A solidão do treinador

OPINIÃO25.04.201904:00

O treinador de futebol é, muitas vezes, um homem só. Apesar de trabalhar numa equipa multidisciplinar, cabe-lhe sempre a última palavra. Na maioria dos casos, é tudo menos uma decisão colegial e daí que seja sempre a um (e não a uns) a quem seja pedida a cabeça em caso de insucesso. Atrevo-me a dizer que é mais difícil ser um treinador de topo que um jogador de topo. E talvez seja por isso que é raro encontrar alguém, na história do futebol, que tenha sido tão genial no banco quanto o foi no relvado. Só me recordo de um: Johan Cruyff. Não por acaso, na sua última biografia, o antigo técnico de Ajax e Barcelona dedicou muito mais páginas à carreira de treinador que à de jogador. A criação de conceitos e de uma estética e a capacidade de lidar com um balneário terão sido tarefas mais estimulantes. O prazer de liderar em vez de ser liderado. Olhando para os grandes treinadores da atualidade com passado de jogadores, todos são melhores no cargo que exercem atualmente: Guardiola, Klopp, Simeone, Pochettino, Ten Hag, Allegri. E só dois que foram melhores em campo que no banco: Zidane e Ancelotti.


No caso português, destaco três pela atualidade: Nuno Espírito Santo, Marco Silva e Abel Ferreira. Apesar das carreiras sólidas como jogadores, são ainda melhores como treinadores. O primeiro está a fazer trabalho notável no Wolverhampton (venha o que vier a acontecer até ao final da época), o segundo agarrou de vez as rédeas de um clube exigente como o Everton e o terceiro tem sido um excelente exemplo de perseverança e inteligência. Repare: nenhum jogador do onze-base do SC Braga seria titular indiscutível num dos três grandes e mesmo assim os minhotos andaram a maior parte do tempo a discutir o título com Benfica e FC Porto. Abel é treinador da cabeça aos pés. Melhor, dos pés à cabeça.