A Cintra o que é de ...Cintra!

OPINIÃO12.09.202004:00

Já é do conhecimento geral o Relatório e Contas 2019/2020 do Sporting Clube de Portugal - Futebol SAD, que embora diga respeito ao período compreendido entre 1 de Julho de 2019 e 30 de Junho de 2020, tem subjacente o período do pandemónio de Alcochete até à pandemia do Covid-19! Não é invenção minha, mas sim o início do Relatório do Conselho de Administração, após as considerações normais deste tipo de documento e os highlights da época de 2019/2020, em matéria quase desportiva.

Pode ler-se:
«Tal como foi tornado público, e comunicado pela Sporting SAD ao mercado, entre os dias 31 de Maio e 14 de Junho de 2018, nove jogadores do plantel principal comunicaram a resolução do seu contrato de trabalho desportivo invocando justa causa. Os jogadores que apresentaram a rescisão foram: Rui Patrício, Daniel Podence, Gelson Martins, Bruno Fernandes, William Carvalho, Bas Dost, Rodrigo Battaglia, Ruben Ribeiro e Rafael Leão. Destes, três jogadores Bruno Fernandes, Bas Dost e Rodrigo Battaglia, reconhecendo os argumentos da Sporting SAD reverteram a sua posição tendo sido reintegrados no plantel da Sporting SAD. Na época passada, foram resolvidos por acordo com os jogadores e clubes, os casos do William Carvalho, Rui Patrício e Gelson Martins.

Em 31 de Agosto de 2019, a Sporting SAD chegou a acordo com o Jogador Daniel Podence e com o Olympiakos FC nos termos do qual o jogador e a Sporting SAD renunciaram a quaisquer direitos de que pudessem ser titulares em virtude da resolução unilateral promovida pelo jogador em 2018, e o Olympiakos FC comprometeu-se a pagar à Sporting SAD o montante de 7 milhões de euros. No seguimento destes processos de rescisão unilateral sem justa causa, em Março de 2020, foi proferido acórdão pelo qual o Tribunal Arbitral do Desporto condenou o jogador Rafael Leão a pagar à Sporting SAD a quantia de €16.500.000,00 a título de indemnização pela resolução ilícita do contrato de trabalho desportivo.»

Como disse, tudo isto na sequência dos referidos highlights, a saber:
- Maior venda da história do Sporting - Bruno Fernandes por 55M€ fixos + 25M€ variáveis;
- Rafael Leão condenado a pagar 16,5M€ mais juros pela resolução ilícita do contrato de trabalho;
- Acordo com o Daniel Podence/Olympiakos por 7M€.

