Amorim e fósforo

OPINIÃO28.01.202121:00

O Sporting de Rúben Amorim para além da fogueira montada, a gasolina e o fósforo...

É uma verdade às vezes esquecida pelos incautos (e sempre esquecida pelos delirantes): no futebol, quem depressa se lança em euforias, depressa  tropeça nelas, estampando-se. Não sendo Rúben Amorim incauto (e nada tendo de delirante)  - não estranhei que, após a vitória no Bessa, afastasse uma vez mais o Sporting da candidatura ao título no seu jogo de palavras:
- Sei que os jogadores têm muita qualidade, mas são inexperientes e só agora ganharam o primeiro título…
A mim, porém, não me restam dúvidas: o Sporting é mesmo candidato ao título (tão candidato como FC Porto e Benfica) - e é-o por ter o treinador que tem.
Mia Hamm (que foi espécie de Cristiano Ronaldo no feminino) revelou, poética, o modo como desafiava o destino:
- Monto a lenha para a fogueira em cada dia que treino, nunca deixo de lá pôr a gasolina e, no momento certo de cada jogo, acendo o fósforo…
É, é o que Rúben Amorim tem feito, sagaz, nos pés na cabeça dos seus jogadores  - e por o ter feito é que eles se vão mostrando muito melhores do que se imaginava que pudessem ser, sem nunca se perderem no sopé das suas angústias ou dos seus desnorteios, das suas fragilidades ou das suas descrenças (em que, pela afoiteza e o caráter do treinador, a sua argúcia e a sua esperteza, a tática tem a força da táctica - e a força do coração) - tornando a equipa (que é sempre mais do que 11, 18 ou 23 jogadores) mais esperta e audaz a montar a fogueira, a atirar a gasolina para a lenha e a acender o fósforo no momento certo.
Marcelo Bielsa afirmou-o, filosófico:
- Nós, os treinadores, podemos cometer dois pecados: fazer andar os jogadores que voam ou fazer voar os jogadores que andam. E eu penso: se tiver de ir para o inferno que seja pelo segundo…
Rúben Amorim já conseguiu (sem pecado…) que os seus jogadores desatassem a voar (mesmo quando não parece que voam) - e por isso é que, para o Sporting, este seu Sporting, o paraíso não é um delírio, não é (já) uma ilusão…