A força dos adeptos em pé
Comparando duas notícias relacionadas com o Man. City para perceber os tempos
COMPARAR notícias ajuda a compreender os tempos. Façamo-lo com duas relacionadas com o Manchester City. A primeira é de 24 de março deste ano, «City vai ter lugares de pé no estádio»; a segunda é de há quatro dias, «City desiste da Superliga», o primeiro a fazê-lo entre os que deixaram cair o projeto de elite.
Parece-me haver uma relação entre as coisas, a perceção de que há, mesmo para quem dirige um clube como uma empresa, como é o caso do dono dos citizens, que de certeza não cresceu a ouvir Stone Roses e Happy Mondays, mas compreenderá a diferença entre adeptos e clientes.
A primeira das referidas notícias está relacionada com os adeptos do Manchester City, os da velha escola, os que querem passar o jogo a cantar e a saltar e não gostam de o ver, portanto, sentados como num teatro. As regras em Inglaterra transformaram, no caso do City, em 1994, uma bancada de 18 300 espectadores de pé num espaço igual aos outros, mas agora, garantidas as medidas de segurança, há espaço legal para este regresso ao passado pedido pelos adeptos.
Quanto aos clientes, aqueles que veem o City na China, na América ou em Portugal, foram atraiçoados pelo fim da Superliga, essa aberração, porquanto já não verão o City jogar com o Barcelona ou com a Juventus, ano após ano, como se partilhassem alguma coisa além do dinheiro que, juntos, podem ganhar.
O City, que conduzia dois processos ao mesmo tempo, o das bancadas de pé para os adeptos e o da Superliga para os clientes, percebeu, de forma que afinal ainda nos espanta, que os poucos adeptos que terá de pé, ali, em dias de semana, à noite, ao frio de janeiro, são mais importantes do que os milhões noutro lado qualquer.