O Relatório do Conselho de Administração ao relembrar as rescisões ocorridas, em consequência da invasão de Alcochete trouxe-me à memória que o actual Presidente do Conselho de Administração, pouco tempo depois daquele acontecimento, e enquanto anunciado candidato à presidência do Sporting Clube de Portugal, proclamava, quase como bandeira eleitoral, a sua proximidade com aqueles jogadores e ex - companheiros para fazer reverter a sua posição contratual. O Presidente do Conselho de Administração não conseguiu reverter a posição de nenhum daqueles jogadores, tendo sido o anterior presidente, Sousa Cintra, através de negociação, quem conseguiu o regresso desses três jogadores muito importantes: Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia, que já não fazem parte do plantel, sendo que o primeiro constituiu a maior venda da história do Sporting e o segundo uma venda ao desbarato, sem qualquer sentido desportivo ou financeiro!
O poder judicial já julgou os factos ocorridos em Alcochete, não considerando responsável pelos actos praticados qualquer dirigente da SAD: absolveu Bruno de Carvalho, Presidente que antecedeu aqueles dois e, consequentemente, representante da entidade patronal dos jogadores que rescindiram. E isto, obrigatoriamente, nos tem de levar a pensar se os casos em que se fizeram acordos pecuniários com os que rescindiram foi a melhor solução para a SAD, de acordo aliás com as promessas eleitorais de se ir até as últimas consequências! Uma coisa é a indignação criada por aqueles acontecimentos, outra é a análise fria e serena de quem dirige, que não se pode deixar levar pela emoção, nem pelas conveniências do momento, porque estão em causa os interesses superiores do Sporting, accionista de referência da SAD! O julgamento de Alcochete colocou, preto no branco, a não responsabilidade da SAD e isso, na minha modesta opinião, anula a justa causa invocada pelos jogadores. Sempre entendi que os empregados de um banco só teriam justa causa para rescindir após um assalto se se provasse a responsabilidade da entidade patronal no assalto!
Para além disso, a decisão do caso de Rafael Leão posto em confronto com o acordo com o jogador Podence, leva-nos a meditar ainda mais seriamente no assunto. Desportivamente a Sporting SAD jamais seria ressarcida dos prejuízos causados; financeiramente, uma atitude mais firme e convicta, poderia atenuar o prejuízo. Mas aqui não vou condenar a actual administração ou quem quer que seja, pois é fácil acertar no totobola à segunda-feira!...
Fácil de prever os maus resultados desportivos da época a que se refere o relatório é que foi quase preencher os resultados desse concurso na segunda-feira. Tinha tudo para dar errado quando o presidente após uma derrota ante o seu eterno rival não se mostrou preocupado e foi de asneira em asneira, de treinador em treinador, de empréstimo em empréstimo, de venda em venda, de contratação em contratação, até a um quarto lugar e a necessidade de disputar jogos para ir à fase de grupos da Liga Europa! Gaba-se da época de 2018/2019 como a melhor dos últimos 17 anos, como se o mérito lhe pertencesse por inteiro, e depois destrói uma equipa que herdou e que foi a grande responsável pelo sucesso indiscutível, mas não, em minha opinião, a melhor época dos últimos 17 anos!
Sousa Cintra teve o mérito de recuperar dois jogadores importantíssimos (e fez tudo, que eu saiba, para recuperar Rafael Leão), de arranjar o treinador para o momento e que reuniu o consenso geral, mas, sobretudo, conseguiu unir os associados e adeptos à volta do seu optimismo que tão necessário era e foi. Infelizmente, tudo foi feito a seguir para desunir, com as necessárias consequências, reflectidas na gestão de 2019/2020, da total responsabilidade da actual administração. Depois de acusar Sousa Cintra de disparates, este relatório da actual administração dá particular ênfase á venda de Bruno Fernandes. Como seria se Cintra não o tivesse recomprado, por assim dizer? Desportiva e financeiramente! Do ponto de vista desportivo teria sido, provavelmente, um desastre ainda maior; financeiramente nem quero pensar!...

«A César o que é de César» é o começo de uma resposta atribuída a Jesus (o lá de cima) nos evangelhos para resumir o que deveria ser a relação entre o cristianismo e a autoridade. Na mensagem original, apareceu como resposta a uma questão sobre se seria lícito para um judeu pagar impostos a César e dá margem a múltiplas interpretações sobre em que circunstâncias seria desejável para um cristão se submeter à autoridade terrena. Ao ler este principio do relatório, onde, como primeiro dos highlights, surge a venda de Bruno Fernandes como ícone da salvação no meio do desastre, concluí: a Cintra o que foi de ... Cintra!...

Nota de gratidão

Há 27 anos fui operado no Hospital Particular de Lisboa (já desaparecido) pelo Dr. João Mendonça, ortopedista de excelência, um querido amigo desaparecido prematuramente há algum tempo. Depois de ter feito um ruptura completa dos ligamentos cruzados do joelho direito, fez-me uma plastia do ligamento cruzado anterior. (Peço desculpa se disse alguma asneira, mas não é importante para o caso). Estas férias senti uma dor nesse joelho que me impediu de fazer as minhas caminhadas habituais e bastante preocupado com a situação fiz uma ressonância magnética que demonstrou a qualidade da intervenção do Dr. João Mendonça: o meu joelho foi considerado bom. Tenho 73 anos e desde 2012, só em caminhadas, fiz mais de 6000 quilómetros! O Dr. Mendonça foi colega, sócio (na Clínica do Lambert) e amigo do Dr. Fernando Ferreira, outro querido amigo, que foi durante muitos anos o médico do futebol do Sporting, e ainda há pouco tempo, em circunstâncias difíceis,  voltou a a dizer sim ao clube!

Ontem, quando saía daquela clínica, depois de veredicto que me aliviou, emocionei-me e vieram-me as lágrimas olhos, ao mesmo tempo que comentei: não sou um homem pobre nem rico de bens materiais; mas um homem com muitos e excelentes amigos, enquanto homens e profissionais. Dr. João Mendonça, além de excelente médico, era uma personalidade admirável. Onde quer que esteja receba a minha eterna gratidão e sei que ainda farei muitos quilómetros até ir ter consigo para de novo lhe manifestar esse sentimento!