A formação que não convence
NO ESTUDO publicado pelo CIES - Observatório do Futebol sobre o aproveitamento da formação, só oito ligas europeias têm menor média de minutos dados a atletas sub-21 do que a portuguesa, embora haja quem encontre na presença de três das Big-5 entre estas - Itália, Inglaterra e Espanha - justificação para achar que está tudo bem.
Não podemos comparar-nos com a jovem Estónia, seja em qualidade ou estatuto da liga, de clubes ou seleções, mas olhemos para as maiores. O Calciocaos deixou fissuras nas fundações do futebol italiano. Se o dinheiro é mais escasso e se se deixou de comprar os melhores, também se desinvestiu na formação: nenhum dos dez títulos transalpinos (sub-17, sub-19 e sub-21) foi conquistado nos últimos dez anos. Já a Inglaterra pode comprar o que quer, o que deixa os miúdos sem espaço. A Alemanha abriu-lhes a porta, tal como agora Portugal. Os três títulos recentes (dois sub-17 e um sub-19) e as conquistas do Chelsea na Youth League só tiveram expressão quando a UEFA proibiu os Blues de contratar. Southampton e Sheffield Utd, sobretudo, contrariam a balança como formadores. Espanha é, de longe, a maior potência com 25 títulos (oito na década) e, ao mesmo tempo, aquele que menos espaço dá aos jovens. Reflexo de uma liga rica e com menor expressão de La Masia. O que não invalida que fenómenos como Ansu Fati façam história na Roja.
Portugal, com dez títulos (dois na década, 9,6 minutos média) - o quarto melhor registo do continente em troféus não garante qualidade? - e mais pobre, deveria estar mais próximo de uma França (11/3, com 15,4 minutos em média) a meio da tabela, um pouco acima da Alemanha (6/1, 13,1 minutos), que se reestruturou com sucesso a partir da formação depois do fracasso do Euro-2000. Portugal tem um problema cultural ou então... pode mesmo estar tudo bem.