A pinta dos treinadores portugueses!
Quando falta preencher apenas uma vaga de treinador (Newcastle) no conjunto das 98 equipas que compõem as cinco ligas mais importantes da Europa - Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França -há dois dados que nos parecem dignos de registo porque confirmam em absoluto o prestigio e reconhecimento internacional dos treinadores portugueses. Assim, num total de 36 treinadores estrangeiros a trabalhar nas big-5 Portugal é o que tem mais: seis (Nuno e Marco Silva em Inglaterra; Paulo Fonseca em Itália; Jardim, Villas Boas e Paulo Sousa em França) sendo o único representado em três ligas. O contingente português dobra o da Espanha, Alemanha e Argentina (todos com três), e deixa a larga distância o de outros países habitualmente fortes na área do treino, como a Holanda (dois) e a França (um). Para se perceber o valor deste sexteto português, basta pensar que neste momento não há nenhum treinador italiano nem britânico a trabalhar numa liga de topo fora da série A e da Premier. A Croácia é o segundo fornecedor estrangeiro das big-5, com quatro treinadores (Niko Kovac e Ante Kovic na Bundesliga; Igor Tudor e Ivan Juric no Calcio), havendo ainda a registar o reconhecimento pela Bundesliga alemã dos progressos feitos pelos vizinhos suíços e austríacos nesta área - no fundo, eles têm tantos emigrantes (3) como os espanhóis e os alemães.
É claro que a qualidade dos treinadores nacionais não se resume à presença nas ligas mais poderosas, mas este é um ponto de viragem muito importante porque até há bem pouco tempo, com a óbvia exceção de José Mourinho, praticamente não havia treinadores portugueses em clubes sonantes das big-5, sendo muito mais fácil encontrá-los na Grécia, na Turquia e no Chipre, em África - no Magrebe e nos países Lusófonos - na Península Arábica e no Extremo Oriente. Nesse aspeto, parece-me que a contratação de Paulo Fonseca para um clube com o historial e a dimensão da Roma tem um enorme significado - a Itália é a pátria dos taticistas e o calcio sempre foi muito cioso dos seus treinadores: em 20 clubes na Série A só há quatro estrangeiros… -; assim como a aposta do Olympique Marselha, um enorme clube francês, em André Villas Boas, um treinador com uma personalidade e uma maneira de estar incomum no futebol de alta-competição.
Hoje o treinador português é sinónimo de qualidade, competência e capacidade de adaptação: veja-se como Abel Ferreira (Braga) acaba de ser contratado pelo campeão grego PAOK, juntando-se a Pedro Martins (Olympiacos) e Miguel Cardoso (AEK Atenas) na aportuguesada liga helénica (os títulos que eles têm ganho ali!), enquanto no Brasil os milhões da imensa nação flamenguista seguem entusiasmados os treinos e a peculiar dialética de Jorge Jesus no ninho do Urubu. Na longínqua China o subestimado (mas competentíssimo!) Vítor Pereira, que levou o Shangai SIPG ao título no ano passado, quebrando uma hegemonia de sete anos do Guangzhou Evergrande (!), já está nos quartos de final da Champions asiática após eliminar nos penalties os sul-coreanos do Jeonbuk, orientados… por José Morais. Vítor Pereira, o tal mal amado que ganhou para o FC Porto dois campeonatos seguidos com uma derrota.. em 60 jogos. E que dizer do selecionador Carlos Queiroz que vai terminar 2019 com dez jogos acumulados em duas fases finais… não tendo sofrido golos em nove deles? (chegou à meia final da Taça da Ásia com o Irão e aos quartos-de-final da Copa América com a Colômbia)…