A moda do disparate
O Benfica tem estado no olho do furacão, numa zona de aparente acalmia em consequência das questões que se conhecem e a justiça investiga. É normal num Estado de Direito e apesar de o presidente ter dito já mil vezes que não lhe pesa a consciência e o bom nome da águia vingará, a verdade é que aos ‘juízes de tasco’, os mestres da propaganda ardilosa, tudo serve para debitarem sentenças nas vielas da má-língua.
Surpreende, por isso, que, servindo-se de uma conta ‘SL Benfica Press’, a comunicação encarnada, presumivelmente oficial, acerca do Vitória de Setúbal-FC Porto, tivesse lamentado o «golo limpo» que o árbitro anulou à equipa sadina. No meio de tão rica troca de galhardetes entre rivais ainda deve sobrar paciência para avaliar o grau de asseio dos golos que cada um marca, sendo certo que, em rigor, este foi mesmo pouco limpo.
A isto chama-se mensagem ridícula e ineficaz. Como não tem identificação de autor, compromete o próprio emblema, porque é o Benfica que diz e não um funcionário irresponsável, alegadamente, por ele. Quando João Gabriel era o defensor da imagem do Benfica isto não acontecia. Era ele quem dava a cara, sempre. Com escritos curtos, irónicos, mas certeiros. Não como agora, em que parece dar-se mais importância à moda do disparate.
O que, segundo fonte bem colocada, suscita outro tipo de dificuldade para Vieira de maneira a salvaguardar o prestígio da instituição que lidera: no Benfica, gente a gabar-se de boas ideias é o que mais se vê, mas quando cheira a problemas fica só o presidente para os resolver.
Mudar com sensatez
Na cruzada leonina de prescindir dos serviços de quem estava associado ao consulado do presidente destituído e desempenhava funções em áreas de forte exposição pública, pode deduzir-se que houve essa intenção e que foi ativada sem ferir, jamais, o superior interesse do Sporting.
Não houve um cortar a direito, de olhos fechados. Houve, sim, o cuidado de tratar cada caso individualmente, no tempo certo, razão pela qual, em função da complexidade de cada um,só recentemente, já com o novo presidente, se tivesse percebido o que iria mudar em matéria de comunicação, a institucional, em sentido lato, que é a palavra do clube, e a específica, que se concentra no tratamento adequado de todos os aspetos relacionados com o futebol profissional.
Verifico que a mudança foi radical, mas não total. Frederico Varandas soube decidir com sensatez e profundo conhecimento dos segredos de balneário, local de acesso muito reservado. Prescindiu de quem não interessava e manteve a confiança em quem desempenhou o seu trabalho com competência e dedicação.
Além de irrepreensível sentido profissional, Paulo Cintrão soube separar as águas e viu a sua integridade reconhecida, pese a suspeita de não terem faltado candidatos a substituí-lo em cargo de brutal promoção social e, por isso mesmo, avidamente namorado por vaidosos, convencidos, gabarolas e similares.
O jornalista André Leitão, que trabalhou em A BOLA antes de abraçar o desafio na comunicação das modalidades do Sporting, igualmente mereceu a concordância da Direção recentemente eleita e, pelo que julgo saber, viu até ampliado o seu espaço de intervenção, prova provada de que em atividade sensível e frequentemente utilizada com fins duvidosos e pouco éticos as pessoas não são todas iguais.
Entre as tristes figuras que poluíram o ambiente na última temporada não se enxergaram responsáveis pela comunicação do futebol dos clubes, os quais tentaram, apenas, cuidar da saúde do espetáculo sem ligar à gritaria em redor.
Duas comunicações
Ainda a propósito de Cintrão, lembro-me de em abril do ano passado, quando o Sporting fervia, a seguir ao jogo de Madrid, em conferência de imprensa realizada em cenário de alta tensão, Jesus deu o peito às balas e conseguiu dominar o incêndio, tendo contado com a firmeza e a argúcia do seu assessor de imprensa.
É, pois, nítida a diferença entre os comunicadores: os que trabalham no terreno e tratam do futebol, fazendo a ligação diária com os diversos meios de comunicação, apoiando treinadores e jogadores, enfrentando a impaciência de jornalistas como eles, embora em trincheiras diferentes, e os que cirandam nos corredores e gabinetes de diretores e administradores à caça de bisbilhotices e se insinuam nos chamados circuitos de influências para justificarem o que ganham.
A realidade não engana. O extinto Saraiva nunca fez falta em Alvalade, assim como o truculento Marques no Dragão ou o omisso Bernardo na Luz, tal como atuam, se tornam figuras dispensáveis.
No futebol que desejo, verdadeiramente importantes são o Paulo Cintrão no Sporting, o Pedro Amorim no FC Porto, o Ricardo Lemos no Benfica, o André Viana no SC Braga e todos os que executam idênticas tarefas em emblemas de menor dimensão, como o mesmo denodo e a mesma preocupação de fazer bem.
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