11 pontos: da Torre ao Algarve
1 É mesmo o regresso à infância. Começaram as férias e aí está a Volta a Portugal. Nunca esqueço que o saudoso Senhor meu Pai me levava para as bermas das estradas e das ruas de Viseu pra vermos passar a Volta a Portugal. Era assim, meu caro Henrique Monteiro, como em algumas chegadas na Avenida José Relvas que nos ajudaram, e muito, a descobrir - e a redescobrir - esse parque singular que é o Fontelo. Mas o saudoso Senhor meu pai dizia-me, na sua vasta cultura e no seu conhecimento rico da história, que o celerífero - concebido em 1790 pelo francês De Sivrac - era o percussor da bicicleta e que a verdadeira rivalidade entre Benfica e Sporting nascera nas estradas de todo o Portugal na década de 30 do século passado através de dois monstros, José Maria Nicolau (Benfica) e Alfredo Trindade (Sporting). Ambos do Cartaxo e amigos de infância. E amigos na vida e, decerto, na eternidade.
2 Hoje a Volta chega lá à Torre. Na Serra que se junta às estrelas e é, ela, a Estrela! Lá estivemos diferentes vezes. Na juventude e já neste tempo bem sénior. E há pouco tempo com fantásticas companhias deste jornal que conhecem, como poucos, a vida e o espírito da Volta. Conhecendo que só na década de sessenta do século passado as etapas de montanha ganharam presença em cada edição de uma Volta a Portugal. Sabendo ainda que a primeira vez que a Volta terminou na Torre - que subida e que imagens… - foi, tão só, no ano de 1971. Já havendo chegado às Penhas da Saúde em 1968 e terminado na emblemática Senhora da Graça apenas em 1978. E uma etapa que termina no alto mostra-nos a força do homem, a quase que aliança entre a terra e o céu. E o povo - nós todos o somos - ali estamos e a nossa vontade de empurrar o ciclista, quase que exausto, é um ímpeto de solidariedade. De verdadeira humanidade e de total fraternidade.
3 Este ano a Volta arrancou em Viseu e termina no Porto. Ontem ao ler o Jornal de Notícias deliciei-me com um texto de um grande escritor do Porto, Hélder Pacheco. O título é entusiasmante: «A Volta voltou»! E termina com um naco de prosa que evidencia que a Volta é verdadeiro «serviço público desportivo». Sim «serviço público»! Deixo-lhes para se deliciarem esta tripa singular: «Tal acontecimento também faz parte do Renascimento Urbano da cidade. Viva, pois, a Volta a Portugal e que saudades sentia de a ver dentro dos muros da Naçom»! Sim leram bem: Da Naçom. É um texto para guardares junto do teu imenso coração, Joaquim Gomes!
4 Nas primeiras edições da nossa Volta - como também da emblemática Volta à França - quase todas as cidades do interior eram contempladas ou com a chegada ou com a passagem em determinadas etapas. A Volta quase que definia a proximidade da fronteira, aqui da fronteira única com Espanha. E sabendo que a Volta a Espanha só tem a sua primeira edição em 1935. Quase tenho a ousadia de sugerir que, para além dos esforços dos Municípios, o poder político central poderia apoiar a realização de significantes eventos desportivos no interior de Portugal. Sei bem como sugerir o dinheiro a afetar. Menos bonés e menos esferográficas… para, por exemplo, a proteção civil. Os patrocinadores da Volta ofereciam - como oferecem - a todos e a todas! Bonés e canetas! Acreditem! Basta ir à Volta. Mesmo a esta Volta! Nada como dar uma volta… na Volta!
5 Recordo, pelo que me contaram e li, de uma Volta que arrancou com uma etapa noturna. Foi no ano de 1963 e a Volta iniciou-se a 31 de Julho na Pista de Alvalade. O custo do bilhete era de dois escudos e cinquenta centavos. E algumas vezes fui a Alvalade ver ciclismo. Como finais de uma prova marcante, como Porto - Lisboa. Como recordo outras pistas, como as de Alpiarça (os Águias!), de Loulé ou de Sangalhos. Também aqui o regresso à infância é um instante de saudade!
