André irá ser o Rui Costa portista?
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, fez dissipar uma nuvem persistente, onde parecia estar escrita a sua candidatura a uma pacífica sucessão de Pinto da Costa, no FC Porto. Que não, não irá ser ele a render o velho general que, há 38 anos, comanda o clube. Não será bem por não ter feito parte dos seus sonhos de vida, mas porque, segundo ele próprio afirma, o seu tempo «já passou». Por isso, promete todo o apoio a André Villas-Boas. Assim abre, Rui Moreira, uma ponta de um véu que tapa o inexpugnável tabu portista sobre a sucessão de um presidente que, no bem ou no mal, será, sempre, o mais histórico presidente do FC Porto e até, talvez, o mais histórico presidente dos clubes portugueses. André, que continua, sem especial paixão, a sua liderança técnica pelo Marselha, aguarda, sem pressas e sem ansiedades, pela mudança de ramo. Já ficou evidente o seu amor ao clube. Fê-lo da melhor forma de um portista convicto, afirmando, no L’ Équipe, que tanto em jogos nacionais, como internacionais, sempre preferiu que o Benfica perdesse os seus jogos. Semeava, obviamente, eventuais votos para o futuro e fazia-o com a inteligência que se lhe reconhece e com a independência de espírito própria de quem está e sempre esteve bem na vida. Claro que Pinto da Costa, ao contrário de Luís Filipe Vieira, não anunciou publicamente a sua saída, após o mandato, mas os homens não são eternos e a verdade é que os candidatos à sucessão não serão poucos. Com mais ou menos sentido estratégico, com maior ou menor evidência, perfilam-se no horizonte. Pode nascer, mais tarde, ou mais cedo, tal como no seu maior rival de Lisboa, uma candidatura de linha oficial e essa parece apontar, agora, para Villas-Boas, o que tornaria o atual treinador num género de Rui Costa portista. Mas tudo dependerá de Pinto da Costa. Em primeiro lugar, da sua decisão de sair ou de ficar; depois, do apoio ao candidato à sua sucessão. A esmagadora maioria dos portistas, gratos e reconhecidos, não deixará de seguir a última palavra do seu líder.
O nome do Benfica volta a andar aos trambolhões nas incómodas malhas da justiça. Luís Filipe Vieira garante, mais uma vez, manter-se de consciência tranquila e haverá quem entenda, neste acumular de processos que atravessam, de lado a lado, o bom nome e o prestígio do clube, uma certa obsessão em provar que, para a justiça, em Portugal, não há grandes, nem pequenos. Talvez no futebol assim seja… Questão maior é a de se conhecer os fundamentos da acusação e, em especial, a decisão judicial, com trânsito em julgado, o que significará sempre a espera durante um longo tempo. É, esse, o problema maior da justiça portuguesa. O tempo útil das decisões em tribunal, sendo que o tempo útil da justiça se confunde com a própria qualidade da justiça. Para já, apenas a constatação de que o Benfica sofre gravosas consequências reputacionais e isso deverá bastar para preocupar, e muito, os seus maiores responsáveis. Mesmo quando se mostram imperturbáveis.
Hoje, em pleno confinamento domiciliário, os portugueses poderão assistir, pela televisão, a um jogo de futebol maior: o Portugal-França. Claro que o resultado conta, e muito, mas será legítimo esperar que o espetáculo que duas das melhores seleções do mundo têm para nos oferecer, até para ajudar a passar estes desgraçados tempos de ansiedade e angústia, seja bem melhor do que aquele pobre jogo que nos foi oferecido no Stade de France, em Paris. Dependerá, também, do sentido do pragmatismo dos dois treinadores. Querer ganhar, ou não querer perder, eis a questão. A verdade é que de grandes intérpretes há sempre a esperar o melhor, mas há partituras, que por muito bem tocadas, são difíceis de gerar entusiasmo.
O Benfica e o mercado
O Benfica (em especial o seu treinador) não estará satisfeito com o plantel, apesar de muito ter investido. Daí que já se fale em mais nomes, curiosamente todos brasileiros, para tapar os buracos à vista. O facto não abona em favor nem dos antes escolhidos, nem dos que os escolheram. A verdade é que Jesus demora em conseguir construir equipa à sua imagem: criativa e forte na capacidade ofensiva; equilibrada e competente na qualidade do sistema defensivo. Porque não tem os jogadores de que precisa? Sim, mas de quem será, então, a culpa de não ter escolhido melhor?
O homem que adorava jardins
Morreu Gonçalo Ribeiro Telles, o arquiteto paisagístico que adorava espaços verdes para cortar a monotonia do cimento urbano. A dois anos de ser centenário, apagou-se uma vida dedicada ao maior compromisso do humano com a natureza. Monárquico, mas de reconhecimento transversal. Elegante e com um humor suave, afirmava que já era bom, nesta última fase da vida, «não andar por aí a chatear ninguém». Portugal honrou-o com cerimónias fúnebres nos Jerónimos e um dia de luto nacional, mas a obra, o nome e o legado ficarão, para sempre, na memória.