A curva de Spielberg
ERA o dinheiro novo contra o dinheiro velho: PSG-Bayern. Os petrodólares de Nasser Al-Khelaifi contra a estabilidade do euro alemão. «O futebol não está à venda», disse Aleksander Ceferin, presidente da UEFA. Mas está. Em França (PSG), Inglaterra (Chelsea), Espanha (Valencia), Itália (Milan) e até Portugal (Boavista). Um catari compra um clube russo, um russo compra um clube inglês, um singapurense compra um clube espanhol, um norte-americano compra um clube italiano, um hispano-francês tenta comprar um clube português. É o dinheiro novo contra o dinheiro velho. Que pensarão disto dinossauros como Pinto da Costa, Valentim Loureiro e Pimenta Machado?
MONEY makes the world go around, cantava Liza Minelli, nascida em março de 1946, dois meses antes do Belenenses ganhar o seu único campeonato. O dinheiro faz o mundo rodar, claro que sim, mas não era necessário rodarmos a tão grande velocidade. Qualquer dia estamos tontos. Se fosse hoje e não no tempo de Mariano Amaro, Artur Quaresma, Serafim Neves ou António Feliciano, talvez tivéssemos de usar apóstrofo. O sinal de pontuação que mais parece uma piscadela de olho de olho inexistente (’) e que se usa para demonstrar que se suprimiram letras numa palavra. Se fosse hoje e não no tempo de Vasco Oliveira, Armando Correia, Francisco Gomes ou António Capela, diríamos que a B’ Sad foi campeã com um ponto de avanço sobre o Benfica e seis sobre o Sporting. Talvez dinheiro novo contra dinheiro velho, mas, valha-nos isso, ao menos moeda interna. Não o escudo de 1946, mas o euro.
Odinheiro que roda pelo Mundo compra jogadores e compra talento. Nasser Al-Khelaifi e a Qatar Sports Investments compraram os passes de Neymar e Mbappé, Di María e Cavani, Navas e Sarabia, Diallo e Gueye, juntando à fome à vontade de comer. Quem tem dinheiro quer talento, quem tem talento quer dinheiro. Neymar: 222 milhões de euros. Mbappé: 180. Cavani: 64. Di María: 50. Diallo: 32. Gueye: 30. Sarabia: 19,5. Depois, descobrindo Nasser moedas entre as bolas de cotão das algibeiras das calças de cetim, Navas: 13.
QUANDO ontem me sentei nas bancadas (quase) desertas na Luz, para ver o PSG-Bayern, o França-Alemanha, o Neymar -Lewandowski, o dinheiro novo-dinheiro velho, pensei o que qualquer pessoa pensaria no meu lugar: vou torcer por quem? O talento ou a máquina? Escolhi: talento e máquina. Ou seja, Miguel Oliveira. O talento do português de Almada e a máquina da Kronreif Trunkenpolz Mattighofen. Aquela última curva em Spielberg pareceu o golo de Éder em Paris: pqp!