A transparência
Rui Costa está, para já, a ganhar na recuperação da alma do Benfica; mas faltarão reformas?
NUM grande clube de futebol, sobretudo num grande clube, como é o Benfica, os resultados da equipa principal são, evidentemente, a bússola dos adeptos. E todos sabem como os resultados podem disfarçar tanta coisa. Se a equipa está por cima, pouco se questiona o que está por baixo; se a equipa está por baixo, tudo o resto vem ao de cima. De momento, o farol ilumina o presidente Rui Costa e o treinador Schmidt, porque os resultados dão evidentemente cobertura ao estado de alma dos adeptos e a todas as decisões da governação. Difícil é quando os bons resultados desaparecem. Nessa altura, a melhor cobertura costuma ser as reformas e o contributo real para um clube mais transparente. E mais bem governado.
Rui Costa ergueu, sempre, a bandeira da transparência, e fez bem. Magnífico sinal o que deu quando explicou na televisão do clube tudo o que, globalmente, os adeptos queriam saber sobre a contratação do novo treinador, a construção do atual plantel, os méritos e as dificuldades nas chamadas operações de mercado, o que foi conseguido e o que não foi, como será inesquecível, por enquanto, o caso de Ricardo Horta.
Mas o que os benfiquistas esperam é que a transparência aparentemente exibida pelo presidente do clube e da SAD quando fala de futebol se estenda às diferentes atividades da organização-Benfica, quer sejam do ponto de vista desportivo, quer sejam, também, do ponto de vista financeiro e empresarial.
Sim, respira-se aura tremendamente positiva, por agora, no universo do futebol encarnado, e sente-se, sobretudo, essa atmosfera nos jogos no Estádio da Luz, como se viu, esta semana, na grande noite de futebol que o Benfica foi capaz de proporcionar aos seus adeptos, desafiando, olhos nos olhos, o poderoso, talentoso, genial e milionário PSG, do mais imprevisível, capaz, hábil, inventivo, inteligente e artístico tridente atacante do mundo, que junta a Neymar e Mbappé o maior driblador da história como é Lionel Messi.
Mas, apesar de tudo isso, é impossível ignorar algumas das expressões (e das intenções) do número 2 da Direção de Rui Costa - e número 2, naturalmente, da administração da SAD - na última assembleia geral do clube, faz hoje exatamente oito dias.
Luís Mendes, que Rui Costa trouxe para a sua equipa pelo conhecimento da área financeira, pode não ter falado muito, mas falou o suficiente para deixar de fora o rabo de um gato que tem, porventura, andado demasiado escondido, quanto a eventuais conflitos entre a visão de parte dos órgãos sociais (liderada por Luís Mendes) e a visão da designada estrutura profissional (criada por Filipe Vieira e há muito comandada por Domingos Soares de Oliveira) no que diz respeito a procedimentos, estratégia e controlo das diferentes operações económico-financeiras do universo empresarial das águias.
No discurso de Luís Mendes aos sócios, a expressão «controlo de custos» foi dominante. Ele saberá do que fala, mesmo que estivessem apenas em debate as contas do clube. «É fundamental exercer controlo rigoroso sobre os custos, procurando pagar o justo valor por todos os bens e serviços», disse Mendes. Mas foi a afirmação seguinte que deixou o alerta: «Isso é tão fácil. Basta amar o Benfica que se consegue!»
A clara a intenção de Rui Costa deixar a Mendes a responsabilidade de arrumar financeiramente a casa da águia é tarefa que corre o risco, como sucede em muitas das grandes organizações, de colidir com eventuais interesses ou poderes instalados. As batalhas costumam começar por aí. Veremos o que se segue.
O que o presidente Rui Costa talvez não possa ignorar - pelo que se percebe quando se toma o pulso da nação encarnada - é a necessidade de fazer realmente reformas estruturais na organização benfiquista. Se o fizer, com a transparência que procura, e bem, transmitir, não ficará certamente tão refém dos resultados do futebol, que só lhe darão cobertura enquanto forem positivos. Rui Costa, presidente e símbolo da Luz, sabe-o muito bem!
RECEBI de um leitor (António Augusto Silva, de Estarreja) nota de que o bicampeão europeu pelo Benfica, Fernando Cruz - homenageado, aliás, esta semana, na Luz -, não terminou a sua vida profissional de jogador em França, no Paris Saint-Germain, ao contrário do que eu próprio escrevi na edição de A BOLA da última terça-feira, mas sim na América, tendo alegadamente jogado, por fim, ainda na Venezuela (Clube Deportivo Portugués, de Caracas) e, talvez, até nos Estados Unidos, sem que existam, porém, registos da época.
