militar, o presidente do Sporting manda a ironia às malvas e parte para o ataque. À bruta. Depois do episódio do «bandido» e dos reparos em plena sala de Imprensa do Estádio do Dragão, Varandas foi ontem mais violento, levando o discurso para níveis ainda mais desagradáveis. Haverá, claro, quem concorde com o presidente do Sporting e o elogie pela coragem (que, já se percebeu, é de facto coisa que não lhe falta) e haverá quem lhe aponte o dedo e o acuse de estar, apenas, a desviar a atenção para o que correu mal esta época. Dependerá, claro, sempre do clube que defende quem ouve as declarações. Como sempre.

Para quem, contudo, olha para as coisas com alguma equidistância, é difícil aplaudir as palavras de Frederico Varandas, porque não será assim que o presidente do Sporting irá pacificar o futebol ou o desporto português. Pelo contrário, o que Varandas fez foi incendiar ainda mais o ambiente entre dois dos principais clubes portugueses, que se defrontam muitas vezes por ano nas mais diversas modalidades. E não quererá, o presidente do Sporting, ficar com peso na consciência se um dia uma tragédia acontecer num qualquer estádio ou pavilhão num jogo entre Sporting e FC Porto. São (concorde-se ou não com  elas, repito) palavras demasiado perigosas, em especial tendo em conta a forma como os adeptos, de todos os clubes, sentem os ataques aos seus presidentes como se lhes fossem dirigidos a eles.

Ainda assim, e deixando para os tribunais (de certeza que é aí que o assunto será resolvido) o julgamento das declarações de Frederico Varandas, não embarco no discurso de vitimização que por certo se seguirá. Nem de Pinto da Costa, que, com mais ou menos dose de ironia, já fez o mesmo, nem de um clube que tem um diretor de comunicação que insulta de forma gratuita jogadores, treinadores, dirigentes ou jornalistas (como fez ainda esta semana) de forma absolutamente gratuita. Quem quer respeito deve, primeiro, dar-se ao respeito. Foi o que sempre me ensinaram.

RUI COSTA não teve um início de presidência fácil no Benfica. Além de tudo aquilo com que teve (e ainda tem...) de lidar depois da conturbada saída de Luís Filipe Vieira e da ainda mais conturbada herança deixada pelo antecessor, os resultados do futebol profissional deixaram, a nível interno, muito a desejar - e todos sabemos da importância que os resultados da equipa principal de futebol têm para qualquer presidência de um clube como o Benfica. Mas, e porque o clube da Luz é muito mais do que apenas o futebol profissional, convém neste momento lembrar que desde que é presidente do Benfica, há mais ou menos oito meses, Rui Costa já celebrou duas conquistas europeias: a Youth League no futebol de formação e, ontem, a Liga Europeia de andebol. Dois títulos históricos que devem encher os benfiquistas de orgulho e aos quais o presidente fica intimamente ligado, porque se quando a equipa de futebol perde se apontam os deméritos do presidente, quando as outras ganham, para ser justo, há que lhe dar crédito. Talvez não seja suficiente para lhe dar paz, mas pode ser um começo. E quem vê Rui Costa a celebrar nas bancadas como o vimos ontem, percebe que é apenas uma questão de passar o seu benfiquismo, e a sua inegável vontade de vencer, a todos os que, seja em que setor ou modalidade for, representam o clube. É mais fácil do que parece.