Abel e Jesus
Até que ponto ver Abel na final da Libertadores relativiza o feito anterior de Jesus?
D Á que pensar a forma como analisamos a presença do Palmeiras de Abel Ferreira na final da Libertadores, por comparação com o que aconteceu aquando do mesma presença do Flamengo de Jesus - que viria a ganhar a competição. Estou convencido de que se Abel Ferreira também vencer a Libertadores o cenário de desfavor não irá alterar-se: não terá o mesmo destaque.
As situações devem ser comparadas. Abel Ferreira chegou ao Palmeiras, que só tinha vencido a Libertadores uma vez, em 1999, e fez quatro jogos na Libertadores, afastando o Libertad nos quartos e o River Plate nas meias. Jesus chegara ao Flamengo em 2019, que só tinha vencido, então, a Libertadores uma vez, em 1981, e fez seis jogos antes da final, em eliminatórias com Emelec, Internacional e o Grêmio. Se o percurso é parecido, por que razão o efeito mediático não é?
A razão que aponto prende-se com o percurso e a familiaridade de Jesus, um treinador com 16 títulos de destaque na carreira e um passado de 30 anos que se distancia dos anos de Abel Ferreira como técnico principal, e ainda sem títulos. Mas não deveria, então, o feito de Abel, pela inexperiência, ser o mais valorizado? Talvez. Mas não é.
É evidente, porém, que se Abel ganhar a Libertadores isso normalizará a conquista de Jesus. Não apagará jamais o facto de Jesus ter sido o primeiro, o que abriu portas (e nem todos têm conseguido sequer aproximar-se, como Jesualdo Ferreira ou Sá Pinto), mas relativiza, sim, a dimensão da conquista. Fica a parecer que é mais fácil do que seguramente é.
Por outro lado, num momento sensível, o treinador do Benfica foi elegante na abordagem quando lhe perguntaram se estava satisfeito por ver Abel Ferreira na mesma final da Libertadores. Disse que sim, que o desejava ver ganhar também. Só Jesus conhecerá o grau de sinceridade do que disse e eu jamais ousaria colocar tal manifestação em causa. Terá sido até libertador dizê-lo assim.