A última estação

OPINIÃO28.08.201804:00

Salónica é a última estação da candidatura europeia do Benfica, ficando a saber-se amanhã se, com 43 milhões de euros na bagagem, fará o transbordo para o comboio de alta velocidade em direção à Liga dos Campeões ou se, apenas com uns trocos nos bolsos, terá de embarcar na  automotora com destino à Liga Europa.  

A opção é simples: ou vence a eliminatória com o PAOK, como é sua obrigação, e não se fala mais no assunto, ou perde a eliminatória com o PAOK e cava um buraco financeiro muito difícil de reparar, além de abrir uma crise desportiva de consequências incalculáveis, não só pela quebra de confiança no treinador, fortemente abalada desde o fracasso no penta, mas também pelo brutal golpe que o prestígio  do emblema da águia sofrerá se eventual desaire lhe barrar a entrada na principal montra da UEFA.

Os dados estão lançados,  mas o que parecia ser um objetivo de grau de dificuldade moderado em função da fraca cotação  do opositor, transformou-se, talvez, num caso de enorme complexidade por força das preocupações que  Rui Vitória, antes e depois do dérbi, trouxe  à colação, as quais tornaram mais evidente, do meu  ponto de vista, a falta que Luís Filipe Vieira faz ao grupo.   

 1.ª - colocou em cima da mesa  questão perfeitamente inútil e que  tem a ver com o que chamou a defesa da «representação do futebol luso» no exterior, como se essa questão tivesse alguma relevância nesta altura, sobretudo vinda de quem vem, que, na temporada transata, sujeitou a águia  à humilhação do pior desempenho na sua história: seis jogos=seis derrotas.  

2.ª - justificou a sua tese com o exemplo do SC Braga, que jogou  numa  quinta-feira (eliminado por débil Zorya) e no domingo seguinte defrontou o Santa Clara nos Açores. Perdeu dois pontos? Pois perdeu. E depois? A culpa terá sido da viagem de avião ou da deficiente atitude da equipa bracarense - ou  de alguns dos seus jogadores -,   ao desligar-se da competição na segunda parte?

3.ª - surpreendeu com o recurso ao argumento do pouco tempo para preparar o dérbi, mais a fadiga, teoria  em conflito com o que deve ter ouvido na universidade e que aponta em sentido  contrário: jogar de três  em três dias não provoca fadiga porque os jogadores gostam  mais de jogar do que de treinar. 

4.ª - foi deslocada a referência que fez  à folga do Sporting  marcada para dia seguinte ao jogo da Luz, privilégio do qual lamentou não poder usufruir devido ao facto de, logo pelas nove horas, estar a preparar o jogo de amanhã, na Grécia. Francamente, onde reside o problema? O tema não foi colocado a José Peseiro, mas acredito que  se alguém o tivesse feito ele teria respondido que não se importaria de trocar os papeis e de ser o Sporting, mesmo sem descanso,  a ir à luta por um lugar na Champions. Julgo ser óbvio… Enfim, fico-me por aqui.

Rui Vitória sabe de si, sendo certo que quem é treinador de clube grande como o Benfica, com o nome inscrito no quadro de honra do futebol mundial, deve adequar os seus comentários aos padrões de grandeza do emblema que representa, independentemente  da personalidade, do caráter, da competência ou da educação. É assim mesmo, faz parte das regras.

Uma boa comunicação não marca golos, mas talvez ajude a conquistar títulos. E uma comunicação para ser eficaz deve ser comunicativa, exatamente o inverso daquela  que foi feita por Vitória em que perpassou a ideia de alguma atrapalhação para explicar duas  derrotas por um-um, através de argumentário do passado quando as chamadas vitórias morais eram o remédio que aliviava as dores dos adeptos: perdíamos, mas jogávamos melhor…

Não sendo erudito, nem  artífice da palavra cantada, de cada vez que Jesus fala, como se diz na arte de imprimir jornais, as máquinas param. Não me incluo no seu rol de admiradores, mas reconheço-lhe  especial intuição  para soprar  títulos aos jornais…

Um jeito que Vitória desdenha, como recentemente manifestou.   Faz mal, porque os títulos dos jornais são o veículo mais veloz e poderoso para enviar uma mensagem. Nos clubes onde antes trabalhou  as dúvidas diluíam-se à saída dos treinos em conversas  com uma dúzia de adeptos. Ao nível do Benfica, dada a sua expressão planetária, a comunicação boca a boca  é impossível. Treinador que não entende isto, é treinador que fala mal com a família benfiquista.

Alarmante será, porém, se a responsabilidade não for só dele.

Sérgio Conceição exemplar 

«Aderrota é justa», respondeu Sérgio Conceição, sem meias palavras sobre o que considerou ter sido uma reprovável exibição  dos seus jogadores, vencidos pelo Vitória de Guimarães (2-3) no Estádio do Dragão depois de estarem em vantagem, por 2-0, ao intervalo.

Não me recordo de algum treinador ter tido reação tão enérgica, ao mesmo tempo genuína e agreste. O resultado negativo foi um marcar passo não programado que o treinador habilmente redesenhou, dando-lhe a   forma de  uma  rampa de lançamento para o objetivo supremo: a reconquista do título.

O exercício da autoridade nunca deve ser adiado e, com bom ou mau feitio, fica ao gosto de cada qual. Sérgio Conceição voltou a ser exemplar.