Aproveitar o embalo

OPINIÃO09.11.201803:00

Claro que todas as vitórias são importantes, mas há momentos durante uma época em que se ganha ou perde impulso e se começa a ver os contornos do futuro próximo.

O FC Porto está em claro crescendo de forma e já fez, na terça-feira, um jogo em que fez uma esplendorosa exibição na primeira parte e uma muito razoável na segunda. É certo que para que não estejamos dependentes de terceiros ainda falta conquistar mais um ponto, mas, convenhamos, só um fenómeno muitíssimo estranho faria com que o brasão abençoado não estivesse presente nos oitavos de final da Liga dos Campeões. Aliás, apenas três equipas têm dez pontos nesta fase: Barcelona, Bayern e FC Porto. Como diria o mister Artur Jorge, normal, perfeitamente normal. Há clubes para quem é normal estar nas fases decisivas das grandes competições internacionais e há outros que fazem das derrotas internacionais rotina.


No sábado, para o campeonato, fizemos um jogo competente em que a mestria do nosso treinador a ler o jogo e a gerir a equipa fez a diferença. Aliás, em qualquer um dos jogos se percebeu a importância de ter um grande treinador. A equipa sabe perfeitamente o que fazer nos dois sistemas em que jogou e é de salientar a capacidade do Sérgio Conceição em tirar o máximo de cada um dos rapazes: a equipa muda de jogadores mas não perde em eficiência, pelo contrário.


Nesta fase tem de ser registado, como já aqui notei a semana passada, o nascimento de um jogador fabuloso: o Óliver - já era muito bom, mas o mister Conceição transformou-o em extraordinário. Mas é de justiça saudar o regresso à forma do Marega - grande jogo contra os russos -, a boa prestação do Herrera, a constância do Jesus, a confirmação do Otávio e o imperial Militão que ajudou a transformar a equipa dando-lhe estabilidade e confiança. Mas há que dizer que toda a rapaziada está a correr para mostrar as suas reais capacidades.
Estas duas vitórias foram muito importantes e se a essas for somada outra contra o Sporting de Braga teremos o brasão abençoado com as velas enfunadas para uma época que se quer excelente.


Seja como for e independentemente do que será o desenlace de amanhã no Dragão, é claro que estamos numa boa fase, em claro crescimento, enquanto os nossos adversários atravessam períodos difíceis. É tempo de tentar criar um fosso entre nós e eles, a época é longa e temos de aproveitar estas fases.

Penáltis

Mal é marcado um penálti a favor do FC Porto, a minha primeira reação é perguntar-me quem é que desta vez vai falhar a conversão do castigo.
Não fiz a contabilidade mas era capaz de apostar que não deve haver equipa da craveira da do FC Porto que tenha um rácio de penáltis marcados e convertidos tão mau.
Não sei como este problema se resolve, mas sei que urge solucioná-lo. A época é longa e existirão momentos em que estes lances serão decisivos. Têm a palavra os nossos rapazes e o mister Conceição.

Aprender com os erros dos outros

Acada um segundo o seu talento, capacidade de trabalho e espírito de equipa seria uma boa aproximação de um guião para a remuneração de um jogador.
Já se sabe que num plantel há sempre jogadores mais bem pagos do que outros, que a capacidade de trabalho e mesmo o espírito de equipa é teoricamente mais fácil de obter do que o talento.
Um plantel com provas dadas, competências provadas e até títulos ganhos não deveria receber jogadores novos a ganhar fortunas mirabolantes e ainda para mais esses não provarem sequer para poderem jogar como titulares.
Os jogadores têm de ser profissionais e tendo assinado os seus contratos sem ninguém lhes ter posto uma pistola na cabeça não podem olhar para o lado e amuar. Mas a natureza humana é fraca e as injustiças, as diferenças de tratamento, o desprezo por o trabalho anterior num grupo de trabalho tendem a causar problemas graves.
Muitas vezes olhamos para os falhanços de equipas com orçamentos fabulosos, com jogadores teoricamente ótimos, com soluções para todos as posições e tendemos a pôr as culpas todas nos treinadores. Talvez se possa dizer que o treinador tem a responsabilidade de gerir os problemas gerados por grandes fossos salariais e de estatuto entre atletas, mas é capaz de não ser má ideia olhar para quem são os responsáveis por construir plantéis com estes desequilíbrios.
O desespero para alcançar vitórias para tapar questões gravíssimas de outras origens pode causar problemas sérios.
Qualquer semelhança com um clube da segunda circular não é mera coincidência.

O costume sportinguista

Despedir um treinador que está apenas a dois pontos da liderança e com boas perspetivas de passar à segunda fase da Liga Europa, tendo um dos piores plantéis que o Sporting tem em muitos anos, não será avisado. Se a isso somarmos a contratação de um treinador com 49 anos, sem nenhumas provas dadas e que desconhece o futebol português temos um cocktail que tem tudo para ser muito indigesto. A partir deste momento, tudo o que de bom acontecer no futebol do Sporting - pouco provável - será da responsabilidade do treinador, tudo o que for pior que a presente situação será assacado ao presidente do Sporting.
Se me enganar serei o primeiro a reconhecer, mas Frederico Varandas, ao anunciar o despedimento de Peseiro e a contratação de Keizer, também anunciou a próxima crise diretiva, daqui a pouco tempo, do clube.

Já não há pachorra

Quarta-feira, nos programas dedicados à Liga dos Campeões, só se falava do golo do Cristiano Ronaldo. Um bom golo, não há dúvida, mas nada de especial, tanto o Benzema como o Gabriel Jesus  ou o Otávio marcaram golos bem melhores e bem mais espetaculares.
Eu já devia estar habituado a esta ridícula histeria com tudo o que o bom do Cristiano faz, mas há alturas em que se ultrapassam todos os limites.
A ajudar a esta palhaçada patrioteira dá-se o pequeno detalhe de a equipa do português ter perdido em casa contra a equipa de outro português. Para ainda  piorar mais, em vez de se enaltecer a magnífica vitória do Mourinho só se ouviu uma chuva de críticas -  a quem o futebol português muito deve - por ele  ter respondido com um gesto a um chorrilho de insultos que ouviu durante o jogo inteiro.
Não há mesmo paciência.