A cabeça de CR
Os dias correm no seu caminho e eu não deixo de ver o que há muito tempo vejo: Cristiano Ronaldo na história que conta que indo criança à beira de um sábio lhe atirou a pergunta:
- Que tamanho tem o universo?
O guru, mirando o infinito, respondeu-lhe, por entre um afago:
- Tem o tamanho do teu mundo!
O petiz, cismado, murmurou-lhe:
- E qual é o tamanho do meu Mundo?
E, sem pestanejo, no velho, soltou-se, filosófica, a sentença:
- O teu mundo tem o tamanho dos teus sonhos!
Sim, no Cristiano Ronaldo, o seu mundo teve (desde sempre) o tamanho do seu sonho - e, por isso, nele, o craque não se fez só do seu talento ou da sua força criativa, fez-se (e faz-se) também do seu orgulho e do seu caráter. Ou seja: se no seu futebol não há (como contra Andorra pouco houve) o corpo desenhado perfeito por um deus para jogar futebol (na sua velocidade, na sua agilidade, no seu estonteio, na sua volúpia) nem por um segundo deixa de haver nele a personalidade vulcânica e poderosa, agitadora e flutuante, que o atirou para perto do céu onde está esse deus que o desenhou perfeito para jogar futebol - e faz com que o golo continue a ser a sua sina. E continua a ser a sua sina porque se no seu futebol os dois olhos que CR tem nos pés se põem à janela: um não vê lama e o outro vê estrelas - ambos veem estrelas, apenas estrelas (e criam-nas). Ontem deu para um só (na noite da sua vitória n.º 100 pela seleção), vendo-se-lhe também que ele temcada vez mais o jogo despojado de frivolidades (e feito para a equipa) - sem se perder no pior do seu ego. E que não deixa, ainda, de ter a baliza na ideia e os dentes afiados nas chuteiras (OK, ontem houve instante em que não) - e que, por tudo isso, é-lhe inevitável o destino: ir além de Ali Daei. Ao fazer o golo 102 pela seleção, ficou a 7 - e sim: se já está só a 7 é porque o seu sonho é do tamanho do seu mundo e talvez não haja no mundo alguém com mundo tão imenso dentro da sua cabeça.