A implacável roda do tempo
O confinamento a que o bom senso confina grande parte da população mundial faz brotar os gestos mais imaginativos para nos retirar, nem que seja por uns segundos, do espaço das colmeias em que estamos inseridos. Há mais tempo para os nossos, para o distanciamento, para a relativização, para vermos as coisas, se calhar, com o devido distanciamento sobre as quais as devemos observar. O futebol, de momento, vale pouco ou muito, perante a perspetiva de quem está a fazer o que deve ser feito na sua função primordial, de quem está apenas a usar o mais elementar bom senso ou de quem praticar uma ação louvável mas pretenderá retirar dividendos disso.
Os noticiários são absorvidos avidamente e as discussões sobre as notícias vai divergindo consoante os protagonistas das mesmas. No entanto, julgo que quem tenha o mínimo de sensatez, por estes dias, se irrite solenemente após ouvir as declarações de dois senhores eleitos para dirigir dois dos países mais fantásticos do mundo: Jair Bolsonaro, em primeira instância, e Donald Trump.
Legitimados democraticamente, se bem que no caso de Trump o sistema dos EUA não eleja quem teve mais votantes, mas é o que há; ambos usam os poderes que lhes foram conferidos para se comportarem como deuses da inquestionável sapiência quando as suas ações - oxalá esteja redondamente enganado - podem provocar níveis de mortandade absolutamente horríveis nas nações que dirigem. A dada altura das suas vidas, com o expoente máximo nas respetivas eleições, o ego foi-lhes insuflado pelo reconhecimento exterior e ter-se-ão sentido absolutamente imortais e, de momento, nem o universo os coloca no devido lugar. Mas se calhar esse é o drama: o universo pode não colocar no devido lugar as lideranças num dado momento, mas a roda do tempo é implacável. O pior é quando se olha para para trás e para o nível de devastação.