Agora sim, temos um Sporting com a esperança toda

OPINIÃO21.10.202107:00

O que o futebol nos dá, em troca dos anos de vida que acho com ele perdemos, é a alegria enorme da superação das expetativas: 1-0 ao Besiktas já nos deixava contentes

N ÃO foi o melhor jogador, mas quero começar por ele e, caso pudesse escrevia a crónica toda com o seu nome: Paulinho! Eu sei que tenho colocado em causa a sua capacidade como goleador (nunca a de trabalhador), mas em Istambul, além de jogar muito, muito; além de rematar uma vez de tal modo que dava cabo de um guarda-redes menos preparado; outra, que bateu no poste; outra ainda, que caprichosamente foi em cheio à trave, marcou um golo de levantar o estádio. Se com esse golo, de se lhe tirar o chapéu, ele encerrasse um merecido hat-trick (que por incrível que pareça quer dizer truque de chapéu), seria caso de todos nós, sportinguistas e não sportinguistas, simbolicamente tirarmos o chapéu a Paulinho. Ou, pelo menos, quando por ele passássemos ou quando dele falássemos, fossemos obrigados a dizer chapeau (porque foi em francês que nasceu a expressão).
Escrevi acima que não foi Paulinho o melhor jogador na partida contra o Besiktas, porque esse foi aquele a quem já dediquei um título inteiro, com os versos de Walt Whitman: «Oh, captain, my captain!»; ou seja, o capitão Coates com dois golos de cabeça iguais, e um que, para variar, deu no braço do defesa e provocou o penálti. Coates, o mesmo (ou uma versão melhorada) daquele que  em muitos jogos nos devolveu a esperança do campeonato, e persistiu até o ganharmos. Mas há mais, não nos fiquemos pelo capitão! O regresso de Pedro Gonçalves é assinalável; é certo que não marcou, mas não é menos certo que fez jogar e, se Paulinho pôde assinar uma obra de arte, a ele o deve.
Há ainda Gonçalo Inácio, que andou arredado mas voltou a mostrar a sua classe; e Pedro Porro, que manteve a classe que este ano refinou; e, Adán, que é um colosso; e Feddal que jogou particularmente bem; e Matheus Nunes e Palhinha, ambos barreiras difíceis de ultrapassar; de Matheus Reis não se pode dizer que teve uma noite feliz, mas já de Sarabia, que assinou o seu primeiro golo no Sporting, com um penálti impecavelmente marcado, confirmou-se o que se sabia: é um grande jogador.
Isto para não falar dos que entraram depois: TT, Daniel Bragança, Neto, Nuno Santos e Esgaio. Agora, sim! O Sporting tem uma equipa que, embora curta sem os 500 avançados do Benfica (exagero!), é capaz de ir a todas - esperemos.
Há ainda uma questão que só não se tornou central porque o Sporting soube marcar quatro golos, das 12 oportunidades perigosas que teve. É que o golo, o único do Besiktas, foi claramente ilegal. Não há dúvida de que Larin se apoia em Matheus Reis para cabecear para o golo. De realçar um fora de jogo a Alex Teixeira, bem assinalado, num golo que seria de antologia. Podia bem ser o golo do jogo, caso Paulinho não tivesse, ao cair do pano, e depois de todo o azar que tem tido, marcado aquele que seria o 1-4.
 

NÃO ESQUECER O BELENENSES

N A sexta-feira da semana passada tive oportunidade de ver com atenção o Belenenses (verdadeiro) contra o Sporting. A minha atenção para este jogo da Taça contra um clube histórico, embora por uma decisão infeliz relegado para os campeonatos inferiores, foi tão grande como a que dediquei anteontem ao Besiktas.
Havia vários motivos para essa atenção a um jogo que o Sporting tinha mais do que obrigação de vencer, não obstante a minha tradicional simpatia pelo clube do Restelo e a minha insistência em chamar ao B-SAD falso Belenenses. Esses motivos eram, em primeiro lugar, o facto de Adán dar o lugar a João Virgínia, o jovem guarda-redes que veio render Max. A prova, claro, não pode ser conclusiva num jogo destes (fez apenas uma defesa digna desse nome), mas a impressão que deixou, pelo posicionamento e pelo modo como atuou, foi muita positiva. Depois, Gonçalo Inácio voltava, sem surpresas, além de por pouco não ter marcado um golo. Gonçalo Esteves foi outro dos estreantes a titular; não se pode dizer que tenha deslumbrado, mas o jovem de 17 anos mostrou que está ali para evoluir e que aguenta alguma pressão. Foi substituído aos 63 minutos por Pedro Porro, que em 10 minutos levou um amarelo e uma carga que fez recear não pudesse jogar em Istambul; felizmente recuperou. Ugarte já se conhecia, mas confirmou que pode ocupar um lugar no meio-campo sem comprometer, embora sem o nível de Palhinha ou de Matheus Nunes, claro.
O grande regresso foi o de Pote, também substituído aos 63 minutos, por Nuno Santos. Pedro Gonçalves mostrou que as qualidades estão todas lá, sem tirar nem pôr. Ia marcando dois golos e pôs a cabeça em água aos colegas do Restelo. O seu substituto, Nuno Santos, é outro imparável. Não tem o talento de Pote, nem sequer o de Porro, mas tem velocidade e querer. Marcou de penálti, o que foi justa recompensa. Aliás, três minutos depois de um outro penálti convertido por Jovane.
Por último, há que falar de Tiago Tomás, que marcou dois golos, mostrando-se uma hipótese para o ataque, sempre que for chamado. Apesar da sua juventude mostra maturidade a cada semana que passa.
Aliás, os automatismos, como lhes chamam os misteres da bola (treinadores e comentadores), mostram-se no Sporting. Basta ver como os dois golos de Coates foram tirados a papel químico. E no terceiro golo, de onde nasce o penálti, o sistema era semelhante.
 

