A parábola de De Bruyne
Darwin não está completamente polido e até ganharia mais sentido com Schmidt
É possível que um passe valha mais do que um golo? Bem sei que, na era de Cristiano e de Messi, o peso de um remate bem-sucedido é ainda maior, com os festejos sucessivos, semana após semana, de português e argentino, resolvendo jogos e atingindo números ridículos, mas já houve um tempo em que os idolatrados eram sobretudo aqueles que serviam os matadores. A preciosa assistência tornava-se, muitas vezes, a pincelada decisiva na obra-prima. Michael Laudrup, entre tantos outros, foi um desses príncipes que viam o que mais ninguém conseguia , tal como o português Rui Costa, na altura de uma Fiorentina eloquente e da melhor seleção portuguesa com a bola nos pés. Lembrei-me outra vez desta espécie em extinção quando vi a parábola contranatura de Kevin De Bruyne, desenhada com o pé esquerdo, para Mahrez. Um momento de génio, entre tantos no belga, sempre quando é preciso encontrar caminhos alternativos para a baliza, e logo hoje, no maior clássico da atualidade, que deveria fazer inveja (ou envergonhar) qualquer grande português. Sim, há dinheiro e muito melhores jogadores, porém joga-se à bola até ao limite. Um limite que, ao contrário do que se passa cá, não atrapalha o bom futebol.
Darwin Núnez, entretanto, assinou um hat-trick e já poucos tentam esconder a mais que provável saída no verão. Não está completamente polido - situações de jogo fundamentais para o mais alto nível, como a receção orientada, a definição no passe e até a capacidade de jogar de costas para a linha de golo têm de continuar a ser muito trabalhadas - e até ganharia ainda mais sentido na esperada verticalização do futebol do Benfica com Roger Schmidt, porém os encarnados, sem entrada garantida na Liga dos Campeões, precisarão de dinheiro para fazer a revolução a que o alemão certamente presidirá. Nada a fazer!