A eficácia e a assistência
1 - Acabaram as festas, recomeça o campeonato. Agora definitivamente, com a luta pelo título reduzida a dois. Todavia, o Benfica e o Porto bem podem agradecer a fortuna de terem saído com três pontos, nas suas difíceis deslocações. Em teoria, o embate dos portistas era mais complicado, mas vencer em Guimarães também não é fácil para qualquer um dos dois candidatos. Quer o Vitória, quer o Sporting jogaram o suficiente para, pelo menos, não perder. O Benfica aproveitou quase a única oportunidade que teve para marcar. O Porto tirou partido dos habituais brindes defensivos dos leões. O Sporting está agora a 28 pontos da liderança (a 16 do Benfica e a 12 do FC Porto, ainda na primeira volta)!
A equipa encarnada continua com os melhores índices de desempenho: mais pontos, mais vitórias, mais golos marcados, menos golos sofridos e os dois melhores marcadores. Seguem-se novas jornadas, porém engasgadas entre a Taça de Portugal e a final four da Taça da Liga. Tudo tão mal-arranjado que, por exemplo, leva a que o Sporting-Benfica e o FC Porto- SC Braga da última jornada da 1.ª volta sejam jogados numa sexta-feira e que o Benfica tenha o mínimo período de intervalo depois de jogar para a Taça de Portugal contra o Rio Ave.
Mais uma ronda de mercado, agora de Janeiro. O Benfica adquiriu o passe do alemão Julien Weigl, por 23 milhões (20 para o Borussia, 3 para o atleta). Não sou suficientemente seguidor do que se vai passando no campeonato alemão e, como tal, não tenho opinião sobre o jogador. Dizem as crónicas que é bom jogador. Pois que assim seja, é o meu desejo. As circunstâncias de ser alemão, jovem e vir de um clube exigente são bons augúrios. Mas no futebol a teoria do melão é bem conhecida. Tal como este que só sabemos se é bom quando o comemos, também no futebol a história está cheia de sucessos inesperados ou de fracassos que suscitam um grande melão. Aguardo, pois, que a cucurbitácea associada a Weigl seja correspondida na relação custo/desempenho do atleta.
Há uma posição no Benfica que me merece alguma preocupação: a dos defesas centrais. Conti lá foi para o México, sem se saber quem era o rapaz. O capitão Jardel está em fase naturalmente descendente e vem acumulando lesões musculares. Há o brasileiro Morato, que veio por uns milhões e que, sinceramente, do que o vi jogar, sobretudo na equipa B, além de espadaúdo ainda tem muito a aprender.
2 - A passagem de um ano velho para um ano novo sugere alguma predisposição para fazer balanços, e revisitar assuntos. Foi assim que deambulei pelo sítio da Liga Portugal, onde gosto de visualizar dados que, agora, temos facilmente ao nosso dispor.
Deparei imediatamente, com uma constatação que me chamou a atenção, não só porque gosto de conhecer abordagens, por mim antes desconhecidas, como - neste caso - por me agradarem enquanto benfiquista. Transcrevo parte do que lá li: «Desde que o ano civil de 2010 começou, até ao presente, ninguém fez balancear as redes adversárias como Jonas, que apontou uma impressionante quantia de 110 golos, ao cabo de 132 jogos realizados, […]» entre as épocas 2014/2015 e 2018/2019». Eis mais um feito de que Jonas se pode orgulhar e de que os benfiquistas se podem sempre recordar. Mas também, o 2.º classificado na década que terminou foi jogador encarnado: Lima com 83 golos marcados, nos 165 jogos em que participou (SC Braga em 2010/2011 e 2011/2012 e Benfica em 3 épocas, de 2012 a 2015). O pódio é repartido no 3.º lugar entre o sportinguista Bas Dost e o ex-portista e agora portimonense, Jackson Martínez. O primeiro com 76 golos em 84 jogos e o segundo em 128 encontros. O quinto classificado foi o até agora melhor marcador estrangeiro do SL Benfica: Óscar Cardozo. E só não foi primeiro na década porque o seu desempenho se dividiu por dois decénios, pois, das 7 temporadas que jogou, só 4 foram entre 2010 e 2014. Mesmo assim, na década agora terminada, festejou 68 golos em 107 partidas.
