A Luz não é o Meo Arena
Talvez não fosse má ideia Rui Costa voltar a fazer uma visita ao balneário e falar às tropas, porque uma terceira derrota com o FC Porto na mesma época vai custar a digerir
OBenfica foi campeão em 2010, mas no ano seguinte ficou em segundo lugar, a 21 pontos do FC Porto, uma diferença inimaginável e que lhe deixou marcas severas, das quais só conseguiria libertar-se em 2014. Hoje, ocupa o terceiro lugar no campeonato pelo segundo ano consecutivo, coloca em perigo a participação na Liga dos Campeões e corre o risco sério de nas contas finais somar menos dezassete pontos que o dragão, sendo difícil de avaliar não só as consequências que outro soco violento lhe provocará mas também o tempo que as dores irão demorar a passar.
A família encarnada deve preparar-se para uma recuperação demorada, mais do que desejaria, mas isso não quer dizer que se baixem os padrões de exigência, nem que os jogadores se convençam de que as férias já começaram, como pareceu ser o caso no jogo do Funchal, em que quem porfiou pelo sucesso foi a peça mais valiosa do plantel, Darwin Núñez, numa prova irrecusável de que o avançado uruguaio não lida bem com a displicência que o envolve.
Convém que alguém explique a jogadores bem pagos, e muitos deles a não justificarem o que recebem, que o campeonato não acabou e que na próxima jornada o FC Porto visita a Luz. Vencer é obrigatório. É verdade que nada tira o Benfica do terceiro lugar, mas isso não impede que os seus profissionais façam um esforço no sentido de atrasarem a festa do rival para a semana seguinte, reduzirem para onze pontos a desvantagem em relação ao primeiro lugar e entenderem que, depois de duas derrotas na presente temporada - a primeira (0-3, para a Taça de Portugal), ainda com Jorge Jesus e que esteve na base do seu despedimento, e a segunda (1-3, para a Liga), na estreia de Nélson Veríssimo como treinador principal -, não lhes ficaria mal, à terceira, enfim, triunfarem. Mesmo que tenham de voltar a comportar-se como equipa pequena, tal como sucedeu em Alvalade, no jogo com o Sporting.
Se não der para mais, repita-se a estratégia. Antes assim, do que oferecer o Estádio da Luz para o FC Porto festejar a conquista do seu 30.º título, pois, todos sabemos, festas e festivais são no Meo Arena, junto ao rio. Para o adepto do dragão será o gozo supremo, naturalmente, mas pode ser que a confusão de que falou Rúben Amorim se prolongue até à derradeira jornada e mantenha viva a ténue réstia de esperança que ainda alimenta do leão.
É ténue, muito ténue, mas possível, razão pela qual talvez não fosse má ideia Rui Costa voltar a fazer uma visita ao balneário e falar às tropas, porque uma terceira derrota com o FC Porto na mesma época vai custar a digerir. Nem o empate resolve. Por outro lado, Roger Schmidt, o anunciado mas ainda não confirmado futuro treinador do Benfica, não deve ter gostado do que viu diante do Marítimo.
O golo de Darwin Núñez logo na primeira aproximação à baliza madeirense prenunciou o melhor, mas não passou disso, de uma promessa sem confirmação. Será que ainda há quem duvide da necessidade de uma limpeza de balneário? Excluindo os que já fazem parte da mobília, os que chegaram sem critério para preencher o banco de suplentes e os que vestem a camisola da águia por acaso, são poucos os que estão à altura de representar um clube campeão europeu. Andamos a falar sobre o assunto há tempo de mais e, no entanto, as coisas continuam difíceis por ausência de um rumo e da definição de uma política de desenvolvimento com futuro. Luís Filipe Vieira devolveu ao Benfica a estabilidade perdida, mas a recuperação do futebol foi uma aposta mal calculada, por culpa própria e de quem ele escolheu.
O CARTEL
N O futebol da lusa paróquia, em cada jogo, fala-se muito de árbitros e de arbitragem e pouco dos artistas, que são os jogadores, e de quem os orienta, que são os treinadores.
Creio que jogamos com o triângulo invertido, devido a um excesso de comunicação especulativa em oposição ao que a UEFA recomenda e ao que se observa nas principais ligas europeias. Será uma questão cultural, mas não conseguimos ou não queremos combater a tendência de falar dos penáltis assinalados ou por assinalar, sempre com insondáveis intenções, em vez de valorizarmos a competição e os seus intérpretes.
É certo que estamos a dar passos no sentido correto, mas para surpresa minha são os chamados especialistas em arbitragem quem, sem se darem conta, admito, em vez de se limitarem a uma intervenção simples, clara e didática, geralmente funcionam em cartel, com base em simpatias ou pontos de vista. Os exemplos são frequentes e os mais recentes apenas confirmam que a coerência não é uma qualidade que os defina, respaldados no princípio de que cada lance é um lance, independentemente das cores e dos intervenientes.
É a chamada conversa para entreter. Por exemplo, à hora a que escrevo este texto não sei quem será o árbitro nomeado para o próximo clássico Benfica-FC Porto, mas sei, em nome da probidade e da sensatez, quem não deverá ser: Artur Soares Dias. Responderão os sábios da matéria que é uma opinião tola, sem fundamento, por se tratar do mais destacado árbitro português. Será, mas não é suficiente. Outros fatores há, igualmente importantes, que devem ser considerados, nesta e em qualquer nomeação.