A fortaleza dos adeptos

A fortaleza dos adeptos

OPINIÃO12.05.202306:30

O Estádio da Luz tem uma média por jogo de 56.667 espectadores [...] jogando fora, o Benfica é o suplemento financeiro da equipa que visita...

Mum obstáculo ultrapassado pelo Benfica. Faltam três, dos quais o mais difícil é sempre o que se segue, ou seja, o de Portimão. Sem euforias, com os pés bem assentes na… relva. A equipa deu provas de que ultrapassou o período complicado de duas derrotas consecutivas, uma em que mereceu perder e outra em que deveria não ter perdido por conta própria e por erro alheio (do VAR). Neste momento decisivo do campeonato, escrevo sobre a importância do chamado 12.º jogador, ou seja, dos sócios e adeptos que, na Luz ou fora dela, têm dado um incondicional suporte anímico à equipa. Analisando os dados oficiais desta época, o estádio da Luz tem uma média por jogo de 56.677 espectadores, ou seja, quase o dobro de Alvalade e mais 36% do que o Dragão. Aliás, a Luz só por ela tem mais 14% do que a totalidade dos 13 estádios da Liga com menores assistências! Jogando fora, o Benfica é o suplemento financeiro por excelência da maioria dos estádios que a equipa visita. Eis uma demonstração de como o Benfica é grande e grandioso e eis a expressão de um contrato afectivo indissociável. O ambiente no jogo Benfica-Braga foi absolutamente soberbo, com entusiasmo genuíno, amor incondicional, alegria transbordante e até pormenores de gratidão pouco vistos no contexto doentio do nosso futebol, como foi o aplauso generalizado a Pizzi, quando entrou no campo.

Não se afigura fácil descrever por palavras o que significa este vulcão benfiquista. Como dizia Antoine de Saint-Exupéry, o essencial só se vê bem com o coração. A mística benfiquista é uma ligação profunda de coração e espírito. Tão inspiradora, como gratificante. Tão anímica, quanto vitamínica. Tão esplendorosa na vida, como misteriosa na origem. Tão feita de esperança infinita, como de utopia acontecida. Para os adeptos, novos e velhos, homens e mulheres, catedráticos ou iletrados, pobres, remediados ou abastados, o SLB constitui uma trindade laica e ecuménica: um Sport em formato britânico, mas tão português quanto ecléctico, uma Lisboa que rapidamente criou raízes em todo o Portugal e se espraia pelo mundo fora e um Benfica que a todos junta através de um vibrante E pluribus unum.

Espero que, nas próximas semanas - dando jus ao título desta rubrica - haja um entusiástico casamento entre as papoilas (saltitantes) e os girassóis (deslumbrantes). Rui Costa, que é a expressão plena e apaixonada do amor ao clube, bem merece ser campeão.

P.S. Insensata e imprudente a escolha da arbitragem da AF Porto para o jogo de Portimão.
 

«O Belenenses é o meu segundo clube»

FOLHA SECA

Belém mais perto. Saúdo com alegria a subida do Clube de Futebol os Belenenses à segunda divisão, depois de ter percorrido, sem mácula, o caminho das pedras iniciado na III divisão distrital de Lisboa. Virá o tempo em que chegará ao convívio dos primodivisionários, lugar que lhe pertence pela história de 77 presenças e um título nacional. Sou de Ílhavo que, na altura da minha infância e adolescência, tinha uma significativa percentagem de adeptos azuis. O meu pai e parte da minha família era belenense.


Eu, benfiquista desde esses tempos, nunca deixei de ter nos azuis de Belém o meu segundo clube. Sou o seu sócio nº 1689, desde que o meu saudoso amigo e antigo presidente do clube Sequeira Nunes me instou a associar-me. Tenho presente na minha memória aqueles minutos de relato radiofónico (a televisão ainda era uma miragem) em que, na época de 1954-55, o Belenenses, nas Salésias, perdeu dramaticamente o título para o Benfica, e eu, miúdo de 7 anos, fiquei feliz e infeliz ao mesmo tempo.

Achava então que deveriam ter sido campeões os dois clubes. A cidade de Lisboa volta a ter mais um seu clube numa competição profissional e o belíssimo Estádio do Restelo ‘ressuscita’ para o futebol profissional. Termina o falso clone desportivo de uma equipa sem nome (ridiculamente obrigada a chamar-se B-SAD), sem alma, sem sócios, sem quase adeptos, sem estádio, que por força de uma forçada serralharia financeira se quis fazer passar como Belenenses. Valeu a pena o esforço, a persistência, o ânimo refundacional dos dirigentes de ‘Os Belenenses’, numa luta judicial, financeira, desportiva, tantas vezes desigual, para fazer valer a verdade associativa. Parabéns, em especial ao presidente do clube, Patrick Morais de Carvalho.


JOGOS FLORAIS 

«É um orgulho trabalhar no Benfica»
Marcel Matz

Geração de ouro. Empolgante Benfica tetracampeão num dos mais belos desportos colectivos: o voleibol. Mais uma época em cheio e uma excelente prestação na Europa. Marcel Matz, um técnico de inegável qualidade e sabedoria. Todos os jogadores, mais velhos ou mais jovens, a darem um exemplar testemunho do que é representar o clube. Um grande e grato abraço para André Lopes na sua despedida de atleta.


FAVAS CONTADAS

60-0. Um clube de futsal do distrital de Santarém alcançou o 1.º lugar, depois de ter ultrapassado em diferença de golos um seu rival, num jogo cujo resultado foi de 60-0 (média de um golo a cada 40 segundos!). Neste microcosmo, eis o retrato da batota no grau superlativo. Sem vergonha, sem termostato ético, sem escrutínio sério, sem eco moral, vale tudo. Admirado? Não, infelizmente. Apenas uma bizarra e inédita consequência do ambiente mole, impune e fingido que se respira urbi et orbi.


FOTOSSÍNTESE

CNID: A devida rectificação. Na anterior crónica, escrevi (sobre o que havia lido) a propósito de uma participação do CNID, no seguimento de ter sido recusada uma pergunta de um jornalista a Roger Schmidt. Escrevi então sobre «a legítima expectativa de ver o tão pressuroso CNID a denunciar a não comparência em conferências de imprensa e outras unilateralidades e birras mediáticas, fora de Lisboa». Entretanto, o presidente do CNID, Manuel Queiroz, teve a gentileza de me escrever, referindo as posições tomadas em anteriores situações (p. ex., uma queixa formal à ERC em 2021 sobre a FCP SAD e outra com C. Ronaldo no âmbito da selecção nacional). Referiu, ainda, que não foi feita participação ao caso a que aludi, sendo que a Benfica SAD e a TVI ficaram de ultrapassar o caso. Fica feita a necessária e devida rectificação.