A mark, a yen, a buck or a pound

OPINIÃO09.08.202107:00

Lionel Messi disse adeus e no ar pareceu ecoar a famosa canção entoada por Liza Minelli: ‘Money makes de world go around...’

HÁ algo que nos escapa. Messi quer Barcelona, Barcelona quer Messi. Porém, o argentino não fica. E chora. Chora muito. Porquê? Porque, como cantou Liza Minelli, money makes the world go around. Tão around, tão around, que alguém que ganhou, segundo a Forbes, mais de 400 milhões de euros durante a carreira não abdica de continuar a ganhar mais 20 ou 30 milhões anuais. E sai. Sai a chorar, mas sai. Se Messi quisesse mesmo ficar em Barcelona (mas mesmo mesmo), ficaria. Baixava o ordenado para números compatíveis com as finanças do clube catalão e ficava. O presidente quer Messi? Quer. E o treinador? Também. Os adeptos? Sempre. E os companheiros de equipa? Acima de todos. E Messi? Diz que sim. Liza Minelli é que tem razão: A mark, a yen, a buck or a pound; that clinking, clanking sound.

HÁ algo que nos escapa há 17 anos com mais ou menos money around and around: um meio-fundista/fundista masculino finalista nos Jogos Olímpicos (marchadores à parte). Os últimos foram, em 2004, Rui Silva (3.º nos 1500 m) e Alberto Chaíça (8.º na maratona). Daí para cá, zero vírgula zero. Antes, entre 1976 e 1988, o período áureo do fundo português em JO, apenas quatro finalistas: Carlos Lopes (2.º, 10 000 m, 1976; 1.º, maratona, 1984), Aniceto Simões (8.º, 5000 m, 1976), António Leitão (3.º, 5000 m, 1984) e Domingos Castro (4.º, 5 000 m, 1988). E antes de 1976 apenas outro: Manuel Oliveira (4.º, 3000 m obstáculos, 1964).

Oproblema porque algo  de grande no meio-fundo e fundo nos escapa há tanto tempo não se centra apenas nos finalistas, antes também nos semifinalistas: 3 em 1976 (Carlos Lopes, Aniceto Simões e Fernando Mamede), 2 em 1980 (João Campos e Anacleto Pinto), 4 em 1984 (Carlos Lopes, António Leitão, Ezequiel Canário e João Campos), 5 em 1988 (Domingos Castro, Mário Silva, Álvaro Silva, António Pinto e José Regalo), 2 em 1992 (Domingos Castro e Mário Silva), 1 em 1996 (António Pinto), 3 em 2000 (António Pinto, Manuel Silva e José Ramos), 3 em 2004 (Rui Silva, Alberto Chaíça e Manuel Damião), 0 em 2008, 2012, 2016 e 2020. Ou seja, 23 semifinalistas entre 1976 e 2004, 0 daí para cá. 800 metros? Zero. 1500 m? Zero. 5000 m? Zero. 10 000 m? Zero. 3000 m obstáculos? Zero. Maratona? Zero.

MAIS do que saber que existe algo que nos escapa há tanto tempo no meio-fundo e fundo, é preciso descobrir a razão para tal. Há bons treinadores? Há. Os métodos de treino são bons? Talvez. Há bons atletas? Poucos. Há condições de treino? Sim. Grupos de treino fortes? Escassos. Até ser descoberta a razão e posta em prática a solução, resta-nos chorar com as lembranças dos anos 80 e 90. Mas não choremos como Messi. A mark, a yen, a buck or a pound; that clinking, clanking sound.