6 Agora deixo a Serra da Estrela e num ápice chego ao Algarve. Deixo o ciclismo e chego ao futebol. As duas modalidades que mais aprecio, a par do basquetebol. E também da esgrima e do hipismo que pratiquei, com honra, no Colégio Militar. Agora é o verdadeiro pontapé de saída da nova época desportiva. Com um Benfica-Sporting, sempre imprevisível. Mesmo sem vencedor antecipado. E sem que se deva olhar para os resultados desta pré-época. Um Benfica-Sporting é sempre um dérbi!
7 Esta competição arranca em 1979 e o seu primeiro vencedor é o Boavista. Porventura a sua antecessora terá sido a Taça Império realizada em Junho de 1944 no momento solene da inauguração do Estádio Nacional. Nessa altura o Sporting ganhou por três bolas a duas ao Benfica. Mas desde 1979 é o Futebol Clube do Porto que mais troféus conquistou: 21. Sabendo que só desde 2001 é que a Supertaça se passou a realizar apenas num jogo. Até então jogava-se a duas mãos. Hoje tudo se decidirá no Estádio do Algarve. Esgotado! Ainda uma referência relevante ao facto de o Benfica ter conquistado a International Champions Cup, prestigiado torneio de pré-época. Um feito notável!
8 Porventura - insisto porventura… - hoje poderá ser o último jogo de Bruno Fernandes com a camisola do Sporting. Como nós, benfiquistas, e alguns de nós também visienses, já temos saudades de João Félix. Que está a entusiasmar Madrid, o Atlético e todos os verdadeiros amantes do futebol e dos seus talentosos praticantes. Nós não nos despedimos do João no campo. Os sportinguistas poderão fazê-lo, porventura, hoje ao final da noite. A Liga portuguesa fica mais pobre. Mas os nossos clubes - em rigor as suas SAD - ficam bem mais remediadas. A do Benfica, como se percebeu da interessante e lúcida entrevista de Domingos Soares de Oliveira à revista Exame, com um largo aconchego económico e financeiro. Em que as verbas de João Félix foram determinantes! Como serão, acredito, as que Bruno Fernandes proporcionará!
9 Não teremos, por cá, uma árbitra feminina a apitar esta final da Supertaça. Será, e bem, o algarvio Nuno Almeida. O que sabemos e lemos, com entusiasmo, é que a francesa Stéphanie Frappart irá arbitrar, em Istambul, no próximo dia 14, a final da Supertaça europeia entre o Liverpool e o Chelsea. No passado mês de Abril apitou pela primeira vez um jogo da principal competição francesa. Depois apitou a final do Mundial de futebol feminino. Agora a UEFA surpreende ao designá-la para a Supertaça europeia. E logo na Turquia e na linda e atrativa cidade de Istambul!
10 Na passada sexta feira à noite Bruno Lage e Marcel Keizer no novo Canal 11 proporcionaram largos momentos de um desportivismo de que já tínhamos saudades. Como logo, a seguir, foram os instantes simples de Jorge Sousa, Luís Godinho e Bertino Miranda, grandes senhores da arbitragem portuguesa. São dois exemplos de regulação televisiva que, se frutificarem e se multiplicarem, terão dado sentido ao nascimento de um canal novo. Que não, apenas, de um novo canal.
11 Permitam, assim, que, aqui, neste jornal que também tem uma televisão que resiste e soube ser resistente - num mundo lusófono de múltiplas dificuldades e com comportamentos bipolares de certos agentes e entidades - dê as boas vidas ao 11. Lhe deseje longa vida. O que faço com muito gosto neste ponto 11! Boas férias!