A importância do ano no qual se ganham coisas
Um Euro que ficará para história como de lado nenhum e no ano errado
LI num destes dias um artigo muito engraçado sobre pessoas que colecionam cartazes e bilhetes de coisas que não aconteceram em 2020. Concertos cancelados e peças de teatro anuladas são os exemplos mais comuns. Há já um pequeno mercado ao redor desta memorabilia.
No futebol - bem como nos Jogos Olímpicos - a UEFA decidiu, logo na altura do adiamento, após reunião específica para discutir o assunto, que iria manter a designação Euro-2020 e não alterá-la para Euro-2021 (ou para ano em que enfim ocorresse), o que me parece errado, porque afinal se trata de uma competição que, como quase todas as de monta em termos desportivos, carrega o peso histórico e fortíssimo do ano em que ocorre.
O ano é essencial no trato; dizemos, todos nós, muito mais correntemente «o Europeu de 2008» do que o «Europeu da Suíça e da Áustria» - talvez digamos mais «o Mundial de Inglaterra» do que o «Mundial de 66», talvez, reconheço, mas ainda assim o ano parece-me central na designação. E deve ser verdade. Este ano, não é.
Este Europeu agora em curso, ademais, nem sequer é de lado algum, é um Euro de onze países, logo repare-se como acabará por ficar para a história como uma prova difícil de situar no espaço e obviamente enganadora no tempo. Cartazes do Euro-2020 de nada valerão para colecionadores, afinal, porque o evento ocorreu.
Enfim, preferia que Portugal ganhasse o Euro-2021 e não tivesse de conformar-se com este erro de ganhar o de 2020, mas também não seja por isso, lá terá de ser. Às vezes temos mesmo de ser nós a escrever a própria história, e a fazer do ano um mero detalhe.