A confissão do erro benfiquista
Amanhã se saberá, mas é provável que se confirme, em definitivo, que a época de 2017/2018 foi uma das época mais desastrosas da história do Benfica. Não falo, apenas, do redondo zero desportivo, mas da profunda perturbação social que provocou sérios danos na imagem de credibilidade que Luís Filipe Vieira orgulhosamente exibia desde que se lhe atribuía, com justiça, o mérito de ter recuperado totalmente a saúde do clube, depois dos anos de destruição provocada pela odiosa presidência de Vale e Azevedo.
Vieira continuou, de facto, a decisiva mudança operada por Manuel Vilarinho. Tornou-se num presidente de grande vitalidade e soube combater, com paciência e sentido estratégico, a intocada hegemonia de um FC Porto que sobrevivera, sem prejuízos irreversíveis, à implosão do Apito Dourado.
Os últimos quatro títulos de campeão nacional, um tetra nunca antes conseguido, a recuperação do prestígio desportivo internacional e um modelo de negócio de fartas e positivas consequências para os cofres da Luz pareciam ser suficientes para o presidente do Benfica viver, por alguns anos, do crédito alcançado, mesmo em caso de alguma penúria de títulos e de outras consagrações.
Pode, por isso, surpreender que o momento interno do Benfica seja de tão flagrante desorientação.
Ninguém tem a certeza de que o treinador se mantenha, diz-se que a sua continuidade ainda dependerá de um último jogo, não necessariamente o dele, mas, por ironia, o do seu rival, Jorge Jesus. E também se diz, de fonte fidedigna, que haverá uma autêntica revolução no plantel. O que ainda não se diz, mas suspeita-se, é que não termine por aqui o cenário de inquietação e de desconforto em face dos naturais desenvolvimentos de todas as questões que estão a ser apuradas em sede de justiça.
Há quem tema, aliás, que por essa ou outras razões possa vir a estar em causa a continuidade Vieira como presidente, ou que seja o próprio Vieira sufragar a sua popularidade no clube, abrindo a oportunidade de próximas eleições.
Daí que se estejam desde já a posicionar várias figuras, desde as que afirmam a oposição ao atual presidente, como é o caso de Rui Gomes da Silva, como as que prometem estar com Vieira, na sua equipa, ou numa candidatura de continuidade, como poderia ser o caso de José Eduardo Moniz.
Em qualquer dos casos, e até mesmo na hipótese de não haver eleições antecipadas, é certo que o Benfica promete, desde já, grandes mudanças no seu plantel.
É pouco para a verdadeira necessidade de uma mudança de rumo, mas mesmo o simples anúncio de que desde o guarda redes, passando pelos centrais, médios e avançados, a equipa precisa de uma mudança drástica se afigura, aos olhos de todos, como a confissão de um erro colossal.
Não se sabendo quem será o líder (técnico) da revolução, lembra-se, para já, que são poucos os casos em que essas revoluções terminam em bem. Há um exemplo, mesmo à mão de semear, o de Sérgio Conceição, mas esse é um exemplo de caráter excecional e que resultou em condições excecionais de um clube e de uma cidade. O que é normal e avisado é uma equipa estruturada e de grande dimensão saber mudar cirurgicamente o que tem de mudar; e foi isso que ao longo dos últimos anos o Benfica não fez, brincando com a sorte e com o destino.
Emendar o erro não é fácil, depois de se perder o balanço e o hábito de vitória. Tal como não será fácil a decisão sobre o treinador. Internamente, sabe-se que a tendência é para mudar, mas a escolha de um novo técnico é sempre um risco, especialmente quando a estrutura ameaça ruir.