Aí está o campeonato dos 100 milhões!
Já conhecemos quase todos os rostos dos que vão entrar, mas ainda falta saber quem vai sair. E o campeonato vai definir-se aí, mesmo
ESTE é o tempo do adepto de futebol se empolgar com os sonhos prometidos. Chegam caras novas, pensam-se equipas imbatíveis, joga-se o campeonato mesmo antes de se dar um pontapé numa bola. É a força boa do futebol e, também, o hábito, talvez pouco salutar, de se pensar a toda a hora no clube do coração, fazendo crescer expectativas sempre para além do provável.
Neste momento, o Benfica será o clube cujos adeptos vivem em maior êxtase. A chegada de Di María e o inteligente aproveitamento mediático que o Benfica preparou de forma muito profissional tornou a chegada do argentino de 35 anos no acontecimento do dia. Nada poderia ser mais importante e, mesmo que voltasse a cair o Carmo e a Trindade, nada suscitaria maior interesse na agenda mediática desta ocidental praia lusitana do que Ángel Di María virado para a estátua de Eusébio a bater com a mão no peito bem juntinho a um coração que voltou a bater ao ritmo de Luís Piçarra e das suas Papoilas Saltitantes.
O Benfica parte na frente do campeonato da euforia, mas a verdade é que no campeonato a sério parte do zero, como qualquer outro, e vai ter de provar, em campo, que é o clube português em melhores condições para cortar, em primeiro lugar, a meta do campeonato dos 100 milhões, o valor que está prometido para a próxima edição, cada vez mais exclusiva, da Champions.
Di María frente a 1500 benfiquistas
Apresentando, de mãos abertas, a prata da casa, o FC Porto mostrou ao público o seu quinto ponta de lança, enquanto que o Sporting tenta, mas ainda não conseguiu, apresentar o primeiro. Calado, sem dele se dar nota, o SC Braga vai construindo paulatinamente o seu plantel com o amor e sabedoria de quem sabe como fazer uma paciente renda de bilros.
A pressa de ver a bola a saltar leva a maioria a discutir probabilidades, impressões, análises provisórias. Há, no entanto, um fator essencial e sem o qual não é possível ter uma opinião credível. Conhecendo-se, já, a maioria dos jogadores que vão entrar, falta conhecer os jogadores que vão sair. E não serão poucos. Curiosamente, será aí que o campeonato se começará a definir.
Veja-se: o Benfica pode perder Rafa (é natural que aconteça) e pode perder Gonçalo Ramos ou, até, Florentino. Talvez, também, um dos seus centrais, e ninguém pode ter a certeza de que algum milionário chegue à loucura de querer comprar a joia da coroa, António Silva. Ora se acontecer a saída de Gonçalo Ramos, que ponta de lança poderá o Benfica descobrir para resolver o problema? E se sair António Silva? Definitivamente, não existem certezas de que o Benfica garanta um plantel intransponível. Tal como o FC Porto, com os seus cinco avançados de raiz, o que dava para fazer uma exposição de avançados no Palácio de Cristal. Mas quantos jogadores o FC Porto vai ter de vender? Sabe-se que gostaria de vender Diogo Costa, mas quem dá 75 milhões por um guarda redes? Sabe-se que não deseja vender Otávio, mas é, de facto, o jogador mais apetecível e a um preço convidativo. E, claro, pode perder Taremi, mas quanto vale, agora, o iraniano na bolsa de valores?
O FC Porto será, ainda, o clube de maiores incertezas e interrogações. Mais ainda do que o Sporting que mantém em cena a novela Gyokeres que já teve um episódio indecoroso. Mas se no Sporting sair Coates? Ou se sair Gonçalo Inácio, ou Pote? E quem entrará para fazer esquecer Ugarte?
Diria o povo que a Procissão ainda vai no Adro. Falta saber o essencial, porque nem todos os que vão ficar são mais valias e nem todos os que vão sair são substituíveis. Esperar é sensato.
DENTRO DA ÁREA – A DESVERGONHA DE IR A ELEIÇÕES
Um vídeo pensado, criado e produzido pelo regime do império do Dragão mandou o título conseguido por Villas-Boas, pelo FC Porto, na final de Dublin, para o lugar do irrelevante. Não deixa de ser curioso que esta ação de propaganda anule a conhecida catequese que apela à superlativa importância do maior número de títulos em Portugal e arredores. Mas como acontece na Rússia de Putin, o grande inimigo nasce agora dentro de portas e tem a desvergonha de anunciar que se pode apresentar a eleições democráticas para a presidência.
FORA DA ÁREA – UMA SOLUÇÃO BRILHANTE
A nova moda é morar numa garagem. Diz que se pode conseguir uma habitação permanente a partir de seis mil euros e há quem admita que, assim, os portugueses estão próximos de resolverem, de uma vez por todas, os problemas de habitação. Há exemplos de quem consiga, mesmo, dois em um. Meter o carro na garagem e ficar a viver lá dentro. É bem visto e poupa uma fortuna em juros de empréstimo. Uma prova de que os portugueses estão na vanguarda da Europa. E mais. Se a vida correr mal é só fechar a porta, ligar o carro e esperar.