A primeira Liga das Nações

OPINIÃO09.06.201904:00

1 Hoje, num Estádio do Dragão esgotado, assistiremos à final da primeira edição da Liga das Nações. Em outros estádios da Europa disputam-se jogos da fase de grupos do acesso ao singular Europeu de 2020. Singular em razão da sua realização por um conjunto de estádios de uma Europa bem alargada. Assisti, nos últimos vinte anos, a alguns confrontos entre Portugal e a Holanda. Vibrei com a nossa vitória - com um pontapé extraordinário do Maniche - no Estádio de Alvalade, no Europeu de 2004. Depois em Nuremberga aplaudi a nossa vitória no Mundial de 2006 e num jogo em que houve quatro vermelhos e dezasseis amarelos! E no Europeu de 2012, em Kharkiv, sofri com a derrota por duas bolas a uma. Hoje será mais um jogo. Mas, para a equipa de Fernando Santos, será, e bem, uma outra final. Com a particularidade de as vitrinas da Cidade do Futebol merecerem, pelo esforço organizativo da nossa Federação, receber o primeiro troféu de uma competição europeia que tem, na sua génese, um forte impulso português. E esta singularidade, que vai de Fernando Gomes a, por excelência, Tiago Craveiro, merecia, para além da assumida liderança de Cristiano Ronaldo e de todos os seus companheiros de Seleção, essa recompensa. Da presença permanente do troféu da primeira Liga das Nações na Cidade do nosso futebol!

2 Vamos ver hoje no Dragão os netos de Cruyff. Há bastantes anos comprei um livro deste grande Senhor do futebol europeu e mundial. Que moldou a Holanda - tal laranja mecânica - e que ajudou a construir o Barcelona de hoje. O livro tem um sugestivo título: «Me gusta el fútbol»! Termina com dez mandamentos acerca do futebol. No primeiro proclama que se deve «desfrutar o futebol para o público e também para os jogadores. O futebol é espetáculo. Se não o for, não é futebol»! No quarto avisa-nos que «a ilusão é, em geral, básica mas é-o, acima de tudo, no futebol»! E no oitavo afirma que «a entrega a cem por cento é absolutamente necessária no futebol». Lendo o livro, e algumas das suas reflexões, acomodo-o plenamente com Cristiano Ronaldo. Com ele sente-se que o futebol é espetáculo, que desfrutamos do jogo e dos golos, que sempre temos a ilusão dos instantes de sonho que ele nos proporciona e que a sua entrega é uma entrega total, uma entrega a cem por cento. E sentindo tudo isto sabemos que vamos entrar hoje no Dragão com a secreta esperança da vitória mas, acima de tudo, com a serena convicção que a Seleção de Portugal tudo fará para nos proporcionar, na noite deste domingo que antecipa o Dia de Portugal - e das Comunidades Portuguesas - uma alegria bem especial. Ele que frente à Suíça foi, uma vez mais, bem especial!  

3 Arrancou ontem mais uma edição de um Mundial de futebol feminino. A França, em diferentes cidades - Paris e Lyon, Rennes e Nice, Montpellier e Le Havre, entre outras - acolhe, até 7 de julho - e a final será em Lyon, cidade do campeão europeu em título - recebe as grandes senhoras do futebol mundial. Noruega e Alemanha, EUA e China, Brasil e Suécia, Itália e Espanha, Japão e Austrália estão entre as vinte e quatro seleções que lutam por tirar o troféu aos EUA, número um do ranking e tricampeão (campeã!) mundial. O que é interessante é que o primeiro Mundial oficial de futebol feminino só ocorreu em 1991 e realizou-se na China. Foi o primeiro organizado pela FIFA, já que anteriormente e sob o patrocínio da Federação Internacional de Futebol Feminino, criada em Itália em 1970, se disputaram dois Mundiais oficiosos, o primeiro em Itália - conquistado pela Dinamarca - e o segundo no México e no qual a Dinamarca voltou a sagrar-se campeã. E nos Jogos Olímpicos de Atlanta o futebol feminino conquista a sua natureza olímpica e em 1999, nos EUA, realiza-se o Mundial da confirmação. E a final entre os EUA e a China teve 90.185 espectadores, no Estádio Rose Bowl! Foi o passo para a UEFA ter criado, em Maio de 2001, a Liga dos Campeões em futebol feminino. Longe vão os tempos da proibição do futebol feminino numa mistura do futebol «não ser adequado para as mulheres» e «afetar a assistência do futebol masculino». O futebol feminino aí está e em força. Em Portugal a chegada do Benfica ao primeiro escalão é uma boa notícia para o futebol português, acompanhando Sporting, Sporting de Braga, Boavista ou Futebol Benfica, entre outros clubes. E o Benfica tem entre as selecionadas do Brasil duas jogadoras, Tayla e Geyse. Ontem a Espanha venceu a África do Sul e entrou com o pé direito no Mundial. Haverá tempos, decerto bem próximos, que algum dos nossos canais televisivos nos proporcionará ver a Alemanha-China, a Noruega-Nigéria e a Espanha-Nigéria. Todos realizados ontem. E hoje um Austrália-Itália, um Brasil-Jamaica (em Grenoble) ou um Inglaterra-Escócia. E no mais apenas dar nota, por ser devida e justa, que Portugal marca presença neste Mundial. Sandra Bastos, uma das grandes árbitras do nosso futebol, está em França, tal como Tiago Martins, este último como VAR. É que, naturalmente, o VAR também marca presença numa igualdade de procedimentos que consagra a total igualdade de género.

4 Paris e o recente Congresso da FIFA terá sido, também, a cidade que lançou as bases para uma candidatura ibérica à organização do Mundial de futebol de 2030. É uma grande notícia. Mostra o arrojo do Doutor Fernando Gomes e, em conjunto com o Presidente da Real Federação Espanhola, uma clara visão estratégica da sedimentação e promoção dos futebóis de Portugal e de Espanha. Entre nós não haverá nem problema de construção de novos estádios, nem necessidade de autoestradas - porventura já com a ferrovia resolvida … - nem de capacidade hoteleira. E claramente temos ambos os Estados em plenas condições para organizar, com êxito, um Mundial de futebol. Força!

5 O Benfica conseguiu, no caso dos emails, uma primeira e saborosa vitória judicial. Como já tinha acontecido, e sem grande repercussão pública, e a este respeito, com uma igualmente bem fundamentada deliberação da ERC, a entidade reguladora da comunicação social. Como escreveu Joseph Roux «gostamos muito da justiça e pouco dos homens justos»! Mas a sentença merece ser lida com atenção, analisada com cuidado e devidamente ponderada. E, em muitos momentos, parece que relemos Victor Hugo: «Ser bom é fácil. O difícil é ser justo»! Difícil mesmo!