Acende-se uma luz… na Luz
A presença de Rui Costa aglutina e a sua palavra conforta. O adepto quer paz e confia nele para unir a família benfiquista, o que aumenta a sua responsabilidade
NAS dez notas orientadoras do seu programa de ação que Rui Costa divulgou, creio que pela primeira vez em público, na visita à Casa de Barcelos, a seguir ao triunfo claro sobre o Vitória de Guimarães, houve uma que suscitou particular entusiasmo e mais aplausos justificou por parte da numerosa plateia, precisamente a que guardou para anunciar em último lugar e que tem a ver com a recuperação da soberba cotação mundial alcançada pela águia através das conquistas europeias na década de sessenta do século passado e mantida viva até 1990, data da ultima presença em final dos Campeões Europeus.
Desde então, passaram mais de trinta anos e, por razões diversas, sucessivas administrações foram-se desgastando em querelas de paróquia, o estatuto europeu foi-se enrugando, o clube afastou-se dos principais palcos e deixou de manter um convívio regular com os mais ricos e poderosos emblemas. Banalizou-se, e durante este longo período o seu pecúlio ficou resumido a duas finais perdidas na Liga Europa, o que é francamente de menos.
Pelo que li em A BOLA, Rui Costa captou o entusiasmo dos adeptos ao reconhecer que «é cada vez mais difícil ganhar uma Champions», mas jamais «pode faltar ambição ao Benfica» para lutar por esse desígnio. «Esse tem de ser um dos nossos objetivos. Nós não somos de Portugal, somos do Mundo», sublinhou, em sábia alusão aos milhares de adeptos, portugueses ou não, espalhados por todos os continentes, que vibram com os sucessos da águia e sofrem com os seus fracassos.
Semelhante ambiente de euforia verificou-se nas Casas de Paredes e de Gaia, perante adeptos necessitados de palavras de confiança e de esperança, principalmente, num futuro que seja merecedor da herança do Benfica de Eusébio.
RUI COSTA sabe muito bem que os desempenhos internacionais têm ficado aquém do que seria desejável. É urgente corrigir, de modo a honrar a história, estabilizar o presente e enfrentar os desafios vindouros com a coragem e a ousadia de quem já teve lugar reservado na mesa onde apenas se sentam os grande da Europa.
Nas suas primeiras intervenções em tempo eleitoral teve o cuidado de manter uma linha coerente no discurso, alicerçada em inequívoca vontade de evoluir, na sequência, aliás, do que expressara em entrevista à TVI, quando afirmou que «um clube com a dimensão do Benfica não pode estar fora da Liga dos Campeões». Não pode mesmo, é uma questão de sobrevivência enquanto emblema que quer ver fortalecida a sua abrangência planetária e não o contrário. Sobre este ponto em concreto, Rui Costa apresenta uma ideia estruturada e reconhece que o voo da águia não pode ficar limitado ao futebol interno. Precisa de passar fronteiras, ampliar horizontes, gerar riquezas e competir com os melhores.
O primeiro aviso está dado. Seja quem for o treinador que vier a ser contratado, Jorge Jesus ou outro, fica desde já alertado para uma situação que, embora sendo óbvia, estranhamente, ainda faz confusão a muito boa gente: o título nacional e uma participação relevante na Champions, com acesso à fase de eliminatórias, de preferência, são objetivos conciliáveis, diria obrigatórios, que dispensam análises e reflexões, e quem não se sentir com envergadura para levar a empreitada por diante terá de dar o lugar a outro, simplesmente.
Repare-se no caso do FC Porto, durante o consulado de Sérgio Conceição, em que a formação dos seus planteis tem sido condicionada pelo controlo financeiro imposto pela UEFA. Mesmo assim, foi campeão em 2018 e 2020 e na Champions registou oitavos de final, em 2018, quartos de final, em 2019, ausência, em 2020, e quartos de final, em 2021. No mesmo período, o Benfica ganhou um campeonato e na Liga dos Campeões foi último no grupo (só derrotas e um golo marcado), em 2018, terceiro nos grupos, em 2019 e 2020 (caindo para a Liga Europa), e esteve ausente em 2021. As diferenças são notórias e as consequências colossais, em termos desportivos e financeiros.
ESTE é o ponto de partida para a mudança inadiável: expandir o universo do Benfica. O resto acontecerá naturalmente e não se pense que só haverá condições para progredir se houver muito dinheiro para gastar. Exemplos abundantes revelam-nos que assim não é. Com medidas acertadas e contratações cuidadas pode atingir-se o mesmo resultado sem ferir o equilíbrio nas contas, sendo certo que o futebol é pródigo em gastos escandalosos de duvidosa utilidade. Igualmente sobre este ponto o candidato quer acabar com os segredos em negócios misteriosos, prometendo que as transferências serão explicadas com a máxima clareza em todas as janelas de mercado.
É mais um passo em frente. Assim se faz o caminho. A sua presença aglutina e a sua palavra conforta. O adepto anónimo quer paz e confia nele para unir a família benfiquista. O que aumenta sobremaneira a responsabilidade de Rui Costa.