A caminho da Arábia

OPINIÃO10.11.202105:55

Fernando Santos será o primeiro treinador a qualificar Portugal para dois Mundiais e o primeiro a disputar seis fases finais

D UBLIN é o penúltimo obstáculo da corrida portuguesa ao Mundial do Catar. O jogo é no estádio Aviva, onde Braga e FC Porto jogaram a 18 maio de 2011 (perante 45.391 adeptos) a única final europeia integralmente portuguesa. É uma arena bela e estilosa, construída no sítio do mítico Landsdowne Road, onde uma vez, nos anos noventa, vi um Rep. Irlanda-Irlanda do Norte em que os adeptos, a certa altura, começaram a cantar muito afinadinhos: «There’s only one Ireland». A Irlanda mostrou no Algarve, há dois meses, ser uma equipa aguerrida e pouco mais, apesar de só ter perdido nos instantes finais para o inconformismo de Cristiano. Sendo neste momento, muito provavelmente, a mais fraca de todas as selecções britânicas, sobra-lhe contudo a generosidade, o espírito de luta e a capacidade atlética típicas daquelas paragens - que tantas dificuldades costumam causar ao nosso futebol mais macio e sofisticado.
Fernando Santos mostrou-se desconfiado e fez bem. Portugal sempre sentiu dificuldades nas visitas aos irlandeses, que, animados pelo clamor incessante dos seus adeptos, costumam competir com uma garra formidável - mesmo quando jogam pouco, como parece ser o caso deste onze de Stephen Kenny. «É uma final», repetiu o engenheiro, que  está a dois empates de ser tornar o primeiro treinador a qualificar Portugal para dois Mundiais. É uma final, sim senhor, no sentido em que, mesmo que não se consiga ganhar, é um jogo que não se pode perder.
Depois, no domingo, temos a dura Sérvia na Luz para a estocada final - é o que se espera. Não há nenhuma razão para duvidar do apuramento da Selecção Nacional. É a melhor equipa do grupo e só um erro clamoroso de arbitragem em Belgrado (o tal golo limpo invalidado a Cristiano) impede Fernando Santos de contar por vitórias os seis jogos efectuados. E depois, claro, há a tal almofada de segurança simpática: bastam dois empates e está feito. Mas atenção que ganhar este grupo não é nenhuma proeza. É a nossa obrigação.
Vale a pena voltar a Fernando Santos para relevar aquilo que a maioria das pessoas esquece quando critica - quantas vezes com razão - o estilo de jogo pouco estimulante da Selecção e aponta as fracas imagens deixadas no último Europeu e no último Mundial como prova de que não houve evolução desde Paris-2016. Facto é que com Santos Portugal continua a qualificar-se para as grandes competições, mas evitando a armadilha dos play offs, como aconteceu antes com Carlos Queiroz e Paulo Bento. É uma grande proeza? Bom, não será. É o expectável tendo em conta a condição de cabeça-de-série, os golos de Ronaldo e a qualidade do plantel. Mas quando se pensa que Portugal em 87 anos só por quatro vezes ganhou um grupo de qualificação para o Mundial (1966: Otto Glória; 2002: António Oliveira; 2006: Scolari; 2018: Fernando Santos) e o engenheiro está prestes a ser o primeiro a consegui-lo por duas vezes, alguma coisa isso há de significar. Como alguma coisa há de significar o facto de Santos, no domingo que vem, ir qualificar Portugal para uma sexta fase final em sete possíveis (só falhou a última Liga das Nações) depois de levar a modesta Grécia aos quartos de final do Euro-2012 e aos oitavos do Mundial de 2014. Não me lembro de muitos seleccionadores com dois títulos e oito fases finais nos últimos dez anos. Escrevo isto com a autoridade de quem adora a Selecção (mesmo não gostando da maneira como ela joga) e passou anos e anos a fio a lamentar qualificações falhadas e insuportáveis vitórias morais.
Sim, venho do tempo em que jogávamos muito… e nunca íamos lá; do tempo em que ficávamos sempre à porta, do eterno quase, do por um triz, do azar e da cabeça erguida. Não tenho saudades.
 

Fernando Santos está perto de conduzir Portugal a mais uma fase final do Campeonato do Mundo


CRISTIANO COMO MATTHAUS E BUFFON

Q UINTO Mundial à vista para Ronaldo (esteve nos de 2006, 2010, 2014 e 2018). Deve festejar a qualificação domingo, na Luz, para o Catar-2022, onde disputará a sua 11.ª fase final (!) que só não é consecutiva porque Portugal falhou a final four da última Liga das Nações. Só quatro jogadores estiveram em cinco Mundiais: dois europeus, o médio alemão Lothar Matthaus (1982 a 1998), também recordista de jogos (25); e o guarda-redes italiano Ginluigi Buffon (1998 a 2014), que esteve em cinco Mundiais mas só foi utilizado em quatro; e os mexicanos Antonio Carbajal (1950 a 1966) e Rafael Márquez (2002 a 2018). Dos futebolistas em actividade, estão a caminho do penta o argentino Lionel Messi (34 anos), e os mexicanos Andres Guardado (35) e Guillermo Ochoa (36). Já os espanhóis Sergio Ramos e Pepe Reina (quatro) dificilmente estarão no Catar. Vejamos, a terminar, o registo dos futebolistas portugueses com mais experiência em Campeonatos do Mundo: Ronaldo e Pepe vão reforçar a liderança, Patrício (duas presenças; cinco jogos), João Moutinho (2; 6) e William (2; 6) apontam ao top 10.