3 - Outra estatística interessante é a que se refere às assistências nos estádios. Não que algo de muito substantivo tenha mudado, face a épocas transactas. Contudo, acentuaram-se algumas tendências antes evidenciadas. O Estádio da Luz é duplamente o que tem mais espectadores (até agora, uma média de 54 203), como o que tem a melhor taxa de ocupação face à lotação (84,48%). Um pouco melhor do que no ano anterior (considerando aqui todos os 17 jogos em casa): 53 824 espectadores e uma ocupação de 83,89%. O FC Porto ocupa a segunda posição quanto ao número de assistentes (35 101), mas não quanto à taxa de ocupação que é do Famalicão com 81,74% (embora com uma média de 4 333 pessoas a assistir). Ainda quanto ao Dragão, há uma descida significativa face à média do anterior campeonato de cerca de menos 6 500 espectadores (menos 15,6%). Já o Sporting é o terceiro quanto ao número de pessoas em Alvalade (30 590), mas apenas o sexto quanto à taxa média de ocupação (60,59%), pois que Tondela e Portimonense o ultrapassam. Comparativamente com 2018/2019, a quebra em Alvalade é notória: passou de uma média de 41 665 (então à frente do FCP) para 30 590 agora (menos 27%). Só mais dois clubes estão acima dos 10 000 espectadores: Vitória de Guimarães (16 623) e Boavista (11 707). O Sporting de Braga fica-se pelos 9 451. De todos os clubes, só o Benfica e o Boavista cresceram. No caso dos axadrezados, há, porém, uma explicação para tal: é que já recebeu os três grandes no Bessa. E deve dizer-se que se o Benfica já recebeu um dos rivais (FCP), estes ainda não tinham tido até à jornada anterior qualquer clássico em sua casa. No caso do Benfica, se retirássemos o jogo contra os portistas, a média apenas desceria 1219 espectadores (2,2%). Este jogo, aliás, não foi o que mais pessoas viu na Luz, pois esse foi o da jornada inaugural contra o Paços de Ferreira (62 956).
Dos 8 jogos disputados no Estádio da Luz, 7 deles ocupam as primeiras sete posições, sendo que só o disputado contra o Portimonense foi ultrapassado por dois jogos do FC Porto (contra o Famalicão e o Vitória de Setúbal). Já quanto aos leões, o seu jogo caseiro com mais assistência foi contra o Rio Ave (37 942), ultrapassado no passado domingo no clássico contra o Porto, mesmo assim abaixo do que seria esperado (41 247).
Ao invés, as piores assistências são as do Desportivo das Aves (2 031), Moreirense (2 241), Paços de Ferreira (2 271) e, algo surpreendentemente para mim, o Rio Ave (2 456). Já vendo a situação pela taxa de ocupação, o último lugar é o da equipa do B- SAD, com uma percentagem indigente de 14,68%, apesar de já ter recebido Benfica e Porto.
Curioso como sou, fui ver o que se passa na 2.ª divisão (Liga Pro): A Académica está em 1.º lugar com uma média de 2 093 espectadores, mas com uma taxa de ocupação de 7,04% do Estádio de Coimbra (é o penúltimo lugar)! Os restantes dezassete clube oscilam entre 1 614 do Feirense e 253 do Vilafranquense! Já quanto às equipas B, o Benfica tem uma média de 725 e o Porto de 462 (neste caso, pior só o clube de Vila Franca e o Casa Pia). Enfim, tirando os clubes e os jogos do costume, o famigerado acordo ortográfico vem mesmo a calhar para os resistentes (não espectadores), mas espeta-dores.
E, por fim, uma comparação que poderia parecer mais do que improvável: o treino de 1 de Janeiro, na Luz (21 800 pessoas) teve mais assistência do que a média de todos os clubes excepto Porto e Sporting e é mesmo superior à soma da média de 7 (!) clubes primodivisionários.
Todos estes números e outros que se poderiam analisar evidenciam a debilidade dos nossos campeonatos. Assunto que é, não raro, posto de lado em tantos e polémicos meios de análise e comentário!