A caminho da Rússia
1 - Terminou um singular mês de Maio. Teve cinco sextas feiras, cinco sábados e cinco domingos. O que só acontece a cada 823 anos. Para os chineses, cada vez mais dominadores do Mundo e controladores de parte relevante de Portugal - incluindo do nosso futebol! - é sinal que o bolso está cheio de dinheiro! O deles sim… Agora abraçamos um Junho com um Mundial que nos atrai, novos titulares dos direitos televisivos em Portugal dos jogos da Liga dos Campeões e da Liga espanhola, contínuas noticias de contratações de novos jogadores e de aquisições surpreendentes, alguns feriados que nos motivam a um necessário descanso, certas estórias dolorosas que já cansam e a disputa acerca da ocupação do poder no Sporting que ajuda a entender a tridimensionalidade desse poder e que implica, sempre, autoridade, influência e … poder! E, aqui, combinam-se o económico e o financeiro e, igualmente, o do direito interno - estatutos e regulamentos - e o direito do Estado e, aqui, com os seus tempos e as suas ponderações, as suas pressões e as suas impressões, as suas provas diretas e, também, as indiretas. E sabendo que as novas guerras e as suas batalhas utilizam múltiplos meios e, nestes, estão necessariamente a informação e a contrainformação. O que implica conhecer estas novas realidades e saber contrariar - ou minimizar - os seus efeitos, os seus contágios ou os seus constrangimentos. O que implica mentes limpas e corpos sãos! E, se necessário, a libertação de mentes e corpos que perturbam e condicionam, magoam ou geram más companhias! Mesmo que alguns julguem que são, por si sós, boas… venturas!!!
2 - Vivemos a preparação derradeira para o Mundial que se aproxima e teremos já amanhã a nossa seleção completa com a chegada do capitão Cristiano Ronaldo que levará, estou certo, acrescidos milhares na próxima quinta feira ao Estádio da Luz para o Portugal-Argélia. Aproxima-se a partida para a Rússia. E, aqui, evidenciando o marketing federativo, as formas de atração que suscita e, também, os mecanismos de agregação que se multiplicam ao redor da equipa liderada por Fernando Santos. Os jogos de preparação sucedem-se. As trinta e duas seleções aprumam-se sabendo que a ‘Telstar’ - a bola deste campeonato - é a primeira na história dos Mundiais que tem um chip que permite uma capacidade para interagir verdadeiramente inovadora. E com a consciência, também, que a Islândia e o Panamá participam pela primeira vez num Campeonato do Mundo de futebol. E, assim, se vai construindo a história do Mundial da Rússia. E o seu caminho! E com milhares a caminho da Rússia.
3 - São trinta e duas as seleções participantes. Em 1982, no meu primeiro Mundial vivido, vibrado e sentido nas bancadas - o de Espanha - o número de seleções passou de 16 para 24! E também nesse Mundial, como ocorre neste, não participou a Holanda. E participaram, pela primeira vez, a Argélia, Camarões, Kuwait e Nova Zelândia. E marcou presença pela primeira vez Diego Maradona. No jogo inaugural a Argentina perdeu face à Bélgica no Nou Camp e poucos meses depois Maradona era apresentado como reforço do Barcelona! Em 1998, o Mundial de França - também vivido, vibrado e sentido - o número de seleções passou de 24 para 32. E nesse Mundial participaram pela primeira vez a Jamaica, a África do Sul e o Japão. Japão que a par da Coreia do Sul organizaria, em conjunto, e pela primeira e única vez, um Mundial de Futebol em 2002. Que foi, aliás, o último Mundial em que o campeão em título participou por direito próprio. A partir de então, como acontece agora com a Rússia, só quem organiza é que tem o direito de participar! E nesse Mundial conjunto participaram, pela primeira vez, a China, Equador, Eslovénia e Senegal. Esta última também presente na Rússia no Grupo H com Polónia, Japão e Colômbia. E a Colômbia, recordo, era o país escolhido para organizar o Mundial de 1986 - em que Portugal participou e com deliciosas estórias -mas em razão de graves problemas económicos e de uma grande instabilidade social no Congresso da FIFA de 1983, que decorreu em Estocolmo, a organização foi retirada à Colômbia e confiada ao México. Foi este o Mundial da mão de Deus de Maradona. Mão famosa e determinante nos quartos de final contra Inglaterra e com a recordação que apenas quatro anos antes a mesma Argentina havia perdido a denominada guerra das Malvinas face à Inglaterra! Foi um ajuste de contas e de resultado!
4 - Os Mundiais estão cheios de episódios. E de fatos, atos e dados. O Brasil participou em todas as edições. Nas vinte e uma. A equipa com mais empates, 21, é a Itália que para dor das receitas televisivas também não participa neste Mundial. No Mundial da África do Sul a Espanha ergueu o troféu e marcou, recordo, apenas, oito golos. E nesse Mundial Portugal goleou, na bonita Cidade do Cabo - também jogo vivido, vibrado e sentido nas bancadas! - a Coreia do Norte por sete a zero! Mas um dos momentos mais peculiares de todos os Mundiais ocorreu no Mundial de Espanha e na parte final do jogo entre a França e o Kuwait. Aos oitenta minutos a França, através de Giresse, marca o quarto golo (4-1). Nesse momento o Presidente da respetiva Federação de Futebol - e irmão do Chefe de Estado - entrou no relvado, com a sua túnica majestosa, protestou contra o árbitro russo Stupar dizendo que os seus jogadores se tinham alheado do jogo em razão de um apito que havia soado (das bancadas…). E gritava que se o golo não fosse anulado o Kuwait abandonaria o relvado. Depois de intensas discussões - e talvez em razão do resultado… - o golo foi anulado. Mas fica a invasão, a discussão e a anulação do golo de Giresse. E assim se constroem a história e as estórias dos Mundiais de futebol. Por mim, que já vibrei ao vivo em alguns, anseio que na final de Moscovo - que será o jogo 900 na história dos Mundiais - se volte a escutar, no início, ‘A Portuguesa’. O sonho, tal como no Europeu de França, comanda a vida. A nossa vida!
5 - No mais vivemos a turbulência singular do desporto português. Tenta-se fazer justiça fora dos tribunais. Com muitos meios e outros anseios! Recordo que um dos milagres mais célebres de Santo António é aquele em que salvou o Pai da forca. Conta-se que seu Pai ia ser executado junto do cadáver da suposta vítima. Santo António, que pregava em Pádua, apareceu junto do Pai e perguntou ao morto: «Morto, quem te matou?» E o morto indicou o verdadeiro criminoso. A tradição, como nos ensinava o saudoso Professor Adelino da Palma Carlos, «dá porventura mais importância ao facto de Santo António ter salvo o pai da forca que ao do morto ter falado»! E há tantos mortos a falar por aí..!!! Quase em vésperas do nosso Santo António!!! Faltam dez dias para o seu Dia e onze para o arranque do Mundial da Rússia! Tudo a caminho! A caminho da Rússia!