A festa da Taça
1 - A festa da Taça já determinou, até ao momento em que escrevo, a eliminação de cinco equipas da primeira Liga. Com estrondo foram afastados o Sporting e o Vitória de Guimarães. E por duas equipas, e dois clubes, que me dizem algo. O Alverca que há largos anos acompanhei em termos jurídicos e o Sintra Football que vi nascer e que tem subido, num ápice, nos diferentes escalões do nosso futebol. E ambos com direções dinâmicas e apaixonadas e o Alverca com uma SAD que claramente quer apostar forte em termos de futebol português. Depois Farense, Académica e Feirense eliminaram Aves, Portimonense e Tondela o que evidencia uma competitividade crescente entre a primeira e a segunda ligas e, diria, um equilíbrio que reflete uma mudança de paradigma no nosso futebol. O Benfica encarou o jogo frente ao Cova da Piedade com a humildade necessária e mostrou que tem todas as condições para entrar, com confiança, no primeiro ciclo infernal de jogos que irá até aos primeiros dias de novembro. Para já terá a final frente ao Lyon. Jogo decisivo para as legítimas aspirações europeias da equipa liderada por Bruno Lage. E tal como o Benfica a próxima semana terá que ser uma semana em que Portugal entre na Europa. Pelo menos em termos de futebol. Aqui tem de haver um Portuga in! Já que em termos britânicos o Brexit é um mar de incertezas!
2 - Esta terceira eliminatória da Taça de Portugal arrancou, com terrível estrondo, na quinta-feira em Alverca e termina hoje em Matosinhos no princípio da noite deste domingo. Terá nove jogos objeto de transmissão televisiva o que representa uma verdadeira revolução. Quatro foram repartidos pela RTP e pela Sport TV e os outros cinco, tal como já ocorrera na anterior eliminatória, foram (ou serão) objeto de transmissão pelo novo Canal 11, o canal da Federação Portuguesa de Futebol. E neste domingo, logo de manhã, teremos o Águias do Moradal-Vitória de Setúbal e no final da tarde o saudado Beira-Mar-Marítimo e o referenciado Leixões a defrontar o Praiense. Ou seja o 11, canal, vai ao distrito de Castelo Branco, a Oleiros, em rigor ao complexo do Ventoso - no Estreito - para levar a todos a prova rainha do futebol português. Como tinha estado na segunda eliminatória na pitoresca Rabo de Peixe, ali em São Miguel, para nos proporcionar uma disputada partida, onde o Académico de Viseu ganhou com dificuldade. Constatamos, assim, que a realidade televisiva está a mudar. Melhor se está a modificar como decerto o presidente Fernando Gomes teve oportunidade de referenciar na reunião - que vivamente se saúda - com os principais clubes portugueses. Além da competitividade do nosso futebol a questão da centralização dos direitos televisivos estará, de novo, na ordem do dia. E nas vésperas da apresentação das linhas programáticas do novo Governo e na antevéspera de uma reformulação europeia das competições de clubes com inevitáveis consequências nos respetivos exclusivos televisivos. O certo é que hoje só há Taça de Portugal no canal 11. Os quatro grandes já jogaram e, aí, a RTP - para o ano a TVI! - e a Sport TV já transmitiram os respetivos jogos.
