As, até agora, mais importantes vitórias em campeonatos
É o meu vigésimo oitavo campeonato. Sou herdeiro das vitórias e das derrotas do FC Porto, e quando já não poder celebrar os seus feitos e chorar os seus fracassos espero que os que deixo me recordem e os vivam por mim. A minha alma portista estará com as de muitos milhões, presa ao brasão abençoado para todo o sempre. Também isso devo ao FC Porto, uma esperança de eternidade.
Vividos são vinte e três. E apesar de os ter comemorados a todos com toda a euforia, o mais profundo orgulho e a mais sentida emoção, há três que senti de forma especial: o de 1977/78, o de 1998/99 e o deste ano.
O de 1977/78 foi o que matou a mais profunda sede. Eu tinha 12 anos. Era o único rapaz da minha escola que era portista, o que tinha de aturar as graçolas contra o meu clube, o que tinha de suportar os festejos dos campeonatos dos outros. Percebi que algo estava a mudar quando as piadas se tornaram, digamos, mais pesadas, quando os meus colegas me insultavam por coisas que o sr. Pedroto dizia. O meu clube já não era o que era subjugado pelos clubes da capital que obrigavam, por exemplo, o presidente da Federação a ser um adepto do Benfica, do Sporting ou do Belenenses (era mesmo assim, queridos irmãos mais novos). O meu FC Porto gritava, denunciava as poucas-vergonhas, finalmente falava dos roubos de catedral que sistematicamente aconteciam nos nossos jogos. A liberdade já tinha chegado e já não havia clubes do regime, proteções especiais em função dos imaginários interesses da agrilhoada nação. A partir desse momento combatia-se com armas iguais. O 25 de Abril no futebol português foi mais tarde, chegou a 11 de Junho de 1978, dia em que o FC Porto bateu o Braga por 4 a 0 e se sagrou campeão nacional. A partir desse momento foi o que se sabe: ganhámos mais campeonatos que todos os nossos rivais juntos. Não há portista que não saiba a importância desse campeonato, mas descrever a alegria e a sensação de justiça que se viveu naquele dia é impossível.
O de 1998/99 é o do Penta. Com o de 1978 já eram 12 campeonatos em 22 anos. Já tínhamos atingido o zénite do futebol. Uma Taça dos Campeões Europeus, uma Taça Intercontinental, uma Supertaça europeia, reconhecimento internacional (não confundir com nacional), sem dúvida a maior potência do futebol português. Faltava a fasquia que nenhum clube português tinha alcançado: ganhar cinco campeonatos seguidos. É verdade que o primeiro tri teve um sabor especial, mas o Penta era algo de absolutamente extraordinário - apenas quatro vezes existiu a hipótese de um clube atingir esse objetivo, por duas vezes o FC Porto, por uma o Benfica e por outra o Sporting. O Penta foi a consagração de um período de total hegemonia do FC Porto no futebol português. Nunca um clube tinha sido tão dominador e nunca mais nenhum voltou a ser tanto.
O terceiro foi o deste ano. Dir-me-ão que o último é sempre o mais saboroso. Não o nego. Mas este campeonato foi mesmo muitíssimo especial. Das limitações do plantel ao condicionamento financeiro, passando pelo regresso da mística - que andava a passar pelas brasas -, do papel fundamental do Sérgio Conceição e, claro, da qualidade futebolística demonstrada falaremos mais tarde. Neste momento, importa lembrar o que transforma esta vitória em mais do que mais uma vitória. E isso foi a sensação de que lutamos contra mais do que os adversários que tivemos em campo.
O que se foi sabendo no decurso deste ano fez com que percebêssemos que, pelo menos, há indícios de que algo de sórdido pode ter acontecido e pode ainda estar a acontecer no nosso futebol. Suspeitas demasiado graves de que há um clube que armou uma enorme teia em torno de todas as instâncias do futebol português com o objetivo de alcançar vantagens, no mínimo, ilegítimas; um dirigente de um clube adversário a ser acusado de corrupção e um possível agente preso preventivamente; investigações das autoridades policiais e judiciais a suspeitas de adulteração de resultados (francamente, não quero acreditar que isso possa ter existido); uma torrente de inqualificáveis denúncias anónimas com que se enlamearam profissionais dignos e que atentaram contra o bom nome destes e do FC Porto (basta consultar os jornais para se saber donde vieram essas infâmias). Além disto, sentia-se que havia uma coisa parecida com um desígnio nacional de levar o Benfica ao penta. Não seria preciso grande investimento - pelo contrário -, seria um dado adquirido. E, de facto, houve alturas em que parecia mesmo que algo de estranho se estava a passar. Demasiados erros a beneficiar o nosso principal adversário e outros tantos a prejudicar-nos.
Todos estes fatores somados ao papel galvanizador de Sérgio Conceição e à forma como ele inculcou no plantel os nossos valores tiveram um efeito brutal na equipa e na massa associativa azul e branca. Uniu ainda mais a equipa e os adeptos. Para um clube que tem como característica ter sempre vozes dissonantes, em que há uma autocrítica feroz, em que somos os primeiros a atacar os nossos dirigentes, treinadores e jogadores, esta época foi diferente de todas as outras. Não houve portista que não soubesse o que estava em causa e esqueceu o que tantas vezes nos divide para lembrar apenas o que nos une.
Sim, a vitória deste ano foi uma das três mais importantes da minha vida, mas bom, bom, vai ser celebrar o campeonato do próximo ano.
Obrigado, presidente
A história dos responsáveis por este título será feita nos próximos capítulos, mas fica a lembrança de que há um homem transversal aos 23 campeonatos que vivi (21 como Presidente e 2 como chefe de departamento): Jorge Nuno Pinto da Costa. É ele, como é evidente, o máximo responsável por mais esta vitória. As homenagens e os agradecimentos que lhe devemos nunca serão suficientes.
Obrigado, Presidente.
O senhor Álvaro Pinto e eu
Perdoem-me a nota pessoal. No último domingo, um dos mais ilustres sócios do FC Porto e dirigente que acompanhou o Presidente Pinto da Costa desde a primeira hora, mostrando uma generosidade que não mereço, ofereceu-me uma réplica daquele que foi o primeiro distintivo do brasão abençoado. Receber algo tão simbólico, de alguém tão marcante na vida do meu clube, num dia tão especial fez o meu coração azul e branco quase rebentar de orgulho e emoção. Que comemoremos ainda muitos títulos juntos, senhor Álvaro