Era uma vez um menino. Mais alto que os outros, tão magro quanto os outros, muito mais rápido e muito mais habilidoso do que os outros. Em 1996, quando chegou ao Sporting, era tímido e fechado. Cerrou os dentes sem perder a esperança de vir a ser, um dia, um dos grandes nomes do futebol português. Assim andou durante seis anos, até que Boloni o chamou para a primeira equipa.
Nunca mais de lá saiu. Ou, antes, saiu um ano depois, para viajar para Manchester. Estávamos a 6 de agosto de 2003 quando o menino deu nas vistas em Alvalade. No banco dos red devils, um escocês mascava pastilha elástica e ouviu, no final do jogo, alguns dos seus jogadores, sobretudo Gary Neville, dizerem-lhe: «Contrate-o já!». Ferguson falou com quem manda no MU, estes puxaram do livro de cheque e, instantes depois, o Sporting ficou sem a sua pérola. Os seus cofres, porém, foram reforçados em 15 milhões de euros.
Já em Inglaterra, o miúdo quis a camisola 28, a que usava no Sporting. Ferguson torceu o nariz e deu-lhe a primeira reprimenda: «A tua é a 7», a mesma de Best, Robson, Cantona e Beckham. Nos primeiros três anos, o petiz ficou apenas com títulos menores: uma Taça de Inglaterra e uma Taça da Liga. Os prémios individuais, porém, sucediam-se: jogador disto, daquilo e daqueloutro. Quatro anos depois de ter chegado, apareceram as maiores honrarias: Campeonatos de Inglaterra, Liga dos Campeões e Campeonato do Mundo de clubes.
Uma das discussões mais empolgantes sobre futebol era, na altura, a resposta a uma simples pergunta: é ele já o melhor jogador do Mundo? O planeta dividia-se, mas a FIFA unia-se em torno de outros nomes: Ronaldinho Gaúcho, Cannavaro e Kaká. O craque do Manchester ia triste às festas da FIFA, pois sentia que era ele o melhor do Mundo. E começou a sonhar com três palavras: Madrid, Real, merengues.
Três vezes o miúdo sonhou, duas vezes os dirigentes dos red devils lhe cortaram o sonho: «ficas». Porém, cinco anos, dez meses e cinco dias depois de ter jogado, em Alvalade, frente ao Manchester United, o sonho deixou de fazer sentido. O Real Madrid gastou 94 milhões de euros e levou-o.
Vestiu de branco durante nove épocas e bateu todos os recordes. Os possíveis e os imaginários: 438 jogos, 450 golos, três La Ligas, mais três Mundiais de clubes, mais quatro Champions, mais quatro Bolas de Ouro, mais três Botas de Ouro, mais 63 golos na Seleção Nacional e, finalmente, um título de quinas ao peito - campeão da Europa!
Em 2018, aos 33 anos, sai de Madrid e arranca para Turim. Assina pela Juventus e por lá fica três anos. Mais recordes e títulos: duas Ligas, duas Taças, duas Supertaças, 101 golos em 134 jogos, melhor marcador da Serie A em 2020/2021 (29 golos).
Chateia-se e, no verão de 2021, regressa a Manchester. Muito boa primeira época (38 jogos, 24 golos), mau início de segunda (16 jogos, 3 golos). O Mundial do Catar até começa bem para CR7 (golo de penálti ao Gana), mas termina da pior maneira possível: Portugal eliminado, polémica com substituições, birras e entrevistas. Assina pelo Al Nassr em janeiro de 2023 e por lá continua, para já com um golo em três jogos. Comemora hoje o 38.º aniversário e, aconteça o que acontecer até finalizar a carreira, estará sempre no lote restritíssimo de melhores futebolistas mundiais de todos os tempos. Aqui fica o seu nome: Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, nascido a 5 de fevereiro de 1985.