A verdade, caro leitor, é que o glorioso Fernando Cruz (dos poucos a jogar as cinco grandes finais europeias da águia na década de 60) concluiu, realmente, em Paris uma vida de competição a sério, jogando na primeira época de existência do Paris Saint-Germain (fundado em 1970), como titular da equipa que venceria, nessa temporada (1970/1971), a última de Cruz a um bom nível, o campeonato francês da segunda divisão.
Naquele tempo, era frequente muitas das nossas estrelas (e não só) partirem, depois, para as Américas (uns rumo ao México, outros aos Estados Unidos, outros, pelos vistos, para junto da extensa comunidade portuguesa na Venezuela) para ainda dar uns bons chutos na bola e amealharem algum bom dinheiro, mas, compreensivelmente, sem o nível competitivo da carreira que tinham feito, com princípio, meio e fim, no futebol europeu.
Foi assim, por exemplo, com os grandes Eusébio e Simões, dois nomes maiores da história do Benfica, que também andaram por terras de Tio Sam, assim terá sido também com o grande Cruz, como nos explica este interessado leitor, um Cruz que acabou, aliás, por viver uma significativa parte da sua vida nos Estados Unidos, e se instalou agora, aos 82 anos, na região centro de Portugal, de onde veio, quarta-feira, para ser homenageado, na Luz, pelo presidente Rui Costa, a propósito, precisamente, da visita do PSG, a única outra camisola europeia que Cruz vestiu, depois de dez brilhantes épocas de águia ao peito.
COMO o espanhol António Adán, também o inglês Joe Hart tem 35 anos e quase 20 como guarda-redes profissional. Adán tem a experiência de uma das grandes Ligas, a espanhola, em grandes clubes como o Real Madrid e Atl. Madrid, embora jogando pouco, e Hart tem a experiência de outra grande Liga, a Premier inglesa, sobretudo num grande clube como o City, onde jogou sempre muito. Tal como Adán, agora pelo Sporting, também Joe Hart, agora na baliza dos escoceses do Celtic, teve semana para esquecer nesta jornada da Champions.
Enquanto o experiente Adán entregava o ouro ao bandido, terça-feira, em França, estendendo ao Marselha o tapete da vitória, o experiente Joe Hart entregou o ouro ao bandido no dia seguinte, na Alemanha, permitindo ao avançado português André Silva dar estocada decisiva para a vitória do RB Leipzig sobre o Celtic de outro português, o ex-Benfica Jota.
O futebol é um jogo coletivo, mas depende muito, evidentemente, do atributo, da criação e do erro individual. Infelizmente para os guarda-redes, na baliza o preço do erro é muito mais caro, porque raramente há quem os possa amparar.
Na Luz, por exemplo, na grande noite de futebol que quase 63 mil pessoas tiveram o privilégio de assistir ao vivo, Ramos, Neres, o monstruoso miúdo que é António Silva e, por fim, Rafa desperdiçaram boas chances de golo, mas acabam ligados, mesmo assim, ao lado bom do jogo. Ou seja: o erro na baliza adversária nunca terá o custo do erro na própria baliza. Nunca. E na Luz, foram, aliás, os dois guarda-redes os principais senhores do jogo - gigante, na baliza do Benfica, o tão discutido Vlachodimos, e gigantescos, na baliza do PSG, os quase dois metros do italiano Donnarumma.
Os erros de Antonio Adán em Marselha só serão esquecidos se o Sporting passar aos oitavos de final da Liga dos Campeões - e, calma, nada de dramas, a coisa continua, naturalmente, bem encaminhada, e recebendo Marselha e Frankfurt em Alvalade, o leão só precisa de ser igual a ele próprio.
Mas se não passar, então Adán vai ter mesmo de puxar da maturidade dos 35 anos de idade para se libertar do peso daqueles erros. O futebol é cruel. E, na crueldade do futebol, a angústia do guarda-redes pode ser realmente a pior de todas.
Não surpreende, pois, que alguns guarda-redes tenham passado a ser tão caros, e às vezes mais caros ainda do que os grandes avançados, porque nenhuma equipa grande pode ser verdadeiramente grande equipa sem um grande avançado, sim, mas também sem um grande guarda-redes. De preferência, que seja mentalmente de aço!
PS: Terça-feira, 4 de outubro, são anunciadas as ‘violentas’ suspensões de sete dos corredores da W52-FC Porto (aguardam-se mais castigos) envolvidos em megaoperação de combate ao ‘doping’ no ciclismo. Com esta dimensão, e com toda uma equipa, não me lembro de nada semelhante, a não ser o ‘escândalo’ que destronou o ídolo Lance Armstrong. O que custa mais a engolir, confesso, é toda esta vergonha parecer, para alguns, uma surpresa!...