A paz voltou ao futebol do leão
O estágio do futebol profissional do Sporting, na Suíça, teve a bênção dos santos. Tudo normal, os filmes dos jogos de preparação, a exposição dos jogadores, uns mais afoitos, outros mais moderados, que é a diferença entre os que lutam por um lugar e os querem manter o que já alcançaram. Igualmente um corpo técnico a fazer a sua avaliação com tranquilidade, a tirar as medidas certas ao plantel e proceder aos ajustamentos necessários.
Afinal de contas, será que houve algum problema no Sporting? Houve, e dos grandes, mas, em boa verdade, para quem chega, não parece, prova de que, por detrás dos holofotes, há quem trabalha depressa e bem para devolver a estabilidade à instituição.
O novo treinador desenvolve o seu plano em plena liberdade, com as condicionantes que se conhecem, como é óbvio, mas num quadro de responsabilidade e sem pressões.
Os jogadores, pelo que se depreende das notícias que chegam do estágio, estão empenhados nos treinos e entendem as ideias que lhes são transmitidas, na perspetiva de cada novo dia representar uma progressão em relação ao anterior.
Mais extraordinário ainda, depois da poeirada que conduziu à queda da Direção e quase asfixiou o clube, verifica-se que está em construção uma equipa, não sei se mais forte mas, pelo menos, com idêntica capacidade competitiva do que a da época transata
A paz voltou ao futebol do leão, mas não há milagres. Tudo se deve a um conjunto de decisões que Sousa Cintra teve de tomar, a que aliou um otimismo de nascença, um discurso que lhe vem do coração e um sorriso de gente boa mas não parva.
Sobre os casos pendentes com jogadores, mais importantes do que os que não querem estar ou andam de mão estendida no mercado a ver quem oferece mais, mais importantes do que esses são os estão, os que preparam o ataque à temporada vindoura. Se por um lado deve Sousa Cintra acionar todos os mecanismos jurídicos para salvaguardar os legítimos interesses do Sporting, não deve, por outro, dar a ideia de ceder a exigências destemperadas, nem curvar-se perante a relutância de quem quer enveredar por outro caminho. Tentar acordos a qualquer preço em nada contribuirá para consolidar a harmonia dentro de casa.
Neste momento, em fase de acertos de pormenor, é fundamental a voz de José Peseiro. Todos interessam, mas há uns que interessam mais do que outros, de aí que sugira o bom senso investir em quem verdadeiramente faz falta, na opinião do treinador, em vez de se despender energia e tempo com quem não se sente motivado para ficar.
A entrada de Nani vale mais do que a saída de Gelson Martins. O primeiro tem invejado currículo, o segundo não tem currículo algum.
A renovação de contrato com Bruno Fernandes, anunciada em cerimónia digna, foi a outra relevante conquista de Cintra. «O que ficou claro entre mim e os meus empresários foi que para voltar não queria melhoria de contrato, porque estava bem com o que tinha», foi uma das frases do jogador na reapresentação e que registei.
Quanto ao guarda-redes e ao setor defensivo não se fala mais do assunto. As questões complexas colocam-se daqui para a frente.
Há défice de experiência, alerta o treinador. Agora menos, com Nani (Euro-2020 no horizonte e terminar a carreira no Sporting em plano elevado se for esse o seu entendimento) e Bruno Fernandes (um tesouro cujo real valor a discreta passagem pelo Mundial da Rússia traduziu mal).
As peças vão encaixando no puzzle de Peseiro. Falta ainda uma, duas ou três, em posições identificadas, nada que Cintra, imensamente apaixonado por esta experiência de salvador da nação leonina, não seja capaz de resolver, com moderação no entusiasmo, porém, para não se transformar em vendedor de títulos, a atividade preferida do presidente destituído.
A Cintra pede-se-lhe, tão-somente, que seja o mensageiro da bonança e recoloque o clube na rota do sucesso. Duas batalhas que venceu com iniludível brilhantismo: para que conste, no espaço de duas semanas refez o que o presidente destituído desfez em cinco anos
Até ao dia 8 de setembro José Peseiro sabe com o que conta. Tem a proteção de Cintra. Depois desse dia se verá…
A profusão de candidatos em vez de sinal de vitalidade deve ser vista antes como foco de preocupação. Há o perigo de aproveitamentos por descodificar.
Os associados vão ter a última palavra, mas, seja qual for o presidente eleito, é difícil José Peseiro fazer pior do que Jesus: em três anos, um segundo lugar e dois terceiros. E recebe muito menos…