As arbitragens no Mundial-2018

OPINIÃO03.07.201804:00

Pierluigi Collina e Massimo Bussaca, da FIFA, deram uma conferência de imprensa, onde falaram sobre a qualidade das arbitragens no Mundial da Rússia. A intervenção, segunda na prova, foi um exercício de transparência, que prestou vários esclarecimentos, de forma clara e honesta. Um exemplo a registar. De entre os vários dados apresentados, salientamos os seguintes, que se referem exclusivamente à fase de grupos:

1. Jogaram-se 48 partidas;
2. Nessas marcaram-se 122 golos. Uma média de 2,5 por jogo;
3. Foram assinaladas 1293 faltas (26,9 em cada encontro);
4. A média de amarelos, por jogo, foi de 3,4 cartões;
5. Foram revistos 335 lances: 122 relativos a golos marcados (é obrigatório aferir a legalidade de cada um) e os restantes referentes a outras jogadas do protocolo;
6. 14 dos lances revistos resultaram na alteração das decisões iniciais dos árbitros;
7. Desses, 9 foram sobre situações de penálti, 2 sobre possíveis vermelhos (depois resolvidos com cartão amarelo), 2 sobre validação de golos (antes anulados por fora de jogo) e 1 relativo à troca de identidade disciplinar (cartão amarelo exibido a um jogador, quando o infrator tinha sido outro);
8. De acordo com o Comité de Arbitragem, a taxa de acerto dos árbitros, em campo, rondou os 95%. Após a intervenção do VAR, subiu para 99,3%;
9. A média de tempo perdido, para a revisão de cada lance, foi de 18 segundos. Muito inferior, por exemplo, à média de tempo perdido em lançamentos de linha lateral, que até à data tinha sido de 7’42”/jogo;
10. Foram assinalados 24 pontapés de penálti (6 por mão/braço). Mais 14 do que no período homólogo do Mundial do Brasil.

Face a estes números, algumas conclusões:
- O escrutínio nas áreas está apertado e há um controlo mais eficaz das faltas cometidas por atacantes e defesas. Ainda assim, as instruções são para permitir contactos até ao limite e apenas punir as infrações que sejam, para todos, por demais evidentes.
- As intervenções têm sido rápidas, não afetando o desenrolar do jogo, como se temia inicialmente.
- A intervenção oportuna do VAR permitiu que mais de uma dezena de lances, inicialmente mal avaliados, fossem bem decididos;
- Os erros cometidos, à exceção de dois, resultaram da não intervenção do VAR, quando ela se impunha. Esta é a parte que ainda carece de mais trabalho. A outra refere-se à condição humana: devo aceitar uma indicação exterior, quando vi o que se passou? Devo ser eu a recomendar uma alteração, quando quem lá está não o fez e ninguém reclamou? Vou ser eu a assumir este penálti sozinho? Ficará bem voltar a não seguir a indicação do VAR, quando já o fiz por duas vezes neste jogo? Será que ele levará a mal o facto de estar sempre a intervir? Estarei a pôr em causa a sua autoridade?
Tantas dúvidas, mas pelo meio uma certeza, já tantas vezes sublinhada. O caminho é longo... mas vai valer a pena.