As claques, a formação e o futsal

OPINIÃO06.05.201901:04

«Quem é o Fernando Madureira para se comportar como o dono não oficial do FC Porto?» Talvez a pergunta colocada nas páginas de A BOLA por Miguel Sousa Tavares poucos dias depois do destemperado comportamento do líder dos SuperDragões no final do encontro com o Rio Ave fosse, apenas, retórica. Mas o que se passou após o final da partida com o Aves, em pleno Estádio do Dragão - de onde a equipa de futebol saiu com uma goleada que mantém as esperanças no título e a claque oficial do FC Porto com uma vitória inequívoca no braço de ferro com técnicos e jogadores, forçados a voltar ao relvado 15 minutos depois de o terem abandonado sem lhes passarem cartão para acalmarem a contestação - deve, porventura, motivar uma reflexão mais profunda. Não sobre o caso de Fernando Madureira e dos SuperDragões em concreto - esse é um problema que a Direção do FC Porto terá de resolver, se entender que há, de facto, alguma coisa para resolver -, mas sobre a importância que as claques de uma forma geral (em especial a dos principais clubes) ganharam nos últimos anos em Portugal.
Discutir se as claques devem ser legalizadas ou não é, percebe-se, redutor. O problema é mais profundo e mostra como em Portugal teimamos em andar em contramão com o que de melhor se faz lá fora, onde os grupos organizados de adeptos (oficiais ou não) vão, por força de um futebol cada vez mais virado para o espetáculo, perdendo protagonismo. Por cá, pelo contrário, parece que vão ganhando força, amparados por apoios, legais ou encapotados, que lhes permitem crescer. Primeiro em número, depois, e por consequência, em poder. Sejamos claros: as claques foram um monstro criado pelos clubes por acharem que delas precisavam, vá lá saber-se porquê: por uma questão de apoio ou como simples fator de pressão, delas se servindo para defenderem os seus interesses, uns bem claros outros nem por isso.
O problema é que, à medida que vão crescendo à custa dos incríveis benefícios que lhes são concedidos pelos clubes, vão também ganhando influência, em especial junto dos adeptos mais jovens e mais suscetíveis, que se transformam em soldados de uma espécie de exército que, quando chega a hora de escolher, seguem cegamente os seus líderes sem questionar se estão, de facto, a servir os interesses do clube que defendem. É, portanto, fácil que as Direções, cientes da influência que as claques podem ter, até, na hora das eleições, acabem por ficar nas suas mãos, cedendo à maioria dos seus caprichos e fazendo-os até pensar que são, mesmo, os donos dos clubes. E é aí que as coisas ficam, de facto, perigosas, como ficou evidente há um ano, no triste episódio do ataque à Academia de Alcochete.
Frederico Varandas, talvez por ter vivido esse momento negro bem de perto, foi o primeiro a perceber que as claques não podem, nunca, ter carta branca para fazerem o que bem lhes apetece. Esperemos que não seja necessário novo episódio semelhante para que se deixe de assobiar para o lado sobre um fenómeno que a todos devia preocupar e outros o percebam também. Nos clubes e, até, acima deles.
 
OFC Porto tornou-se na primeira equipa portuguesa a conquistar a Liga dos Campeões de sub-19. O feito brilhante dos jovens dragões voltou a chamar a atenção para algo que já todos sabíamos: o bem que se trabalha na formação em Portugal. De Norte a Sul, e não só nos clubes grandes. Claro que não faltou quem aproveitasse o momento para falar sobre o espaço que se dá aos jovens formados no Benfica - como se não houvesse espaço, em Portugal, para mais do que uma grande escola de formação. O argumento é, percebe-se, falacioso. Porque se é verdade que o FC Porto mostrou ter também, no Olival, talento para dar e vender, a verdade é que os primeiros a ter de percebê-lo não são os que estão de fora, mas quem lá está dentro e tem (ou deve ter, pelo menos) o dever de conhecer ao pormenor o que se vai fazendo nas bases mais baixas do clube, aproveitando os jogadores que podem ser aproveitados. E nesse capítulo o FC Porto tem sido, nos últimos anos, quase um deserto. Não por culpa das manchetes que se fazem com jovens de outros clubes, antes por culpa de quem devia, primeiro, dar os seus a conhecer ao mundo. Mais simples do que isto é impossível.

SOBRE o Sporting campeão europeu de futsal já quase tudo se disse. Os principais protagonistas, de jogadores a treinadores, passando por dirigentes, estão já bem identificados. Claro que Bruno de Carvalho, que tanto apostou para ganhar esta competição, não foi capaz de ficar calado, reclamando para si alguns dos louros pelo triunfo, apenas possível, é verdade, pelo brutal investimento feito pela anterior Direção. Mas aquilo que deve ficar para o primeiro presidente destituído da história do Sporting é esta lição: gastar milhões e depois não dar o mínimo de tempo e estabilidade para que quem treina e joga faça o seu trabalho é o mesmo que deitar dinheiro à rua. Por isso é que alguns são presidentes, outros treinadores e outros ainda jogadores. Cada um na sua função. Querer ser tudo ao mesmo tempo é a receita para o desastre. Foi, pelo menos, a receita para o desastre de Bruno de Carvalho como presidente do Sporting, que continua a ganhar tanto, ou até mais, sem aquele que alguns ainda teimam em ver como o messias de Alvalade. Ele há coisas…