0,000000005 de brasileiros
Síndrome de pequenez. Deve ser isso que, por vezes, afeta alguns portugueses. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil tem 208,5 milhões de habitantes. E houve um jornalista que, de forma cretina, é certo, desdenhou Jorge Jesus e a liga portuguesa. Repito: um. Se quiserem percentagem, aqui vai: 0,000000004796 dos brasileiros criticaram a chegada de JJ ao Flamengo. É como se tivéssemos mais de 200 milhões de litros de água e, juntando um litro de vinho, uma pedra de gelo e um raspa de limão, esperássemos beber sangria. Há três anos, durante o Euro-2016, um jornalista francês (um!) disse que o futebol português era nojento. O Institut national de la statistique et des études économiques diz que havia 66,99 milhões de franceses quando Portugal se sagrou campeão da Europa. E houve um (!) que disse que o futebol de Portugal era nojento. Aqui vai a percentagem de franceses que expressou publicamente que o futebol de Portugal era nojento: 0,0000000156. Continua a não dar para beber sangria.
Jurgen Klopp queixou-se, após a final da Liga dos Campeões, de que só havia água para beber. Tem razão. Depois de época tão fantástica como a do Liverpool, o alemão merecia ter um pouco de sangria a escorrer-lhe pela garganta. Os reds despacharam, na fase a eliminar, Bayern (campeão em 1974, 1975, 1976, 2001 e 2013), FC Porto (1987 e 2004) e Barcelona (1992, 2006, 2009, 2011 e 2015) e bateram, na final, o Tottenham. Aliás, na verdadeira final bateram o Barcelona por 4-3, estando a perder por 3-0 ao intervalo. Assim é que é. Talvez seja o sorriso que nos faz gostar de Klopp. Ou a forma exuberante como está nos jogos. Ou ainda o jeito de comunicar. Porém, por trás do sorriso, dos trejeitos e das palavras, está um treinador de excelência. Com (pelo menos) um admirador em Portugal: dá 0,0000001014% de portugueses.
Já se sabe que, de uma forma geral, os portugueses não gostam da Seleção Nacional. Gostamos de clubes. E de dois em dois anos, durante 15 dias (com sorte, três ou quatro semanas), gostamos da seleção. Ou antes gostamos de discutir os jogadores da seleção. Não discutimos se Ferro devia estar no lugar (por exemplo) de José Fonte. Discutimos se o central do Benfica devia estar (ou não) na seleção. Não conversamos sobre a possibilidade de João Félix e Bruno Fernandes poderem jogar ambos de início. Conversamos (digamos assim) sobre a possibilidade de um jogador do Benfica jogar no lugar de um jogador do Sporting. Ou vice-versa. E damos por nós a contar quantos jogadores da formação do Benfica, do FC Porto ou do Sporting estão nos 23 de Fernando Santos. Felizmente, só 0,0000001014% dos portugueses têm o poder de decidir.