QUATRO JOGOS EM ALVALADE

D EPOIS de amanhã a equipa volta a Alvalade, para seguramente ser bem recebida. Antes, das 11 da manhã às sete da tarde, no Pavilhão João Rocha, pode votar-se nas contas e nos projetos do clube. É bom que os sócios afluam, até porque o Sporting não pode ficar nas mãos de 0,5% dos associados, como aconteceu na última Assembleia Geral.
Mas, voltando ao futebol, o Moreirense vem de um empate no Funchal e de uma vitória sobre o Arouca, depois da goleada que lhe impôs o FC Porto. Ou seja, tem vindo a melhorar, e embora aqueles resultados não sejam tão moralizadores como jogar em casa, com público, depois de uma vitória na Turquia, face ao Besiktas por 4-1, não podemos esperar facilidades.
Três dias depois, para a Taça da Liga, segue-se o maldito Famalicão, também em Alvalade. Dos quatro pontos perdidos este ano, dois foram com o Porto e os outros dois com o Famalicão. Penso que há um dever de quebrar o enguiço; voltamos à Liga com o Guimarães, uma equipa que por muito em baixo que ande nas tabelas classificativas, é sempre um quebra-cabeças (e nem é o caso, com o 7.º lugar e a vitória em Famalicão no último encontro da Liga). Se contra Moreirense, Famalicão e Guimarães os jogos têm que se lhes diga, aquele que a 3 de novembro se joga em casa contra o Besiktas é importantíssimo. Uma vitória dita a continuação do Sporting na Europa, seja na Liga, seja na Champions, onde ainda é possível.
São quatro jogos em 11 dias. É difícil, mas por isso mesmo é que achei importante olhar com cuidado para o jogo do Belenenses e para os jogadores que não costumam alinhar de inicio. É que o desgaste será imenso. É certo que Benfica (Vizela, Guimarães na Taça da Liga, Estoril e Bayern) e Porto (Tondela, Santa Clara na Taça da Liga, Boavista e Milan) não têm a vida mais facilitada. Em certa medida, pode ser, até, mais difícil, porque há deslocações pelo meio. O Sporting foi o único a ter este ciclo infernal sem sair de sua casa.
 

Depois de muito azar, Paulinho fechou com golaço vitória leonina na Turquia


PORTO

O FC Porto ganhou com mérito ao Milan, e golo de Luiz Díaz, fosse ou não legal, fez justiça ao resultado. Só um ponto irónico, não para levar a sério: Taremi, na terça-feira, parecia o nosso Paulinho.
 

BENFICA

Era difícil, quase impossível. E foi. O Benfica, tal como o Sporting com o Ajax e o Porto com o Liverpool, teve direito à sua goleada caseira: levou quatro secos do Bayern. É certo que os da Luz, com mais ou menos sorte, resistiram até aos 70 minutos, chegando a criar oportunidades. Mas depois de aberta a baliza de Odisseas, entre os 80 e os 84 da segunda parte, foram mais três. É a vida… resta a consolação do segundo lugar no grupo, agora ameaçado pelo Barcelona, apenas a um ponto.
 

YOUTH LEAGUE

Digamos que os nossos jovens estão na maior. Na Champions Youth League (ou Liga da Juventude), que tem os mesmos grupos do que a Champions, o Benfica goleou o Bayern (4-0); o Sporting foi à Turquia ganhar 3-1 e o Porto venceu o Milan por igual marca. Resultado: nos respetivos grupos, o Porto comanda e Sporting e Benfica são segundos. Curiosidade: o Ajax, que era conhecido pelas suas escolas, foi derrotado em casa pelo Dortmund por 1-5.