Aliança luso-espanhola
Não consigo entrar no pensamento de Rui Costa, mas, compreendendo ele como poucos os mistérios do futebol, acredito que os benfiquistas podem ficar tranquilos
A história é aparentemente irrelevante, talvez de nenhum interesse, não fosse o caso de envolver conhecidos protagonistas que decidiram gozar parte do período de férias no mesmo local e disso fizeram a conveniente publicidade. Através de uma fotografia, ficámos a saber que cinco futebolistas do Benfica, com ar feliz, escolheram uma das ilhas mais procuradas no Mediterrâneo para uns dias divertidos, o que, insisto, nada tem de especial. Cada qual é dono da sua vida e livre de fazer o que quiser com ela.
A diferença é que um jogador, ainda por cima representando emblema de grande dimensão, dada a sua enorme visibilidade, se quiser passar despercebido entre os aglomerados de gente anónima, se for essa a sua pretensão, sabe que deve adotar determinados procedimentos que estes cinco profissionais encarnados não cuidaram, o que permite admitir que foi sua intenção darem expressão pública a esta viagem em grupo, retratada de forma consciente e em cenário bastante divertido.
Numa altura em que a Administração benfiquista desenvolve esforços apreciáveis para arrumar a casa e dar um novo rumo ao voo da águia, depois de dois anos de estagnação, apenas aliviada por uma participação europeia assinalável e recompensadora do ponto de vista das receitas, esta viagem de amigos é, no mínimo, intrigante e denunciadora de um quadro de desordem que atingiu o zénite na confrontação entre alguns jogadores e o treinador.
Como geralmente sucede, a corda partiu pelo lado deste. Jorge Jesus deixou de ser o comandante das tropas, embora mantendo a remuneração devida até final de contrato, e arranjou-se um substituto da casa para aliviar tensões, esconder os problemas numa gaveta e ganhar tempo. Ou seja, o Benfica passou a viver em regime transitório de paz podre, sem nenhuma medida visível, a não ser o envio de Pizzi para o futebol turco, sem mais explicações adicionais.
A SSOBIAR para o lado não costuma dar bom resultado e, mais uma vez, não deu. A águia nenhuma conquista registou, voltou a ficar no terceiro lugar do Campeonato e falhou a entrada direta na Liga dos Campeões. Há um ano correu bem, mas há dois correu mal. Agora, com o primeiro treinador escolhido por Rui Costa, temos de esperar para ver. Roger Schmidt, alemão, parece-me ser uma decisão acertada, mas ainda não tem títulos no currículo, o que, naturalmente, suscita um corrupio de dúvidas, mas é assim mesmo, ou se acredita muito na aposta e é para seguir em frente até se abraçar o sucesso, ou se acredita pouco e é para ir andando, na esperança de melhores dias.
Não consigo entrar no pensamento de Rui Costa, mas, compreendendo ele como poucos os mistérios do futebol, acredito que os benfiquistas podem ficar tranquilos. O que lhe faltará em experiência enquanto presidente de clube, sobra-lhe em conhecimento enquanto jogador virtuoso e admirado, que pisou durante anos os principais palcos mundiais. Precisa, pois, de rodear-se de pessoas certas. Poucas, mas certas, e creio que isso ele fez, segurando Domingos Soares Oliveira na área financeira e recuperando Lourenço Pereira Coelho para o coadjuvar no futebol. Na linguagem futebolística, trata-se de um triângulo formado por um seis e dois oito, embora insinuem as más línguas que é ao contrário, enfim…
V OLTANDO às férias dos cinco jogadores e numa altura em que, finalmente, os corredores laterais parecem ter justificado importância prioritária por parte do Benfica, com as contratações de dois internacionais, o sérvio Mihailo Ristic (esquerda) e o dinamarquês Alexander Bah (direita), a fotografia pode ajudar-nos a entender o interior do balneário encarnado:
Grimaldo, com guia da marcha depois de se ter recusado a jogar em Paços de Ferreira, na última jornada e de ter riscado o seu nome da convocatória, com censurável comentário. Quer regressar ao Barcelona, falta saber se o Barcelona quer o seu regresso.
André Almeida, há dez anos a jogar com a camisola da águia e a resistir a não sei quantas aquisições para o substituir, todas feitas com o desacerto necessário para o eternizar no lugar. É um daqueles jogadores bem remunerados e que nada acrescentam.
Diogo Gonçalves, lateral ou extremo, extremo ou lateral, com passagens por Inglaterra e Famalicão, não consegue agarrar uma oportunidade, e tantas foram as que já deixou escapar.
Rafa Silva, uma eterna promessa, que vive das assistências e da velocidade de ponta, embora com intermitências prolongadas. Não sendo um jogador de Seleção e não sendo decisivo no clube a sua desvalorização tem-se acentuado. Schmidt quer observá-lo, li em A BOLA, e faz bem. Mais uma tentativa em jogador que vai nos 29 anos e não explode, apenas faísca. Se correr mal, manda a sensatez não insistir.
Gil Dias, um daqueles jovens que deviam dar graças por vestir a camisola da águia. Pessoa amiga contou-me que Jesus tinha esperança de fazer dele mais jogador. Só não sabemos se Gil estaria interessado.
Cinco casos por solucionar e cinco razões não só para desconfiar desta aliança luso-espanhola, mas também para cortar cerce todas as alianças conhecidas ou por identificar que tentem sobrepor os interesses individuais aos do Benfica. Convém que isso fique absolutamente claro.