A vacina da paciência
ESTÁ a chegar e poucas vezes na vida, cada um de nós, tanto ansiou por algo ou alguém que chega. É a vacina contra o Covid-19, um vírus que infetou o mundo, matou milhões, abalou as economias, das mais fortes às mais frágeis, marcou a vida familiar, profissional, social em todos os povos, em todas as latitudes da Terra.
Os britânicos adiantaram-se e começam a vacinar já para a semana. Há virologistas que acham a decisão apressada, mas no número 10 de Downing Street o mais ilustre morador entende que não há risco, ou que o risco, a existir, vale a pena. Os Estados Unidos dizem estar prontos para a grande operação e a Europa, enfim, reage como deveria reagir sempre: uma voz, um corpo, uma ideia igualitária de respeito pelos cidadão (todos os cidadãos) europeus.
Portugal entra, assim, no grande desfile da distribuição europeia. Ao país cabe apenas a parte logística da operação. Há quem tema por isso. Há quem invoque o desastre da distribuição limitada da vacina da gripe, algo que seria bem mais fácil resolver. Há quem relembre a eterna desorganização nacional, quem faça contas às vinte e duas milhões de doses e divida por pessoas, pela burocracia e por todos os escolhos do sistema.
É verdade que os portugueses são dos melhores europeus na maledicência de si próprios, mas, no caso, leva-se a dúvida à conta de uma ansiosa espera por esta vacina da paciência.
Pede-se, por isso, um pouco mais de resistência física e psicológica, mas é impossível prever quanto mais. Certamente meses, provavelmente perto de um ano.
Oxalá que tudo corra pelo melhor e que este tempo terrível e penoso passe de vez. Será como que um renascer. Da vida e da alegria de a podermos viver em todo o seu esplendor, o que desde logo inclui o desporto, a todos os níveis, esse parente pobre tão desvalorizado, tão apequenado em toda a sua dimensão social, cultural, económica, pelo poder político.
Esperança é a palavra que neste dicionário pandémico vem logo a seguir a medo.
DESTA vez, Jorge Jesus e Sérgio Conceição estão de acordo. É tão raro que se deve assinalar. Estão de acordo em que a prova mais importante para cada um deles e para os seus clubes é a Liga portuguesa. É, evidentemente, uma valorização do produto regional, mas é, ao mesmo tempo, uma confissão do melhor exemplo do realismo. Tanto Jorge como Sérgio aceitam que o mais importante está feito: levar as suas equipas à fase eliminatória das provas europeias em que participam.
No caso do FC Porto, talvez se compreenda melhor, trata-se da Champions onde qualquer equipa portuguesa tem poucas hipóteses de se aproximar muito das meias finais e da final. No caso do Benfica, dependerá ainda da roda do sorteio. Mas é bem verdade que os dois treinadores pensam em agradar aos seus empregadores e aos seus adeptos. Eles também são unânimes sobre as prioridades desportivas dos seus clubes. Ser campeão nacional é o principal desígnio, apesar de já tantas e tantas vezes o terem sido.
Este ano, por sinal, até pode acontecer que não seja bem uma repetitiva corrida a dois. Sporting e SC Braga têm legítimas ambições em complicar a vida aos habituais titulares da coroa. Neste momento - logo se verá no futuro - candidatos são quatro. O que é um luxo e um privilégio para o futebol nacional, até porque tal acontece mais por virtude dos novos passageiros da primeira carruagem, do que por defeito dos que nela sempre se instalam. Mudar as rotinas é bom. No futebol, como em qualquer outro setor.