A tradição ainda manda
A infração «clara, óbvia e evidente» de Sagnan, defesa do Tondela, segundo Duarte Gomes, pode resumir-se, do meu ponto de vista, a um penálti ‘inventado’ por Taremi
SE contra factos não há argumentos, o Benfica sente-se no direito de expressar a sua indignação por ter sido claramente prejudicado nas últimas jornadas em dois erros de palmatória, o primeiro na derrota (1-2) diante do Gil Vicente e este sábado no empate (1-1) com o Vizela, não me atrevendo, porém, a traduzir em pontos as falhas graves quer de Artur Soares Dias, quer de Manuel Oliveira, dois representantes da Associação de Futebol do Porto.
Mera coincidência, embora haja quem tenha interpretação diferente e acredite que a tradição ainda manda. Talvez não seja exatamente assim, mas a verdade é que parece ser, por culpa de desempenhos descuidados e que alguns especialistas atribuem a uma crise generalizada na arte de bem apitar, por défice de qualidade de boa parte dos juízes e ausência de vontade em libertar a arbitragem do isolamento em que sempre viveu, continua a viver e gosta de viver.
A atuação da APAF (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol), que se sobrepõe ao próprio Conselho de Arbitragem da FPF, é exemplo disso mesmo, intolerante com quem ousa criticar os seus associados. O problema é que olha só para a parte que lhe interessa, ignorando a outra, igualmente reprovável, e que tem a ver com a iniludível decadência do setor, de que o jogo do passado domingo, no Dragão, é apenas o último exemplo e em que o protagonista é outro árbitro do Porto.
O lance entre Sagnan e Taremi...
Os esclarecimentos eminentemente técnicos foram-me dados pela voz sábia e sensata de Pedro Henriques, em A BOLA TV, na noite de domingo. Ouvi, registei e aprendi. Também não duvido do imenso potencial de Gustavo Correia, mas a infração «clara, óbvia e evidente» de Sagnan, defesa do Tondela, numa análise «tecnicamente indiscutível», segundo a opinião abalizada de Duarte Gomes, pode resumir-se, do meu ponto de vista, a um penálti inventado por Taremi.
Nos dois casos em que o Benfica se considera lesado, enquanto Artur Soares Dias decidiu depressa e mal porque quis, sem dar importância ao VAR, Manuel Oliveira, por sua vez, não terá descortinado a infração para penálti na área do Vizela devido ao aglomerado de jogadores. Era muito difícil para o árbitro, mas muito fácil para o VAR ver o que todos vimos e avisá-lo para rever o lance. Se não o fez, cometeu um erro grave, mas se o fez e o árbitro não ligou então tratou-se de um procedimento muitíssimo grave. Nunca saberemos, porém, pela razão simples da palavra transparência ser ignorada pelo Conselho de Arbitragem, escondido por detrás de um silêncio irritante e definidor de quem teme enfrentar o mundo.
Entre seis pontos, o máximo que poderia ter recolhido, e um, o pecúlio contabilizado nos dois jogos, cada qual é livre de avaliar a extensão dos prejuízos como quiser, sendo certo que em ambos se exigia mais e melhor dos jogadores do Benfica.
Artur Soares Dias, constou, que ficaria de castigo, mas como A BOLA esclareceu já tinha um jogo marcado nas Arábias; quanto a André Narciso e respetivo assistente, os ajudantes de Manuel Oliveira, espera-se para saber se alguma coisa irá acontecer e se alguma explicação será dada. Entretanto, é natural que por esta altura o sindicato do apito já se tenha queixado da impertinência de Nélson Veríssimo aos órgãos disciplinares: «Penálti em mão evidente e o VAR não corrige o erro?» Isso é pergunta que se faça? A APAF não deve perdoar-lhe…
HONRAR OS CAMPEÕES EUROPEUS
HOJE é um dia muito importante para o presente e o futuro do Benfica. Joga a segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões com o Ajax e, estando a eliminatória em aberto depois do empate na Luz, esperam os adeptos da águia que nenhuma alma bondosa se lembre de esgrimir como desculpa tática a sobrecarga de jogos, o cansaço dos jogadores ou o pouco tempo de recuperação.
Frente ao Vizela, com menos um elemento, Veríssimo demorou a ler o jogo e deu a ideia de ser daqueles treinadores que fazem substituições à hora certa. Se ao intervalo tivesse tirado Diogo Gonçalves, desviado Darwin para a esquerda, com liberdade para correr e destruir defesas, colocado Meité no eixo central e adiantado Gonçalo Ramos (cuidado, não exagere no esforço a que está a obrigá-lo), teria feito o mesmo que fez, mas com vinte minutos de avanço. Assim, foi fintado pela perspicácia de Álvaro Pacheco e deixou que a coesão da sua equipa fosse corroída pela ansiedade.
Esta noite é completamente diferente, pelo significado, pelo dinheiro e, sobretudo, pela história, sugerindo-se que a estrutura do futebol profissional dispense uns minutos do seu preenchido tempo para explicar aos jogadores o que simboliza este regresso a Amesterdão. Faz sessenta anos (a 2 de maio) que o Benfica conquistou a sua segunda Taça dos Campeões Europeus ao derrotar, em final empolgante, por 5-3, o poderosíssimo Real Madrid de Di Stefano, Puskas, Gento, Del Sol , Santamaría e Araquistain, com golos de José Águas, Cavém, Mário Coluna e Eusébio (dois).
Costa Pereira, Mário João, Germano, Ângelo, Cavém, Cruz, José Augusto, Eusébio, José Águas, Coluna e Simões foram os onze heróis do Benfica. Aos que alinharem hoje pede-se-lhes que, no mínimo, sejam capazes de honrar a proeza dos campeões europeus de 1962.