3 - Na passada segunda-feira assisti, ao vivo, ao Ucrânia-Portugal. Graças à simpatia e à fraternidade do Arunas Pukelis, também vice-presidente da Federação de Futebol da Lituânia, e na companhia envolvente e sempre inspiradora do Bruno, do Pedro e do Paulo, e rodeado de apaixonados ucranianos, vibrei com o golo 700 de Cristiano Ronaldo e sofri com a derrota de Portugal. Mas percebi, desde a manhã desse dia, que seria um dia especial para a Ucrânia. A capital respirava festa e as bandeiras amarelas e azuis eram milhares. Era feriado, decerto. E percebi, assim, informando-me, que era o Dia do Defensor da Ucrânia e que só é comemorado, por razões óbvias, desde 2015. O sentimento de patriotismo sentia-se em cada fila das bancadas. E percorria todo o estádio, totalmente esgotado. Os militares, através de altas patentes, estavam representados na primeira fila da tribuna presidencial. E percebemos que há, aqui, uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Assumida e não ignorada. Há uma guerra que atingiu diretamente mais de um milhão de pessoas e a Ucrânia sabe que é um estrangeiro próximo para a Rússia e um território que a União Europeia e a NATO não querem - não podem! - abandonar. A festa no final do jogo, com o apuramento direto da Ucrânia para o Europeu de 2020, e logo com uma vitória face ao campeão europeu em título, Portugal, foi imensa e intensa. Houve fogo de artifício e um concerto no estádio de um dos cantores do momento da Ucrânia! Aquilo que os responsáveis ucranianos consideravam quase que impossível concretizou-se: a vitória e o justo apuramento. E tudo aconteceu nesse Dia do Defensor da Ucrânia. E, aqui, a palavra patriotismo é a palavra certa. Nós, aqui neste retângulo onde está o ponto mais ocidental do continente europeu (Cabo da Roca), não sentimos - e muitos não percebem e não entendem - este patriotismo que percorre alguns Estados da grande Europa. Foi graças ao futebol que, para além dos livros e das leituras, senti, antes na Lituânia e agora na Ucrânia, o sentimento profundo de Pátria. E nela está a bandeira e o hino, a língua a também a moeda, os símbolos e as referências. E devo, daqui, um agradecimento penhorado ao Arunas Pukelis, e à sua família. Na certeza que em meados de novembro lhes proporcionaremos a possível retribuição. Nós que somos a marca da primeira vaga de globalização que o Mundo conheceu! E que no futebol estamos no topo!
4 - Sabemos todos que a vida é variedade. Como também a vida é um viajante. Esta semana deixou-nos o Senhor Rui Jordão. Vibrei com ele, e muito, no Benfica e sofri com ele envergando a camisola do Sporting. Aqui com uns colegas marcantes como António Oliveira e Manuel Fernandes. E num tempo em que Yazalde era uma referência em Alvalade. A gazela africana, de Benguela, acompanhou a minha transição do Colégio Militar para a Faculdade de Direito. Recordo um Sporting-Benfica - em março de 1974 - com uma saborosa vitória do Benfica liderado por Fernando Cabrita por cinco a três com golos de Nené (2), Humberto, Vítor Martins e Jordão! E numa equipa onde estavam Toni e Simões, José Henrique e Diamantino, Vítor Batista e Artur, entre outros. Ele que jogou, ainda, com Artur Jorge e Jaime Graça e que era de uma simpatia pessoal cativante. Como alguns dos seus quadros bem evidenciam. Já que cá ficam e neles está o seu traço e as suas cores, a sua vivência e os seus sentimentos. Que a sua pintura retrata e bem expressa. Mas jamais esquecerei aquela meia-final do Europeu de 1984 contra a França, que vivi ao vivo, e os seus golos, o prolongamento … e o golo que nos afastou da final … de Platini. Rui Jordão merece que aqui recordemos José Marti: «A morte é uma vitória, e quando se viveu bem o caixão é um arco do triunfo»!
5 - Ontem no Estádio da Luz, um estádio emblemático, disputou-se um Benfica-Sporting em futebol feminino. Acredito que o mau tempo afastou muitos adeptos. Mas o que sabemos é que assistiram à justa e merecida vitória das benfiquistas 12.812 espetadores, ou seja, um recorde em Portugal no que concerne a jogos oficiais de futebol feminino. E na televisão, no referenciado Canal 11, foram decerto centenas de milhares a vibrar com o jogo e as suas incidências. Para alegria, merecida, da estrutura da Federação e da direção do canal, e logo, do Tiago Craveiro e do Nuno Santos. Por mim a partir do sempre acolhedor e cativante Montebello Vista Alegre - que merece sempre uma nova visita e uma farta degustação! - fica a nota que o futebol feminino está a conquistar , a passos largos, novos e novas adeptas.