A procissão ainda vai no adro
Ver que as contratações estão a ser feitas com rigor, sem espalhafato, sem se verem chegar camiões de jogadores sem que se perceba porquê (como um clube de Lisboa que compra jogadores que toda a gente sabe que nunca jogarão nesse clube), que só quando os jogadores são apresentados é que sabemos que vêm mesmo para o clube faz todos os portistas respirarem fundo e pensar que tudo regressou à normalidade.
Como o mercado está e com a qualidade demonstrada pelos jogadores do FC Porto na última época são de esperar grandes dificuldades para manter os jogadores que mais vezes jogaram. É da vida e não tem sido esse normal assédio aos nossos jogadores que tem impedido o brasão abençoado de somar vitórias. É verdade que a cada ano que passa, com a chegada de cargueiros cheios de dinheiro a alguns clubes europeus mais a vontade de os patrões do futebol em destruir o jogo como o conhecemos, é cada vez mais difícil a tarefa de reconstruir o plantel. Não há solução, porém. Temos de o fazer, há um campeonato e taças para vencer.
Ainda a procissão vai no adro e foi pela defesa que os tubarões atacaram.
Perdemos os nossos dois melhores defesas direitos, um central que era parte da espinha dorsal da equipa e o principal suplente está em vias de ir pelo mesmo caminho. Se a isso somarmos a necessidade de ter um defesa esquerdo que compita com Alex Telles (cruzes, canhoto) é fácil perceber que a tarefa de substituir esta gente toda por outros rapazes, no mínimo, de semelhante valia não será nada fácil - e, claro, resta-nos confiar no mister para ter a tempo, o que não será fácil, uma defesa rotinada: aspeto chave para todas as conquistas. Tendo já falado da questão Dalot - e do que se está a passar com os jogadores que saem da formação muito novos - , penso que o negócio que se fez com o Ricardo foi muito bom para o FC Porto e estou convencido que seria impossível segurar o Marcano - não me peçam é para tecer elogios a um jogador que foi um excelente profissional, mas que devia ter tido outra consideração por o clube que o promoveu.
Chegou o João Pedro, que foi uma grande promessa do futebol brasileiro, mas que, como é evidente, só lá para a frente saberemos se resulta.
Dos defesas que temos, gostava de ver o Jorge Fernandes ter uma hipótese de ficar no plantel e ainda estou longe de estar convencido de que o Osório não serve para o FC Porto - o rapaz foi crucificado no Restelo mas injustamente - já o Chidozie deve ter evoluído mesmo muito para que se fale dele como podendo ficar na equipa, espero que sim (armando-me em olheiro de pacotilha, há um rapaz africano no Vitória de Guimarães que daria um jeitão para cobrir buracos no lado esquerdo). Gostava de ver chegar um central feito e conhecedor do futebol português, mas admito que não é tarefa nada fácil.
Até Agosto ainda muita água vai correr. Que os tubarões andem distraídos e que os nossos dirigentes mantenham o olho-vivo. Para a semana falamos do meio-campo.
Jorge Jesus
Começo pelo fim: a ida de Jorge Jesus para um clube da Arábia Saudita é um crime lesa-futebol. Como portista tenho todas as razões para não gostar do treinador Jorge Jesus. Foi ele o responsável por o clube da Luz ter dado um salto na qualidade do seu futebol e por ter estruturado uma equipa que depois foi apenas gerida razoavelmente mal pelo atual treinador. Foi também ele que colocou o Sporting como efetivo concorrente ao título nacional. Perdeu até um campeonato de uma forma, digamos assim, estranha. Em Alvalade não teve culpa de ter um atrevidote, que faz as vezes de presidente, que dinamitou o seu trabalho.
A valorização que produziu nos planteis dos nossos rivais lisboetas foi a maior que alguma vez outro treinador fez nesses clubes. Venderam-se jogadores vulgares a preços de estrelas e potenciou rapazes que tinham evidentes qualidades. Enganou-se com alguns? Claro. Mas só uma cegueira completa não permite perceber a excelência do balanço.
Em resumo, é em grande parte (doutras coisas não me apetece discorrer pela enésima vez) Jesus que nós, portistas, devemos acusar de pôr em causa a hegemonia que deixamos de ter, por pouco tempo diga-se, do futebol português.
Não preciso de referir a sua capacidade de montar equipas, de as tornar quase invulneráveis defensivamente, da dinâmica nos processos de ataque, da forma como trabalha os jogadores.
Ver o Jorge Jesus num Al-Hilal desta vida em vez de o vermos num grande europeu diz tudo sobre as lógicas de recrutamento de treinadores e, já agora, de alguns jogadores. Quem perde é o futebol.
Desde que não seja contra o FC Porto, toda a sorte do mundo para o Mister Jorge Jesus.
O ataque vergonhoso ao ‘Jornal de Notícias’
É compreensível a desorientação que está instalada entre os dirigentes do Benfica. Raro é o dia em que não apareça um escândalo que envergonha os benfiquistas. No último ano e meio as autoridades fizeram feitas seis buscas às instalações do clube e os processos relevantes em investigação já vão em cinco. Só mesmo esse extraordinário aliado chamado Bruno de Carvalho tem feito com que a maior vaga de suspeitas de crimes e irregularidades graves que um clube já foi em alvo em Portugal seja tratada pela comunicação social quase como normal.
A tal desorientação leva agora o Benfica a acusar ou, pelo menos, a insinuar que um jornal português, o Jornal de Notícias, com 130 anos e com uma história exemplar de serviço público, faz parte de uma associação criminosa, em capitulares e tudo.
Não há clube ou adepto que já não tenha acusado ou sugerido que um meio de comunicação está mais próximo de um clube. E, escreve um adepto, algumas vezes com razão. Mas chegar-se ao cúmulo de acusar um jornal de associação criminosa, ainda mais quando a notícia que publica é ratificada pela própria Procuradoria-Geral, é completamente novo. Claro está que, hoje por hoje, já nada surpreende nos dirigentes benfiquistas, nisto e noutras coisas.
O grande Miguel Miranda
O basquetebol do FC Porto fez um bom jogo na negra, na Luz, e passou à final do campeonato nacional. Haverá tempo para uma homenagem, que tenho há muito adiada, a um dos nossos, a um homem que tanto tem dado ao FC Porto e ao basquete nacional: Moncho López. Entretanto fica a nota para a exibição do Miguel Miranda, um rapazinho de 39 anos que fez uma fantástica exibição.