26 anos depois, em Braga, Toni ‘vs.’ Bruno Lage
Hoje num Estádio que é uma beleza da arquitetura — e uma verdadeira dor de cabeça para as finanças do Município de Braga — o Benfica tem uma nova final.
Com um estado de espírito diferente em razão do empate conquistado pelo Rio Ave frente ao Futebol Clube do Porto na passada sexta-feira. Já tenho idade suficiente para não esquecer, em diferentes partidas de diversos campeonatos, momentos de prazer semelhantes e instantes de dor similares. Nesta semana em que comemoramos os 45 anos do 25 de Abril e nas vésperas de mais um Primeiro de Maio permitam-me a ousadia de regressar ao velho, mas bem encantador, Estádio 1.º de Maio de Braga para revisitar jogos em que vibrei com vitórias do meu Benfica. Estádio que no passado fim de semana presenciou um Braga- Benfica em futebol feminino e que permitiu que o Benfica marque presença, pela primeira vez, numa final da Taça de Portugal no emblemático Estádio do Jamor . Mas regressemos à memória de viagens sem autoestradas em contínuo e em que a paragem na Mealhada para um saboroso leitão era uma obrigatória necessidade. A todos os títulos Regressemos à época de 1992/1993. Época que arrancou com o croata Tomislav Ivic como treinador principal. Mas depois da surpresa de um empate em Barcelos face ao Gil Vicente — agora tema de disputas que vão chegar no final da época, acreditem mesmo ! — Ivic é substituído por Toni. Estávamos a viver tempos revolucionários em termos televisivos. A SIC iniciara a transmissão televisiva de jogos de futebol com um Sporting-Benfica. E o Benfica com Toni entusiasma, faz vibrar , motiva-nos a acompanhar a equipa de quinze em quinze dias. E em Fevereiro de 1993 , com o Sporting de Braga liderado por um grande treinador e hoje em dia querido Amigo Vítor Manuel — Grande Abraço — e com a arbitragem de Carlos Calheiros , o Benfica de Toni — com João Pinto e Futre , Veloso e Silvino, Hélder e Isaías , Yuran e Kulkov, Paulo Madeira e Schwarz, Pacheco, Rui Águas e Paulo Sousa arranca uma saborosa vitoria. No final o Benfica ganhou por dois a zero e com os dois golos a serem marcados pelo João Pinto. Recordo que foi um jogo complicado, com muitos cartões amarelos e com o golo que deixou dúvidas mas que, afinal, a bola tinha entrado claramente na baliza do Sporting de Braga. E no ano seguinte o Benfica de Toni voltou a ganhar por dois a zero e com os golos de João Pinto e Ailton e com a arbitragem de Carlos Valente. E, assim, recordo um Estádio emblemático, uma grande equipa do Benfica e um treinador, um cidadão e um Amigo do coração que tudo deu ao Benfica e que continua e continuará ser um dos símbolos do Benfica. Do Benfica-instituição, de um Benfica-campeão e um Benfica que respeita os nomes que o fizeram grande e que nunca deixaram de lhe dizer presente, mesmo nos instantes mais dolorosos da sua história bem centenária.
E é esta história e são estas recordações que se sentirão hoje à tarde no novo e bonito Estádio que Braga construiu em razão do Europeu de Futebol de 2004. Hoje Bruno Lage — que como Toni chegou e convenceu! — tudo fará, com uma equipa motivada e levada ao colinho por milhares de fiéis benfiquistas, para ultrapassar uma equipa que mostra força e vontade e tudo fará para mostrar que tem condições e alma para ainda chegar (lutar) ao terceiro lugar desta renhida Liga NOS. Se recordei o confronto entre Toni e Vítor Manuel direi que hoje teremos, em outra perspetiva, um frente a frente entre Bruno Lage e Abel Ferreira. Com a consciência que o Benfica tem um conjunto de jovens talentos que estão a ser cobiçados pelas grandes marcas do futebol europeu. E, aqui, e nesta cobiça está o dilema de um grande clube de uma liga periférica. Tudo poderá querer fazer para reter os seus talentos. Mas sabe que, num misto de cláusulas de rescisão, razões financeiras e de motivos subjetivos, há princípios assumidos que só em tese poderão ser respeitados e cumpridos. Mas nestas semanas próximas o determinante e motivante é conquistar três pontos em cada uma destas quatro finais que restam. Sabendo que esses três pontos se começam a conquistar mal o árbitro apita para o arranque do jogo e só se consideram adjudicados — logo arrecadados — quando o mesmo árbitro apita pela última vez e dá por encerrada a partida. Nada está conquistado antes do apito final. Nada mesmo. E só aos noventa e tal minutos se reconquistará a liderança da Liga e o sonho da reconquista estará mais perto. E esta proximidade exige disponibilidade e responsabilidade, vontade e ambição, confiança e determinação. Com respeito pelo Braga e pelos seus adeptos. E com uma comunhão efetiva entre a equipa de Bruno Lage e os milhares de adeptos que, hoje como ontem, são dedicados e perseverantes e conjugam imensa esperança com intensa confiança.
Os diferentes campeonatos europeus aproximam-se das decisões finais. Emoção em Inglaterra, Portugal, Holanda , na Alemanha e Turquia, por exemplo. Campeões já conhecidos na Itália, em França, em Espanha, na Grécia e na Rússia, por exemplo. Há grandes jogadores portugueses vitoriosos — logo Cristiano Ronaldo e Vieirinha — e outros, como Bernardo Silva , que ainda sonham com uma relevante conquista. E , num tempo em que as disputas acerca dos futuros modelos das competições europeias se acentuam evidenciando clivagens complexas e que poderão deixar marcas e feridas internas, estas conquistas permitem saber que a Liga dos Campeões continuará por ora a proporcionar muitos milhões de euros e a Liga Europa a gerar, tão só, alguns milhões. E tudo nesta semana que antecede a primeira mão das meias-finais daquelas duas competições europeias de clubes. E tudo na antecâmara do nascimento de uma terceira competição europeia de clubes!
Para o voleibol do Benfica foi uma época de sonho. Também de reconquista. E vencendo todas as competições internas e tendo uma presença europeia extraordinária. Uma palavra ao Domingos Almeida Lima, ao treinador Marcel Matz e a um conjunto de jogadores, na pessoa do capitão Hugo Gaspar, que souberam mostrar unidade e vontade, qualidade e fé . E foi bonito Flávio Soares, o Zelão, dedicar o título conquistado também a Nuno Brites, a José Jardim e, em especial, a um grande senhor do dirigismo do Benfica e das suas modalidades, o Senhor Rui Mourinha. É que o desporto tem na base milhares de dirigentes em regime de verdadeiro voluntariado que são a essência de outros milhares de clubes. São as mulheres e homens que se entregam a uma paixão. Sem eles e sem elas não há futuro. Não há mesmo.
Hoje a vizinha Espanha tem eleições legislativas. Comprei a revista Cambio 16 com o sugestivo título a ‘Batalha pelo voto útil’. O seu principal artigo tem um outro título que expressa bem a importância do desporto na vida contemporânea: «Votemos com a cabeça, como no desporto!» Fala-se do voto emocional face ao voto racional. O primeiro centra-se no ressentimento e na frustração . E quem vive o desporto, e em particular o futebol, sabe bem o que é a angústia, a desilusão e a frustração . E, também, a alegria, a paixão e a emoção que é chama. Sabe bem! Sabemos bem !