Aí está ele de volta… e aí estão os velhos problemas
O Portimonense foi o primeiro a desconfinar, literalmente, com uma molhada de jogadores a celebrar um golo fenomenal de Lucas Fernandes ao Gil Vicente. Aliás, esse foi o momento da primeira partida da retoma… e praticamente o único. De resto, foi lento e nem os algarvios nem os de Barcelos fizeram grande coisa. Porém, mesmo sem público, ainda que só com um golo, acabou por ser emotivo.
Também um monumental erro do guarda-redes do FC Porto lembrou que as jornadas que faltam neste campeonato ainda podem ter muitas peripécias estranhas. Não é normal um guarda-redes como Marchesín passar a bola a um extremo da equipa contrária (Fábio Martins) que está de frente para uma baliza aberta. No segundo jogo, em que o Famalicão recebeu os líderes do campeonato (pelo menos até ao fim do jogo de hoje, do Benfica contra o Tondela, na Luz), não deixa de ser curioso que o golo do Porto fosse marcado por Corona, nome da característica do vírus que fez parar a competição por 86 dias. Neste caso, porém, os seus efeitos só duraram três minutos. Pedro Gonçalves, vindo sabe-se lá de onde, pôs o Famalicão, de novo, em vantagem. Com 2-1 os famalicenses acercam-se do Sporting e podem fugir ao Guimarães, caso este não ganhe hoje.
O Porto foi trapalhão, sem soluções. Se na primeira parte podia ter resolvido o jogo, na segunda, que começou com o erro do guardião, não revelou soluções. De notar, ainda, que mesmo sem público, os dois jogos de ontem deram a vitória aos visitados.
E amanhã volta o Sporting. O onze que este jornal deu como provável escolha de Rúben Amorim parece-me interessante, um futebol mais motivado e virado para o ataque. Veremos (pela televisão) o que dá, tanto mais que o adversário não é pera-doce e reforça a necessidade de vencer após o resultado do Famalicão.
Aliás, num esclarecedor quadro, aqui publicado, que divide a liga em três terços (ou três vezes oito jornadas) até agora jogadas, vemos que a equipa com mais pontos no último terço (17.ª/24.ª Jornadas) é o Braga. (À atenção do Sporting, não só porque é a formação que tem de ultrapassar, como também por ter sido orientada, durante este período, pelo atual treinador dos leões). Seguem-se, por esta ordem, o Porto, o Rio Ave e o Guimarães. Só depois vem o Benfica (14 pontos, contra os 22 do Braga e os 19 do Porto) e o Sporting, com míseros 13 pontos em oito jogos; aliás a par com Moreirense e Santa Clara.
No período mais negro do confinamento, talvez atacado por uma epifania estranha, fiz umas contas segundo as quais o Sporting ainda podia ser campeão. Agora, mesmo antes de ver o que seguramente melhorámos (aquilo era como o Tiririca, pior não fica), basta que alcancemos o 3.º lugar para não me sentir totalmente deprimido.
Alcochete, ainda…
Como era esperado, a sentença do caso de Alcochete ilibou completamente, entre outros, Bruno de Carvalho. Como era de supor, ele transformou isso numa justificação para voltar a ser sócio e presidente do SCP. Como era óbvio, a maioria daqueles que seguem estes acontecimentos perceberam que uma coisa não tinha a ver com a outra, e que o presidente demitido e expulso o foi por razões que não têm a ver com o assalto a Alcochete. Argumenta Bruno de Carvalho: se não fosse o assalto não me teriam demitido nem expulso. Além de ser sempre arriscado adivinhar o que aconteceria caso certas coisas não acontecessem, pode argumentar-se ad contrarium se Bruno de Carvalho não fosse presidente e não tivesse feito o que fez, não teria havido assalto a Alcochete. Aliás, esta hipótese é fácil de provar: foi precisamente com ele que o assalto aconteceu.
Se o demitido não faz parte das contas do Sporting, estando expulso e não se vislumbrando forma legal de regressar, tal não significa que o Sporting não tenha vários problemas a resolver. O facto de apresentar um lucro de 30,2 milhões é bom, mas deve-se a vendas que não foram substituídos por jogadores do mesmo nível. Obviamente, todos desejamos e sonhamos que os novos talentos já descobertos, a despontar e mais os que agora Rúben Amorim chamou, venham a compensar as perdas e a conseguir cotações nos mercados de transferências, que uma vez mais contribuam para minorar ou apagar o nosso enorme passivo. Mas tudo isto são operações que levam tempo, e os sócios são, no geral, impacientes por resultados; sobretudo no futebol.
E muito mais há a fazer no Sporting, desde os malfadados estatutos, cuja mudança há muito reivindico, ao esquema de governo do clube e da SAD, passando por discutir, sem medo nem preconceitos, quem deve e pode ter a maioria da SAD, com que restrições e com que modelos.
Saúda-se assim a iniciativa de sportinguistas que querem discutir ideias antes de pessoas. Aceitei moderar um dos painéis dessas jornadas intituladas ‘Um Sporting com rumo’ sem qualquer problema. Muitos sportinguistas que participam são quadros muito válidos para qualquer atividade. Jorge Coelho, Diogo Lacerda Machado; António Pires de Lima, João Duque, Dias Ferreira, Rogério Alves, Abrantes Mendes, Agostinho Abade, Miguel Frasquilho, Miguel Poiares Maduro, Miguel Almeida Fernandes, entre muitos outros, incluindo todas as tendências do clube. Carlos Vieira, que foi suspenso do clube numa decisão em que participei na altura em que era vice-presidente de Bruno de Carvalho, faz aliás parte do painel que vou moderar. E com todo o gosto. Penso nunca termos sido menos educados e civilizados um com o outro. Como aliás é a marca do Sporting.
E voltam as confusões
A Liga 2 anda em bolandas. As decisões que a Liga tomou estão suspensas e não se sabe bem quem pode desatar o nó. A iniciativa foi do Cova da Piedade, condenado a descer e que não o quer fazer sem completar o calendário. Tem razão? Sabe-se lá! Nunca vivemos uma situação assim.
As cinco substituições que tinham sido previstas para esta fase final da Liga estão suspensas. Só se decidem a tempo da segunda (26.ª jornada) desta fase. Porquê? Porque clubes (o Marítimo foi o primeiro) impugnaram a decisão, afirmando ser necessário uma AG para passar de três para cinco suplentes. Embora o International Football Association Board o aceite e a FPF também (estando previstos para o final da Taça), há sempre mais papistas do que o Papa. Aliás, o Benfica, que agora deu em embirrar com a Liga e com Pedro Proença, embora diga concordar com as cinco substituições, também levantou dúvidas para que depois não houvesse impugnações. Não sei o que dizer! Talvez citando a velha personagem de Herman José, o Estebes, diga apenas: Cambada!
Para mais, concordo com a sensatez de Jesualdo Ferreira que defendeu numa entrevista a este jornal que as cinco substituições bem podiam ser a regra e que os guarda-redes deviam ser contados à parte nessas substituições. Nunca percebi por que razão o futebol não segue boas práticas de outros desportos - tanto na arbitragem, como na contagem do tempo, ou nas substituições. É um mistério se não conhecermos os dirigentes do nosso futebol (e provavelmente dos outros países). Se Gonçalo Guimarães me permitir, faço minhas as palavras dele: «Eu aprovava era a substituição dos 18 presidentes»!