Alegretes mas pobretes
Algumas ideias sobre o Benfica-FC Porto de sábado, que os benfiquistas aguardam com uma ânsia e um otimismo como há muito não se via. Primeiro. Parece claro que o Benfica a jogar em casa parte favorito, sobretudo se o FCP entrar como na época passada: frio, encolhido, sem capacidade para (pelo menos) tentar discutir o mando do jogo, como tantas e tantas vezes conseguiu na nova Luz. Bruno Lage vive em estado de graça e muito tem feito por isso, já que apresenta números verdadeiramente excecionais no campeonato. Com 20 vitórias e um empate em 21 jogos e um parcial de 79-16 em golos (!!!), o homem que tem a televisão quase sempre sintonizada no Canal Panda vai passeando pela Liga a uma média de 3,76 golos por jogo, quase fazendo parecer uma brincadeira de crianças a estatística de treinadores como Vitória, Jesus, Trapattoni, Fernando Santos, Toni, Eriksson e Mortimore. A massa adepta encarnada vê um FC Porto titubeante, não formatado, ainda à procura de encontrar um onze e uma ideia sólida de jogo, e faz contas - muito legitimamente - a uma vitória que deixaria o maior rival a seis pontos logo à terceira jornada - uma distância de forma alguma irreversível (basta lembrar o que sucedeu na época passada), mas considerável num campeonato tão macrocéfalo como o nosso.
Os adeptos do Porto, ainda inconsoláveis com a inenarrável eliminação da Champions às mãos do minorca russo Krasnodar - minorca quando comparado à dimensão europeia do FCP -, têm naturalmente alguns motivos para encararem o clássico com alguma apreensão - o Benfica tem golo que nunca mais acaba, um fio de jogo muito mais consolidado e um treinador aparentemente muito seguro e racional, pouco dado a estados de alma e montanhas russas emocionais. Mas também há um ou outro aspeto que os portistas não se esquecerão de invocar a seu favor. Um deles tem a ver com o próprio local do jogo e o bom astral do FCP ali - lembro que próprio Sérgio Conceição, antes de perder com Lage no Dragão (1-2), já tinha ganho um campeonato na Luz (cortesia de Herrera) no último minuto do jogo. De facto, o segundo estádio da Luz, ao contrário do antigo, tem sido território propicio aos dragões, que ali têm ganho mais vezes que perdido (6 vitórias e 6 empates contra apenas 4 derrotas em 16 visitas desde fevereiro de 2004). É evidente que a história e a estatística não marcam golos, que cada clássico começa do zero e que, neste momento, os dados são bem mais favoráveis aos campeões. Mas perguntem aos adeptos benfiquistas que tipo de recordações guardam dos jogos com o FCP na nova Luz…
Um último aspeto, ainda sob o efeito do falhanço portista na qualificação para a Champions, uma péssima noticia para o futebol português que ainda há pouco tempo viu o Benfica, na condição de cabeça de série, completar uma fase de grupos da Champions só com derrotas. Estamos a perder músculo e competitividade no contexto europeu; e estamos a perder argumentos para podermos continuar a atrair jogadores com potencial dispostos a fazerem do inexistente [em termos internacionais] campeonato português uma ponte aceitável para as ligas de topo. Pensem nisto. Há seis anos e meio (janeiro 2013), o Benfica, treinado por Jorge Jesus, recebeu o FC Porto de Vítor Pereira na Luz. Foi um jogo fantástico, hiper emotivo, com futebol e artistas de primeiríssima água: empataram 2-2 com os quatro golos a surgirem nos primeiros 17 minutos. Anotem as linhas. Benfica: Artur; Maxi, Garay, Jardel e Melgarejo; Matic; Salvio, Enzo Pérez e Gaitán; Lima e Cardozo (ainda jogou Aimar). FC Porto: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando; Defour, Lucho Gonzalez e João Moutinho; Varela e Jackson Martinez (Izmailov ainda jogou). Não vou fazer comparações. As coisas são o que são. Apenas sugiro um exercício teórico: quantos dos participantes no próximo Benfica-FC Porto teriam lugar numa grande equipa europeia? Só vejo um a entrar de caras: Alex Telles. Com muito boa vontade, talvez Danilo e Grimaldo. Os outros, quantos deles endeusados por aqui!, pura e simplesmente não cabem. Façam o exercício tendo em mente as melhores equipas dos big five. É triste mas é assim. Alegretes mas cada vez mais pobretes.
A 18.ª época do maior
Cristiano abre a sua 18.ª época no futebol profissional em Parma, uma semana depois de saber que vai estar no pódio do prémio UEFA Player of the Year pela nona vez em nove edições (objetivamente: uma proeza fantástica que, por ser tão normal em CR7, comentamos como se fosse uma vulgaridade de Lineu…). A Juventus parte favorita ao scudetto (seria o nono seguido) mas é a vitória na sua Champions o objetivo que certamente mais estimulará Ronaldo, claramente o melhor jogador (único com 5 títulos) e marcador (126 golos) desta competição mítica que todos querem ganhar mas só alguns conseguem (certo, City?). A Juventus tem vários problemas por resolver (não é certa a continuidade de Dybala, Higuaín… até de Mandzukic) e essa indefinição não é boa para ninguém às portas da competição. Anoto aqui alguns dos recordes que CR7 pode bater no próximo exercício, que é a única linguagem que ele entende e a única - factos! - capaz de nos fazer perceber quão fabulosa tem sido a carreira dele. Assim, Ronaldo está 11 golos oficiais (tem 689) de atingir a barreira dos 700, juntando-se aos cinco magníficos que ultrapassaram essa barreira - Pelé (757), Josef Bican (756 - há quem lhe atribua 805), Romário (743), Gerd Muller (721) e Puskas (700). Com 29 títulos no palmarés, 13 deles internacionais, CR7 está a um de igualar e a dois de suplantar o futebolista português mais títulado da história, Vítor Baía. Pode acontecer a ultrapassagem assim como um superpleno nos big three - só lhe falta ganhar a Taça de Itália para poder dizer que é o único da história a ganhar tudo nas três ligas mais poderosas do Mundo (Inglaterra, Espanha, Itália). Quanto à Champions, Francisco Gento (seis títulos) e Clarence Seedorf (único a ganhar com três clubes) continuam à espera de Ronaldo, que pretende terminar a época em glória com Selecção. É ano de Europeu, pois claro.