As novas disputas

OPINIÃO28.10.201803:00

1 Por cá, e neste regresso aos pontos difíceis da nossa Liga, e após o jogo de ontem no emblemático Estádio Nacional - num largo final de tarde de vento intenso também na zona do Jamor - em que o Benfica não ultrapassou a SAD do Belenenses - já que o clube só joga no âmbito competitivo da Associação de Futebol de Lisboa - e não chegou, por perturbante e dolorosa culpa própria, à liderança isolada da Liga NOS, constatamos a revelação que é o Santa Clara , a dupla vitória do Portimonense afastando a desilusão do afastamento da Taça de Portugal e a situação bem complicada de Nacional e Desportivo das Aves. E hoje teremos no Dragão e em Alvalade o regresso à competição das duas outras marcas que representam Portugal nas duas competições europeias de clubes. E, assim, se entre nós está sedimentada a Liga principal acredito que uma disputa próxima passará, ou não, pela manutenção da segunda Liga como competição profissional, pela continuidade da Liga Revelação e pela extinção, ou não, a prazo das equipas B. E esta luta, que antecipo, não deixará de envolver, de forma indireta, o campeonato nacional de seniores. Afinal a reformulação dos modelos competitivos do futebol português, tantas vezes anunciada e tantos anos adiada.

2 No âmbito externo, e como consequência do Congresso da FIFA que decorreu esta semana na capital do Ruanda, Kigali, percebemos a disputa intensa entre a FIFA e a UEFA acerca do nascimento, sob a égide da FIFA, de um Mundial de Clubes que seria (será?) um direto concorrente da europeia Liga dos Campeões. Para já o projeto foi para uma «discussão aprofundada». A mesma que, em termos similares, ocorre no âmbito da UEFA, e suscitada pela Associação da europeia Liga de Clubes, e que tenta diminuir o peso das quatro grandes ligas na fase de grupos da Liga dos Campeões. E assim se sente a relevância do futebol como âncora dos novos produtos que a indústria do prazer - que já não apenas do espetáculo - quer ter na sua forte e atrativa carteira . E daí que o futebol chegue às novas plataformas digitais, com todas as consequências para os operadores televisivos que pensam, e bem, na verticalização dos seus produtos. Mesmo que certos reguladores, literal e normativamente condicionados, não tenham capacidade para antecipar o próximo - futuro. Como é, entre nós, a Lei da Televisão, mas também a ERC, a ANACOM ou a Autoridade da Concorrência. E tudo se vai manter, antecipo, apesar da capacidade e da vontade da nova Ministra da Cultura - que vivamente cumprimento já que lhe reconheço visão, modernidade e sentido estratégico -, já que viveremos um intenso ano eleitoral. E estas matérias não são nada fáceis… em tempo de eleições. Europeias e nacionais!

3 Uma outra luta, e que afeta milhares de consumidores portugueses, tem que ver com o acesso aos principais jogos de futebol da Europa. Quem assinou a Sport TV acreditava que teria acesso às principais ligas europeias, incluindo a Liga dos Campeões. E acreditava que a Sport TV tudo faria para lhes proporcionar esses produtos. Em razão da sua fidelidade, razão do crescimento e da manutenção da empresa. Hoje decorre um universalmente atrativo Barcelona - Real Madrid. A Eleven, a nova e motivadora plataforma, detém os direitos da Liga espanhola. Como os da francesa. Como os da Liga dos Campeões. E perante esta nova indústria do prazer, que não apenas do espetáculo, temos acrescidas despesas sem que tenha sido alterado o preço de assinaturas da Sport TV. Que proporciona golfe, motociclismo, por ora Fórmula 1 e as ligas que estavam esquecidas no seu cardápio, como a chinesa ou a turca. E, assim, sem que os reguladores digam algo - ou sejam sem que sejam, aqui, proativos! - temos o regresso aos tempos iniciais da Sport TV. Temos mesmo. Como a curto prazo, e em razão de novas (velhas alianças!), todos irão perceber. Incluindo alguns clubes - mesmo certos ditos grandes! - que andam distraídos ou… então são coniventes com estas novas (velhas) alianças. Que aí estão, sob a capa de novos e interessantes produtos!  

4 Uma outra luta, interna, tem que ver com a manutenção ou larga reformulação do Tribunal Arbitral do Desporto. Os interesses, subtilmente difusos, multiplicam as suas atividades, os seus seminários e as suas naturais perplexidades. E os seus dizeres! E há seminários intelectualmente orientados e em que, mesmo em instalações de instituições de referência do nosso desporto, o pensamento único domina e, sob a capa das orientações subjetivas do organizador do evento/ seminário , só se convidam oradores que pensem de maneira conforme. Como certo Brasil está tão perto de nós… Bem perto! Ali ao virar da esquina… Mesmo ao pé da Cruz Quebrada!!!  

5 Outra luta, esta mais relativa, terá que ver com a crescente afirmação do futebol feminino e com a consciência por parte dos principais clubes, seus adeptos e novos patrocinadores que o futebol inclusivo determina, a curto prazo, crescentes orçamentos. O Barcelona, o Real Madrid, o PSG, o Bayern ou o Lyon já têm orçamentos para o futebol feminino que vão dos três aos oito milhões de euros. E os espectadores nos estádios estão a crescer todos os anos. Em rigor neste âmbito tudo cresceu mais nos últimos cinco anos do que nos últimos trinta! O Benfica já o percebeu, e bem, e está a fazer uma aposta séria, acompanhando Sporting, Boavista, Marítimo, Estoril e Sporting de Braga. E o Futebol Benfica, o Valadares- Gaia, a Ovarense ou o Clube Albergaria, entre outros, vão resistindo. Mas as grandes marcas do futebol português vão, também elas, dominar, a curto/médio prazo o futebol feminino em Portugal. E eu não esqueço, por ter acompanhado de perto, a década gloriosa do 1º. Dezembro, ali nesse palco singular e único, verdadeira paisagem cultural da Humanidade, que é Sintra.  

6 Luta foi a construção do Estádio da Luz. Contra um estádio municipal em e de Lisboa o Benfica avançou, acreditou e construiu. Com o empenho de Luís Filipe Vieira e Mário Dias e com a anuência de Vítor Santos, Humberto Pedrosa, Manuel Vilarinho e José Guilherme, entre outros relevantes benfiquistas. Luta quotidiana tem Cristiano Ronaldo. Cada jogo é mais uma vitória. De querer e força. De entrega e de vontade. Com golos do outro mundo, como o de ontem frente ao Empoli. Que vale a pena ver e rever. Aqui, e por ser de justiça, na Sport TV.

7 Aquilo que aconteceu com os adeptos do Braga em Guimarães não é luta. É ou incompetência ou vergonha. E esta envolve, sempre, um desagradável sentimento. Que se sente ou se virá a sentir a bem curto prazo!